Principal motivo de desavença entre índios e produtores rurais,
ainda há ao menos 196 terras indígenas a serem demarcadas pelo governo federal
no país.
Segundo a Funai (Fundação
Nacional do Índio), 81 terras --que juntas equivalem a área de dois Estados de
Sergipe -- precisam apenas ser homologadas pela presidente Dilma Rousseff.
A homologação, uma das últimas
etapas para reconhecer que uma área pertence aos índios, é atribuição exclusiva
do presidente e ocorre depois que a Funai e o Ministério da Justiça demarcam e
delimitam a terra.
Outras 115 áreas estão em
estudo e o governo não sabe a dimensão final que terão.
Em média, Dilma concedeu aos
índios menos terras do que seus antecessores.
Foram dez áreas (966 mil
hectares) reconhecidas por Dilma em 2011 e 2012.
Nos oito anos de governo FHC
(1995-2002), foram homologadas 145 áreas (41 milhões de hectares), ante 84 (18
milhões de hectares) na gestão de Lula (2003-2010).
DESIGUALDADE
O Brasil tem hoje 476 terras
indígenas em 105,1 milhões de hectares, o equivalente a um oitavo do território
brasileiro.
É como se os 896.917 índios que
vivem no Brasil tivessem, incluindo as reservas indígenas, quatro Estados de
São Paulo para viver.
Na média, são 117 hectares para
cada índio. Contudo, na prática, pesquisadores dizem não haver tanto espaço.
"A distribuição não é
igual. Na Amazônia é que há áreas enormes, bonitas, com recursos. Uma área
indígena não é um pedaço de terra para espremer uma família. É território para
reproduzir um modo de vida", diz a antropóloga Lucia Rangel, da PUC-SP.
Em Mato Grosso do Sul, foco da
crise indígena atual, há 38 terras para 77 mil índios.
Na reserva de Dourados, no sul
do Estado, 14 mil guarani-caiová vivem em 3.470 hectares. É como se quatro
índios fossem obrigados a viver e a plantar no espaço de um campo de futebol.
"Dentro das áreas
indígenas demarcadas a vida é insuportável porque o modo de vida indígena não é
favela", afirma Rangel.
O confinamento traz
consequências sociais, diz Tonico Benites, índio guarani-caiová e antropólogo
da Universidade Federal do RJ.
"A reserva é uma área
superlotada. Não tem como produzir alimento. É comum ver criança na rua,
pedindo comida", afirma o pesquisador.
Produtores rurais dizem que as
demarcações de terra pela Funai têm "viés ideológico" e que a
fundação desvirtua procedimentos de regularização das terras.
"A Funai começou a fazer
uso desse procedimento para criação de novas terras indígenas ou para a
ampliação das já demarcadas", diz Carlo Coldibelli, assessor jurídico da
Famasul, federação que representa produtores de MS.
Pressionado pelo setor
produtivo, o governo federal decidiu ampliar, até o fim do mês, o poder de
órgãos ligados à agricultura na demarcação de terras indígenas. A mudança reduz
o poder da Funai nesses processos.
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