O Curdistão iraquiano será independente. Esta é apenas uma das consequências da operação americana no Iraque, consideram os peritos. A marcha vitoriosa dos guerrilheiros do grupo Estado Islâmico do Iraque e do Levante até torna atual a questão: o Estado do Iraque continuará a existir no mapa do mundo?
A questão da integridade do Estado coloca-se com a mesma gravidade também perante a Turquia, onde a questão curda é, há décadas, o “tendão de Aquiles”.
Chegou um momento histórico para os curdos. Pela primeira vez durante a sua história multissecular, eles aproximaram-se ao máximo da criação do próprio Estado.
Desse modo os peritos comentam a declaração de Massoud Barzani a propósito da realização de um referendo sobre a independência. O líder dos curdos iraquianos acusou também Bagdá de fraqueza e incapacidade de resistir aos guerrilheiros do grupo Estado Islâmico do Iraque e do Levante, que já proclamaram a criação do califado no território do Iraque.
Segundo os peritos, hoje, muitos fatores jogam a favor dos curdos iraquianos: a continuação do conflito entre xiitas e sunitas, a fraqueza do poder central, o reforço dos islamitas, o início da própria exportação de petróleo, bem como o apoio que lhes foi dado da parte de parceiros ocidentais depois do derrube de Saddam Hussein.
Os curdos estabeleceram o controle em toda uma série de províncias no norte do Iraque e ocuparam Kirkuk, cidade rica em petróleo que foi abandonada por unidades militares do governo central. Deste modo, eles terminaram, de fato, a reunião das terras curdas no Iraque. Hoje, chegou o melhor momento para anunciar a independência, considera o perito Azhdar Kurtov:
“A atual situação no Oriente Médio, a tentativa impetuosa de desestabilizar o Iraque, a já declarada criação do Califado Islâmico no território do Iraque permitem aos curdos avançar para a proclamação da sua independência. A direção do Curdistão iraquiano declarou, durante muitos anos a fio, a possibilidade da realização de um referendo sobre a independência. Os seus destacamentos armados ocuparam a cidade de Kirkuk na fronteira das zonas curda e árabe do Iraque, que os curdos sempre consideraram sua. Trata-se de uma grande região petrolífera e, por isso, tem sentido lutar desesperadamente por ela. Segundo, o governo curdo em arbil realiza uma política externa separadamente de Bagdá, concluiu acordos com a Turquia de fornecimentos de petróleo. Resta dar apenas passos formais pouco significativos, proclamar a independência, aprovar a própria Constituição”.
A criação de um Estado curdo no Iraque pode provocar uma onda de agitação entre os restantes curdos que vivem no Irã, Síria e Turquia. Segundo os peritos, no território turco vivem certa de 20 milhões de curdos étnicos.
Para Ancara, a questão curda é uma dor de cabeça há já muitas décadas. Nos anos de 1980, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, criado por Abdullah Ocalan, realizada uma guerra de guerrilha contra as autoridades turcas. Só nos últimos tempos é que Ancara estabelece relações com os curdos, suavizando gradualmente as suas posições.
Não obstante, a Turquia receia seriamente que, depois da proclamação da independência pelos curdos iraquianos, os turcos anunciem a sua soberania. Então será difícil conservar a integridade do Estado, afirma o analista político Stanislav Tarasov:
“O atual regime não tem possibilidades de manter o poder em todo o território da Turquia se não realizar reformas político-administrativas muito sérias. É bem possível que, por questões táticas, os curdos façam uma aliança com Ancara e comecem a elaborar a sua visão do futuro dos curdos turcos, mas não lancem imediatamente um apelo ao separatismo entre eles. Isso será uma jogada tática. Mas, no futuro, se os acontecimentos se desenvolverem assim, se o Ocidente, os EUA e os seus aliados da OTAN continuarem a ter a mesma posição face ao problema, as tendências para a Turquia adquirirão um caráter destrutivo.
Hoje, na ordem do dia, coloca-se a questão da desintegração desse Estado ou da formação de um novo tipo de Estado em bases federais. É aquilo a que se chama “deixar escapar o gênio da garrafa”. Alí os alavitas apresentam as suas reivindicações e não é por acaso que se agudizou a questão armênia”.
Segundo os peritos, por enquanto, as perspectivas de criação do Grande Curdistão, que una territórios da Turquia, Iraque, Síria e Irã, não são grandes. Porém, hoje já se pode dizer que os curdos se transformam gradualmente numa séria força no Oriente Médio. Eles podem exercer influência no confronto entre árabes sunitas e xiitas.
Fonte: Voz da Rússia
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