Dois anos depois desta intervenção, em 1976, o Brasil anunciou o início da realização do seu programa nuclear. Os documentos a que naquela época se tinha acesso indicaram que as pesquisas nucleares tinham um caráter pacífico. Todavia, as atuais investigações revelam que nos arquivos secretos existiam documentos que admitiam "desenvolver uma tecnologia para a utilização da explosão nuclear para fins pacíficos, o que nos permitirá, inclusive, se necessário, dispor de nossa própria arma". Foi precisamente este o teor da declaração do presidente Geisel. Quarenta anos depois, esta sua declaração vai passar a ser do domínio público.

Durante os 130 anos da sua história, o Brasil nunca foi implicado em nenhum conflito militar que eclodisse nas proximidades das suas fronteiras. O país nunca teve adversários patentes ou potenciais no continente. Geisel alega as ambições nucleares da Argentina que na década de 70 também era governada por generais. No entanto, existiam grandes dúvidas de que os cientistas argentinos, que trabalhavam sob o controle dos militares, conseguissem criar não apenas uma bomba atômica, mas o processo tecnológico de criação da arma nuclear. Para a economia debilitada da Argentina, em que a inflação chegava a 1.000%, esta tarefa era impossível.

O Brasil receava ou estava de sobreaviso pois a "Argentina tinha acesso mais fácil ao urânio do que o Brasil". Existia também um outro fator: o Brasil simplesmente não queria ceder ao seu vizinho na competição militar. Os arquivos desclassificados revelam que no Brasil foi criada toda uma rede encarregada de recolher informações sobre os países vizinhos. Tudo isso consta do "Plano de Busca Número 1".

A tarefa era clara: fornecer ao governo brasileiro informações estratégicas e secretas sobre os países da América Latina, deixando apenas EUA e Canadá de fora do plano. O documento mostra que essa missão caberia não apenas a adidos militares brasileiros no exterior, mas também ao Itamaraty.

Uma detalhada planilha, chamada de "Apêndice Número 1 ao Plano de Busca Número 1" explica o que cada órgão de inteligência deveria investigar nos países vizinhos.

Fosse qual fosse este plano, uma coisa está clara: os brasileiros temiam muito uma guerra no Cone Sul. Mais uma prova disso é o depoimento do vice-almirante Ibsen Câmara, que era na década de 70 secretário do chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas: "O temor grande de uma batalha no Cone Sul não vinha tanto pelo poderio do rival, mas da fraqueza das tropas brasileiras, como admitem na transcrição de suas conversas os militares presentes no encontro de 1978. Talvez o maior proveito desse trabalho de planejamento, na fase em que está, tenha sido o de nos permitir uma visão panorâmica do despreparo militar do Brasil".

As ambições militares do Brasil naquela época eram condicionadas por mais um momento importante: a matriz energética. As grandes jazidas de petróleo ainda não haviam sido prospetadas e a economia do Brasil necessitava de energia. Por isso, a questão da indústria nuclear para a geração de energia estava pendente. A atividade neste plano dos gigantes da envergadura da China e da Índia não permitia à direção político-militar do Brasil dormir tranquilamente.

Em 1976 foi dado início, com a ajuda da Alemanha, à construção de três centrais atômicas. Até o presente momento já foram construídas duas. Mas, neste lapso de tempo, o Brasil assinou o Tratado sobre a proibição de armas nucleares na América Latina e, em 1998, assinou também o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares. Além disso, a atual Constituição do Brasil proclama a renúncia à possibilidade de desenvolver o seu próprio programa nuclear militar. Porém, o desejo de ser mais forte e de ser um país mais evoluído tecnologicamente impele, por exemplo, a atual direção do país a criar dois submarinos atômicos, que devem ser lançados à água até o ano de 2023.


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