Por mais que a independência do negócio internacional de investimento dos interesses nacionais de estados "maternos" seja postulada, não é segredo nenhum que o mercado de valores dos EUA é, por razões muito objetivas, o maior e o mais desenvolvido mercado nacional de valores mobiliários. Na verdade, ele nem sequer pode ser chamado de nacional – ele é o principal mercado mundial de títulos. Neste mercado há uma assimetria significativa em favor de países com as instituições financeiras mais desenvolvidas. No entanto, nem sempre o nível de desenvolvimento de instituições financeiras indica que na economia do estado está tudo rosado. E as agências internacionais de classificação de risco desempenham um papel bastante significativo na formação da situação global de investimento na forma em que a vemos hoje.

Essas agências são três: a Standard & Poor's, a Fitch e a Moody's. A primeira e a terceira agências são empresas públicas sediadas nos EUA e negociadas na Bolsa de Valores de Nova York, a segunda empresa na lista é uma empresa privada que, apesar de sua origem norte-americana, hoje tem raízes europeias muito fortes.

Existe ainda uma multidão de agências de classificação menores e departamentos de classificação de bancos de investimento internacionais, mas o clima no mercado é determinado justamente por este trio.

Enquanto os mercados estavam mais ou menos isolados um do outro, estava tudo bem. Mas hoje a situação mudou radicalmente, o que deu início a um sério diálogo global sobre mudanças no cenário mundial de classificação de risco e sobre sérias reformas do sistema de agências de classificação.

Qual é o problema? Primeiro, é o fato de que as corporações internacionais que controlam as "três grandes" agências de classificação são, basicamente, empresas soberanas e (já houve exemplos disso com títulos lastreados em hipotecas dos EUA) são capazes de influenciar significativamente as decisões sobre investimentos em determinadas ferramentas financeiras a despeito do quadro financeiro real dos acontecimentos. É uma questão de confiança, e essa confiança nas agências de classificação foi demasiada no final da década de 2000.

Em segundo lugar, os métodos de estabelecimento das classificações contêm, tipicamente, uma porção fechada bastante significativa – estimativas de especialistas e analistas que são usadas em cálculos nem sempre de forma transparente e sem ambiguidades.

Em terceiro lugar, o excesso de confiança nos sistemas de classificação de risco internacionais dilui a prática da gestão de risco na banca de investimento, substituindo-a pelo uso de informação de classificação externa. Isto, claro, aumenta consideravelmente o risco da tomada de decisões de investimento.

Em quarto lugar... Em quinto... Em sexto...

E, finalmente, não devemos esquecer que a classificação de qualquer empresa nacional, por definição, não pode ser maior do que a classificação do estado sob cuja jurisdição a empresa se encontra. E se, por exemplo, a classificação da Rússia (ou dos EUA ou da Alemanha) mudar para pior, em seguida, quase que imediatamente, todas as classificações de empresas russas serão revistas. Resumindo, tudo é muito difícil.

Hoje, são sugeridas opções para romper o impasse. O principal é a máxima abertura e transparência do sistema de classificação.

Empresas públicas e bancos serão obrigados a publicar suas avaliações pelo menos duas vezes por ano (esta é uma proposta de uma nova Provisão europeia sobre a regulamentação do setor de investimentos CRA III). Ao mesmo tempo, surgirá finalmente a verificação das metodologias de classificação – os reguladores financeiros terão o direito de exigir a divulgação de informações com base nas quais foram tomadas certas decisões de classificação.

Além disso, ainda recentemente aconteceu algo que, de momento, pode não ser tão significativo (os participantes não são os maiores, e muito provavelmente podem ter problemas com reconhecimento), mas pode vir a ser a pedrinha com a qual começará uma avalanche de reformas do sistema de classificação de risco.

No final de junho, três agências independentes de classificação – da China, dos EUA e da Rússia – fundaram a primeira agência de classificação não soberana do mundo. O objetivo da nova agência é mostrar a capacidade de criar e manter um sistema transparente e independente de classificações globais, baseada na exclusão total da avaliação de conflitos de interesses.

É óbvio que o mercado tentará pelo menos ignorar a iniciativa – a agência de classificação chinesa Dagong, um dos fundadores da nova estrutura, já há dois anos tem mostrado a classificação de crédito dos EUA ao nível da Espanha, e pode-se supor que as tecnologias de classificação no novo sistema não mudarão muito, se mudarem de todo. E isso significa uma séria redistribuição de carteiras de títulos para aqueles que começarão, em suas atividades de investimento, a apostar no novo serviço. E isso significa a diminuição da parte de títulos norte-americanos nas carteiras dos investidores.

No entanto, o processo já teve início. A primeira pedra rolou da montanha abaixo. Agora tudo depende de ser ou não possível pará-lo. Ou melhor, de ele poder ou não causar a avalanche que é tão necessária no mercado de investimento.

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