Os trabalhadores chegam à noite e assumem suas posições diante do
torno. Em pouco tempo começam a voar faíscas e aparas metálicas, enquanto
cresce a pilha dos objetos produzidos: bombas improvisadas de morteiro para
serem disparadas através de canos resgatados de tanques do exército sírio
destruídos.
Em todo o norte da Síria,
oficinas de rebeldes, semelhantes a esta, fazem parte da rede clandestina de
instalações primitivas de produção de armas, uma das características de uma
guerra militarmente desigual.
Os produtos que saem das
oficinas --granadas de mão, suportes para metralhadoras, foguetes, bombas de
morteiro, bombas improvisadas e os explosivos de fabricação local colocados em
seu interior-- ajudam a formar o arsenal de uma força guerrilheira que sofreu
reveses sérios este ano em seu esforço para derrubar o presidente Bashar
al-Assad.
"Todo o mundo sabe que não
temos as armas das quais precisamos para nos defender", disse Abu Trad,
comandante da Frente dos Rebeldes Saraqib, pouco antes de receber visitantes
nesta oficina de projéteis de morteiro. "Mas ainda temos a vontade, temos
meios modestos e temos ferramentas."
O valor das armas produzidas
nessas oficinas, antes cruciais ao êxito dos rebeldes na conquista de
território no norte da Síria, pode ter decrescido substancialmente, ao mesmo
tempo em que Washington e seus aliados continuam relutantes em armar a
oposição.
Na primavera passada, quando
Assad estava tendo dificuldade para enfrentar a oposição armada que sua
repressão alimentou, oficinas como estas obrigaram as forças armadas sírias a
mudar de tática. As estradas estavam tão repletas de bombas escondidas
produzidas pelos militantes que o exército parou de se deslocar nas áreas com
presença rebelde mais forte, recuando para posições defensivas. As oficinas de armas
foram um sinal da organização nascente dos rebeldes e de sua habilidade letal.
Mas o governo já passou mais de
um ano reequipando suas tropas, o grupo libanês Hezbollah enviou reforços, e
Irã e Rússia continuam a manter supridas as forças de Assad.
Hoje em dia as forças do
governo se aventuram menos em patrulhas e hesitam em expor-se em postos de
controle pequenos, com isso reduzindo sua vulnerabilidade às bombas
improvisadas dos rebeldes. E a maioria das outras armas fabricadas nas oficinas
rebeldes não possui precisão, alcance ou poder explosivo suficientes para
expulsar o exército das posições onde está entrincheirado e desde onde os
soldados podem disparar de volta com saraivadas lançadas por armas mais
potentes e precisas.
Além disso, algumas das armas
de fabricação local tendem a apresentar erros de funcionamento que podem matar
aqueles que as manejam.
Mesmo assim, as oficinas de
armas continuam a ser um elemento importante da logística da oposição, já que o
fluxo de armas vindo do mundo árabe não é suficiente para suprir a demanda.
Embora a União Europeia tenha revogado no mês passado seu embargo à
transferência de armas para a oposição síria, muitos rebeldes dizem ver a
decisão como tática diplomática cuja finalidade seria pressionar o governo sírio.
Para eles, é pouco provável que a decisão resulte em envios de armas de
governos ocidentais no futuro próximo.
"Vivem prometendo
coisas", comentou o major Mohammad Ali, que comanda os combatentes no
norte da Síria dentro da grande formação rebelde Netos do Profeta.
"Estamos no terceiro ano do conflito e já tivemos muitas decisões do
Ocidente, mas nenhuma até agora resultou em ação."
Os rebeldes discordam quanto ao
valor dos projéteis de fabricação própria. Alguns os acham ótimos. Outros
observam que os foguetes e morteiros muitas vezes não disparam, ou então seguem
caminhos imprevisíveis. E as armas caseiras, disseram, não conseguem fazer
frente aos ataques que os rebeldes enfrentam.
Num front na região agrícola
árida ao norte de Hama, o comandante rebelde Khaled Muhammed Addibis apontou
para uma pilha de foguetes que seus homens tinham tentado lançar no dia
anterior. Os foguetes não tinham subido. Outros tinham se desviado do alvo, em
pleno voo. E nenhum tinha atingido o alcance esperado.
"Precisamos apenas de
armas eficazes", disse o comandante. "Armas eficazes. Nada
mais."
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