terça-feira, 18 de junho de 2013

HADDAD SINALIZA REDUÇÃO DA TARIFA EM SP; SECRETÁRIO PROPÕE IMPOSTO SOBRE A GASOLINA DA BOMBA

 
O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, se comprometeu nesta terça-feira (18) a examinar a planilha de custos de transporte do município para "refletir no que eu poderia cortar de serviços para viabilizar a redução da tarifa". Ele, no entanto, não revogou o aumento durante a reunião do Conselho da Cidade, que foi praticamente unânime ao pedir a suspensão do novo valor de R$ 3,20.
Temos caminho [para a redução], mas isso passa pela desoneração dos tributos federais que incidem sobre o transporte público, como por exemplo o ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços] sobre o diesel, que já seria responsável por R$ 0,07 dos R$ 0,20 do aumento", disse.
Haddad também se mostrou favorável a examinar os lucros dos empresários das concessionárias de ônibus para "cortar gordura" e ressaltou que o imposto sobre a gasolina direta da bomba seria uma solução. "Se as prefeituras absorverem todo o impactos dos subsídios [tarifa],vão quebrar", destacou.
Durante a reunião, o secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, afirmou que a redução da tarifa custaria R$ 300 milhões para os cofres da cidade e propôs que o "usuário de transporte individual também precisa arcar com os custos do transporte coletivo, assim como a Prefeitura e os empresários." 
Para compensar a perda, ele defendeu a cobrança de um imposto sobre a gasolina direto da bomba. "Esse dinheiro poderia vir para o município e ajudaria a financiar o transporte público."
De acordo com Tatto, "não é possível espremer tanto assim os empresários das concessionárias de transporte para viabilizar a revogação do aumento", disse, referindo-se a afirmações feitas pelos conselheiros de que o lucro das empresas de transporte poderia financiar uma tarifa menor.
"Como cidadão, acho que quem deveria financiar o transporte público é o transporte individual. Além de melhorar a mobilidade, incentivando quem tem carro a usar o transporte público, já que a gasolina seria mais cara e as tarifas mais baratas, ainda existem os benefícios ecológicos do processo", disse Haddad sobre a proposta.
O prefeito disse que vai se reunir ainda nesta semana com representantes do Movimento Passe Livre. "Eu quis apresentar os dados para que todos saibam o que vai acontecer caso a cidade de São Paulo opte por revogar o aumento", afirmou.
Segundo Haddad, o valor que a Prefeitura perderia com a redução do valor da tarifa ou com o congelamento até 2016 seria suficiente para contratar 20 mil médicos ou dobrar a rede de hospitais. "A decisão precisa ser tomada com base em informações, e eu sinto que ainda há muito desinformação sobre o assunto. É preciso que a sociedade saiba quais as consequências de cada decisão", declarou.
Ele ressaltou também que não quer a desmobilização dos protestos contra o aumento. "Está lindo vocês nas ruas. É vibrante um país que vai para as ruas."

Conselho pede redução da tarifa

A maioria dos integrantes do Conselho da Cidade, criado por Haddad no início do mandato dele, pediu a redução da tarifa do transporte público na capital paulista durante reunião extraordinária realizada hoje. O encontro aconteceu na prefeitura, na região central de São Paulo.
O conselho tem caráter apenas consultivo, mas entre os membros do grupo há um sentimento de que se o prefeito for contra um decisão unânime é o caso de repensar a função do comitê. Em resposta, Haddad disse que vai ouvir "todo mundo para não fazer nada precipitado" e ressaltou que não  criou o conselho para "inglês ver".
A arquiteta e urbanista Raquel Rolnik criticou o poder que as concessionárias de transporte têm nas decisões. "É preciso suspender o aumento [das tarifas do transporte em São Paulo] imediatamente e rediscutir o modelo da concessão de transportes. O que os protestos nas ruas estão dizendo é 'queremos participar ativamente do processo decisório.'"
Outro integrante do conselho, o jornalista e blogueiro do UOL Leonardo Sakamoto, também defendeu a suspensão do aumento das tarifas, que elevaram o preço do transporte coletivo em São Paulo de R$ 3,00 para R$ 3,20. "O primeiro passo é a revogação do aumento e, depois, a discussão e os debates sobre o modelo", afirmou. "Existem várias fontes de onde a prefeitura pode tirar recursos, como, por exemplo, aumentar o IPTU de estacionamentos", disse.
De acordo com o conselheiro Luís Carlos Bresser, a prefeitura precisa aproveitar o momento de licitação das empresas de transporte para limitar a taxa de lucro das companhias. Sônia Coelho, também conselheira, questionou se o valor gasto pelo governo com gás lacrimogêneo e balas de borracha não poderia suprir os custos da prefeitura com a redução da tarifa. 
O Conselho, que é formado por representantes de movimentos sociais, sindicatos e associações empresários, além de intelectuais, artistas, políticos, lideranças religiosas e jornalistas, tem o objetivo de acompanhar o plano de metas da atual gestão, analisar a revisão do plano diretor, entre outros temas.
Entre os conselheiros estão Odilo Scherer, cardeal arcebispo de São Paulo, Juvandia Moreira Leite, predidente do Sindicato dos Bancários, Fernando Quaresma, presidente da Associação da Parada com Orgulho LGBT, Murilo Portugal, presidente da Febraban, Oded Grajew, fundador do Instituto Ethos e coordenador geral da Rede Nossa São Paulo, Viviane Senna, presidente do Instituto Ayton Senna, Eugênio Bucci, jornalista e professor da USP, entre outras cerca de 150 pessoas.

IPTU

Mais cedo, Haddad afirmou que dobrar o valor do IPTU não seria suficiente para zerar a tarifa do transporte público da capital paulista, como quer o Movimento Passe Livre (MPL), que também participa do encontro. De acordo com ele, a medida cobriria apenas 50% do valor. "Isso porque 60% dos impostos estão vinculados a saúde e educação, de acordo com a Constituição Brasileira", disse.

Dinheiro para a Copa

Para Mayara Vivian, uma das líderes do MPL, "se há dinheiro para estádios, há dinheiro para o transporte". Segundo ela, a decisão do aumento da tarifa é política. "Não acreditamos que seja uma questão só de remanejar impostos. O modelo de transporte e o papel dos empresários precisa ser revisto".
Haddad havia afirmado antes da fala do MPL que nos países desenvolvidos os empresários são responsáveis por subsidiar um terço do valor da passagem. De acordo com o prefeito, em São Paulo, esse valor é de apenas 10%.

Referendo

Durante a reunião, a Rede Nossa São Paulo apresentou um documento sugerindo que o valor da tarifa e o modelo do transporte público seja definido em um referendo.
A rede também quer que seja criado um conselho municipal de transporte junto à Secretaria Municipal de Transporte para apresentar em 60 dias um estudo com as principais propostas para um Plano de Mobilidade e Transportes Sustentáveis. Posteriormente, o plano deverá ser apresentado e discutido com a população.
O documento da rede também cobra que o Governo Federal entre no rateio dos custos para priorizar o transporte público, "posto que já contribuiu bastante para financiar e subsidiar o transporte individual".

Entenda

Que se os usuários de transporte público deixarem de pagar passagens, como pede o Movimento Passe Livre, esse dinheiro terá que vir dos cofres da cidade. Haveria duas formas de obtê-lo: cortando custos em outros setores ou aumentando impostos. 
Quando a Prefeitura de São Paulo propôs a extinção da tarifa de transporte público em 1990 (na gestão Luiza Erundina, então do PT), a previsão era que o dinheiro sairia do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), cobrado de quase 2 milhões de proprietários de imóveis na cidade.  Essa é a fonte mais óbvia para os recursos, porque atinge de forma uniforme quem mora ou tem uma empresa na capital.  
As outras formas de arrecadação da prefeitura são direcionadas a parcelas específicas da população, como o ISS (cobrado de quem presta serviços) ou taxas de fiscalização. Mas, para compensar o fim da tarifa, seria preciso, segundo cálculo da Folha, praticamente dobrar o valor do IPTU, ou seja, passar dos pouco mais de R$ 5 bilhões arrecadados em 2012 para algo como R$ 9,7 bilhões (mais 92%).
Esse acréscimo, da ordem de R$ 4,62 bilhões, é quanto se arrecadou no ano passado com as tarifas do transporte público --o sistema consumiu R$ 5,69 bilhões, mas pouco mais de R$ 1 bilhão foi pago diretamente às empresas pela prefeitura, o chamado subsídio. Quem paga hoje R$ 1.000 por ano de IPTU, por exemplo, passaria a pagar R$ 1.920.  
O aumento não atingiria diretamente moradores mais pobres, hoje isentos desse tributo --é o caso, por exemplo, de quem tem imóvel com valor venal de até R$ 73.850 ou pensionistas e aposentados do INSS beneficiados pela isenção. Indiretamente, no entanto, a conta pode acabar sendo repartida por todos, pois empresas instaladas no município teriam seus custos aumentados e tenderiam a repassá-los para seus preços.
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