Protesto para lembrar os cinquenta anos da ditadura levou militantes ao domicílio do "capitão Ubirajara", “especialista em torturar mulheres”.
Manifestantes lembraram nesta terça-feira 1º os cinquenta anos do golpe civil-militar em frente à casa de Aparecido Laertes Calandra, acusado de torturar, matar e abusar sexualmente de militantes durante a ditadura. Em frente ao conjunto de casas onde ele mora, na Vila Independência, zona sul de São Paulo, o movimento Levante Popular da Juventude pendurou faixas e gritou palavras de ordem lembrando os abusos cometidos quando Calandra era conhecido como "capitão Ubirajara".
O protesto começou do lado de fora do conjunto de casas, onde os cerca de 100 manifestantes penduraram cartazes e picharam frases dizendo que um torturador morava ali dentro. Após pedidos, sem sucesso, para os moradores abrirem o portão, os militantes o abriram por conta própria.
Em frente à casa de Calandra, os militantes penduraram um cartaz com a inscrição “viemos libertar nossa história. Memória, verdade e justiça.” Os manifestantes permaneceram pouco mais de dez minutos em frente à casa de Calandra, que também foi pichada. No megafone, uma militante gritava: “a vizinhança agora vai saber: aqui mora um ex-torturador, que estuprou mulheres.”
Os vizinhos ali presentes disseram que sabiam se tratar de um delegado aposentado, mas não sabiam do seu passado na ditadura. Calandra, segundo eles, seria uma pessoa calada e reservada. Eles também diziam desconhecer o depoimento dado por Calandra na Comissão Nacional da Verdade, no mês de março, quando ele negou por mais de duas horas ter participado de qualquer seção de tortura. Na comissão, diversas testemunhas o reconheceram como torturador pela sua atuação no DOI-Codi, mecanismo de repressão da ditadura. Segundo o presidente da Comissão estadual de São Paulo, Adriano Diogo, “torturar mulheres era sua especialidade”. O Ministério Público Federal responsabiliza Calandra por homicídios, torturas e abusos sexuais.
Os moradores das casas pareciam não se importar com o passado do vizinho. Perguntada se sabia da presença de um torturador ao lado da sua casa, uma moradora disse: “Não, eu não tô nem aí. Ninguém aqui tem nada com isso. Eu quero saber de ditadura? Eu quero saber de educação e saúde. E desse portão.” Eles também criticavam os manifestantes. “E o bom senso que tinha? Falta aula de educação moral e cívica”, disse um vizinho, que se identificou somente como Roberto, sem dizer seu sobrenome para “não aparecer como filho da puta no noticiário”.
Para o Levante Popular, o portão da vila “é pouco” em relação ao que aconteceu na ditadura. Pouco antes de acabar o ato, uma militante dizia no megafone: “vizinhança, em relação ao portão, pode por na conta do torturador.”
Fonte: Carta Capital
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