A palavra
“delator”, acompanhando o nome do norte-americano Edward Snowden, expressa
juízo de valor. Como substantivo ou adjetivo, tem sentido pejorativo. Ecoa a
campanha de desqualificação do governo dos Estados Unidos contra o ex-agente de
inteligência que denunciou semanas atrás um sistema de espionagem contra
compatriotas seus e cidadãos estrangeiros _inclusive no Brasil.
De acordo
com o “Houaiss”, um dos sinônimos de “delator” é “dedo-duro”, que significa
“aquele que serve de espião para a polícia”, “alcaguete”.
“Delator”
implica animosidade. É assim que o Departamento de Estado denominou Philip Agee
quando o agente rompeu com a CIA, Agência Central de Inteligência, nos anos
1970 e escreveu um livro revelando operações ilegais ou ilegítimas da
“companhia” na América Latina.
Ou como o
governo de Havana passou a se referir a Orlando Castro Hidalgo, funcionário da
Dirección General de Inteligencia. Baseado em Paris, o agente rompeu com Cuba
na década de 1960 e passou a trabalhar para os EUA.
Em ambos
os casos, “delator” equivalia a inimigo.
O
“Houaiss” também aceita “denunciante”, designação mais objetiva, como sinônimo
de “delator”. Mas a tradição consagra “delator” com o conteúdo de traidor.
Snowden
não traiu ninguém. Pelo contrário, não quis trair a sua consciência.
No
passado, o jornalismo não tratava o Garganta Profunda do escândalo de Watergate
como “delator”.
Nem as
fontes que ajudaram a derrubar Fernando Collor.
Há muitas
formas de caracterizar Snowden. “Delator” é a de quem o considera um mal. E
prefere que a arapongagem ilimitada de Washington permaneça em segredo.
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