segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

ARTE SOCIAL CHINESA: PROVOCAÇÃO É SEU CREDO


Em 5 de fevereiro de 1989, em pleno coração da capital chinesa soaram dois tiros. Os visitantes da exposição dedicada à arte contemporânea da China olhavam, assustados, para uma jovem moça com uma arma fumegante na mão. Foi uma performance da estudante do Instituto de Arte de Xangai Xiao Lu. Concluindo a história sobre sua obra chamada "Diálogo", a jovem artista baleou a pintura duas vezes com uma pistola. Em seguida, a polícia invadiu o prédio. A exposição foi declarada encerrada apenas algumas horas após sua abertura. No entanto, as autoridades não conseguiram silenciar o fato. E foi assim que o mundo soube da arte social chinesa.

Uma cara bondosa com um sorriso aberto. Era assim que retratavam os cartazes de propaganda da época da Revolução Cultural o primeiro presidente da República Popular e líder do Partido Comunista da China (PCC) Mao Zedong. Na altura, qualquer manifestação de individualidade criativa poderia ser percebida como "contra-revolução".

As pré-condições para o surgimento de novas tendências na arte começaram a tomar forma na China após a morte de Mao Zedong, em 1976. Assim emergiu, gradualmente tomou forma e tornou-se popular na década de 1990 a tendência na arte chamada de arte social chinesa (arte política). A revolta contra o dogmatismo, as ações e pensamentos de estêncil – são as principais ideias dos artistas nessa direção. A arte social chinesa combinou a arte pop norte-americana de Andy Warhol e realidades chinesas. Suas ferramentas sao a ironia, o grotesco, a livre interpretação de eventos, o eclético.

Na pintura chinesa moderna a arte social está representada por obras de uma variedade de artistas. Zhang Xiaogang é considerado um icônico representante desta tendência. Em suas obras, o artista demonstra a natureza coletiva da sociedade chinesa. Todas as pessoas em suas pinturas são parecidas umas às outras e têm a mesma aparência calma. Como diz Zhang Xiaogang, sob a máscara de calma de seus personagens se escondem tensão emocional, sentimentos profundos. Mas os personagens dos retratos de outro artista chinês – Yue Minjun, – por contraste, se riem com todos seus trinta e dois dentes. O próprio artista aparece muitas vezes nas pinturas. Estes são seus retratos grotescos. Na vida real, Minjun raramente sorri. "Eu quero esconder os maus pensamentos e sentimentos por trás de um sorriso, como o fazem muitos chineses", diz o autor. Os personagens de Minjun sorriem na praça Tiananmen, ao lado de retratos do grande líder chinês – Mao Zedong. Segundo a sinóloga, pesquisadora do Instituto de Etnologia e Antropologia (IEA) da Academia de Ciências russa, Olga Kurto, "brincar" com atributos políticos, e ainda mais com a imagem de Mao Zedong, se está tornando moda:

"Os artistas não querem trabalhar só para guardar suas obras na gaveta", diz Olga Kurto. "A provocação está se tornando seu credo. E o que pode ser mais provocante na sociedade chinesa do que brincar com figuras ou atributos políticos reconhecíveis! E Mao Zedong se torna a forma mais marcante. Para um mestre ele é um ganha-ganha. Por um lado, isso causa um quente debate na sociedade chinesa. Por outro, Mao é uma imagem também conhecida no Ocidente. Há curiosidade em saber o que fazem com a imagem do líder em sua terra natal?! No exterior começam a falar sobre o artista, juntamente com a fama ele obtém a possibilidade de expressar seus sentimentos e pensamentos sobre a tela. A personalidade do artista é muitas vezes percebida como um "prisioneiro da consciência", uma vítima que é perseguida na pátria."

O primeiro a começar a experimentar com imagens tradicionais de Mao Zedong foi Wang Guangyi. Ele sobrepôs linhas pretas sobre uma imagem de Mao tomada de cartazes de propaganda, e substituiu o comum fundo vermelho radiante pelo cinza. "Wang Guangyi fez os espectadores olhar de forma nova para uma imagem que tanto tempo era considerada como o líder e Deus", comenta o trabalho do artista Olga Kurto. Seu trabalho foi apresentado justamente naquela exposição em Pequim, em 1989. 20 anos depois, em 2009, o quadro de Wang Guangyi "Mao" será vendido num dos leilões de Londres por 4,1 milhões de dólares.

As contradições e a ambiguidade das avaliações quer do próprio Mao, quer de suas ações, fazem um terreno fértil para reflexão e pesquisa de artistas. O escultor e pintor Huang Yan, por exemplo, põe padrões de pintura chinesa tradicional em retratos e bustos do grande líder dos chineses. O fotógrafo Tian Taiquan faz séries de fotos em que seus modelos estão enterrados com a cabeça em crachás e pequenos livros vermelhos com citações de Mao. "Esta é a minha interpretação da década da Revolução Cultural", diz o fotógrafo.

Segundo observações de Olga Kurto, artistas de arte social muitas vezes escolhem uma única imagem e trabalham com ela durante um longo tempo:

"Artistas deixam de aspirar à diversidade, eles simplesmente substituem o ambiente. Assim, a fotógrafa Shi Xinning adiciona a fotografias conhecidas do século passado uma imagem do líder chinês - Mao Zedong e a rainha inglesa, Mao Zedong com Winston Churchill, Theodore Roosevelt e Josef Stalin na Conferência de Yalta... O jovem artista Zhou Lu trabalha no espírito do anime, descrevendo um bebê careca com atributos políticos. Os irmãos Gao se tornaram notórios por uma série de esculturas de Mao. Goste ou não, muitos artistas chineses contemporâneos não são originais em sua forma de fazer arte. Eles passam muito tempo trabalhando seu estilo pessoal, e depois simplesmente copiam e replicam essas imagens de trabalho em trabalho."

Os artistas chineses que trabalham na direção de arte social, em casa são conhecidos em círculos bastante estreitos. Seus trabalhos são exibidos em pequenas galerias privadas, em distritos de arte de Pequim, Xangai e Hong Kong. Por outro lado eles são alegremente recebidos em bienais internacionais de arte contemporânea em Berlim, Veneza, São Paulo e, mais recentemente, também em Moscou.

O sucesso no exterior de alguns artistas causa uma reação mista na China. Reconhecendo Mao Zedong como um grande político que cometeu erros, muitos não estão dispostos a aceitar obras de arte que são tão diferentes das imagens canônicas do primeiro presidente da China. No entanto, o tempo, de uma forma ou de outra, sempre faz as novas gerações repensar os símbolos e imagens familiares.

Fonte: Voz da Rússia 

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