segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

VÍRUS HIV GANHA FORÇA POR OBRA DE VÁRIOS RESPONSÁVEIS


Não há mais que tergiversar, usar eufemismos ou se fingir de morto, tão ao gosto dos brasileiros para situações graves que ninguém quer assumir. Quando o caso afeta a saúde pública, como na nova escalada da AIDS que se projeta, é preciso dar nomes aos bois. Mesmo que os principais responsáveis não se voltem a mexer, ao menos a opinião pública saberá quem pressionar.

Os números dos infetados com o vírus HIV voltaram a assustar. Há uns dias, o Ministério da Saúde estimou em 718 mil os portadores, com 20% deles (140 mil pessoas) desconhecendo a contaminação. As estatísticas podem até ser maiores.

Entre os que se desconhecem como portadores, muitos hão naturalmente porque não fazem o teste, por medo, preconceito, por acharem que não estão nos grupos de riscos ou por absoluta ignorância. Entre os soropositivos, há até aqueles que vagam por aí até há morte ou falência quase total sem que tenham sido diagnosticados oficialmente. Também por ignorância, porém na maioria por descaso no atendimento público – eis, então, um dos responsáveis.

O médico Veriano Terto Jr., professor da UFRJ e especialista em AIDS no sistema de saúde nacional, relatou ao jornal O Estado de S. Paulo(8/12) duas “maratonas macabras” registradas em hospitais cariocas. Em uma delas, um sujeito perambulou por várias unidades já nos estertores da doença até ser internado de emergência, enquanto na outra uma mulher soropositiva também bateu de porta em porta por dias até ficar cega totalmente.

Em que pese a redução do número de mortos de 2001 a 2012 em 38,9%, segundo relatório da UnAIDS (agência da ONU), obra da distribuição gratuita de retrovirais e que fez do Brasil exemplo mundial, até por isso houve acomodação nas campanhas de prevenção. Tanto que nesse período a agência da ONU observa o aumento dos infetados em 23,3%, maior do que os 17,6% verificados mundialmente, incluído aí a epidemiológica África. Precisa dizer mais?

Na soma dos responsáveis, prefeituras e os governos estaduais e federal – sobretudo o último, com gordas somas para verbas publicitárias até de bobagens de cunho apenas político -, também já co-responsáveis pela patética oferta de atendimento médico.

E agora, no afogadilho do desastre que pode reviver parte da epidemia dos anos de 1980-1990, corre-se com o aumento da distribuição dos remédios que ajudam a prolongar a sobrevida e até estabilizar os pacientes, mas especialmente com a nova campanha "Para viver melhor, é preciso saber".

Obviamente, peças publicitárias com musiquinhas graciosas, simpáticas, sem a contundência que o caso merece, como sempre acontece: doura-se a pílula como se todos fôssemos cidadãos sujeitos a impactos psicológicos negativos.

Melhor que nada, claro.

Colaborou para o relaxamento do alerta à população o conservadorismo dos políticos, por atitudes, valores ou religião. Outros responsáveis, que na moeda de troca de apoio – velado ou aberto - aos sucessivos governos federais, derrubaram estratégias de combate à AIDS.

No Congresso Nacional, o avanço da bancada evangélica, que criminaliza o sexo, mais ainda o de orientação homossexual, influenciou o governo a silenciar as campanhas publicitárias e abandonar a distribuição do kit anti-AIDS. "Há um clima de pânico conservador, que não pode falar mais nada que venha a irritar a bancada evangélica", resumiu Terto Jr., por 23 anos integrante da Associação Brasileira Interdisciplinar da AIDS.

Primeiro, pensa-se em não desagradar os doutos legisladores – diga-se também os de outras orientações -, garantir uma mãozinha eleitoral e rezar para que o problema não cresça. O vírus HIV não atendeu às preces.

Na ponta extrema, há os responsáveis diretos pela disseminação mais latente hoje. Os que não se usam preservativos, seja por que não foram ou são atingidos pelas abordagens de prevenção, por ignorância ou por responsabilidade criminosa, sim.

Entre os idosos com mais de 60 anos, de ambos os sexos, a incidência cresceu substancialmente, como reflexo, entre outros, da popularização das drogas contra a impotência. A possibilidade de melhor qualidade de vida nessa idade, resultando no aumento das parcerias, aliou-se ao desconhecimento dos métodos de prevenção ou à busca de testes preventivos – neste caso por preconceito ou vergonha – ajudando a espalhar o vírus.

Mas o que voltou a preocupar é a expansão da incidência do vírus entre os homens jovens, bissexuais e homossexuais. Com a maior liberdade de assumirem suas orientações sexuais, um novo boom de pontos de encontros em cidades de qualquer porte, o apoio e a legitimação a partir de grupos organizados e não-organizados, a doença também fez escala novamente entre eles.

Nem de longe é o caso de voltar a estigmatizar a AIDS à comunidade LGTB, mas só não vê quem não quer. Nas contas do Ministério da Saúde lê-se: há 21 anos, 25,2% dos homens entre 14 e 25 anos que faziam sexo com outros homens estavam infectados, neste ano o percentual dobrou.

A maioria, como bem lembrou em artigo (O Estado de S. Paulo, 8/12) o psiquiatra Jairo Bouer, se afasta da proteção, do teste e mesmo do tratamento, por preconceito e violência de parte da sociedade. Outra parte não foi atingida pelas risíveis ou ausentes campanhas. Outra parte, independente do tamanho, é também responsável, porém consciente e, por que não, criminosa, pois na pressa do prazer, sob efeito de álcool e drogas, relegam o preservativo.

Isso vale, também, para casais heteros. No cômputo geral, como lembrou a professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Maria Martha Ferreira Jeukens, em entrevista ao site IG,"no afã de ter prazer, as pessoas minimizam os riscos que correm ao não usarem preservativos. Se você perguntar por aí, a maioria das pessoas não usa camisinha".

Portanto, se há uma epidemia se evidenciando na região de Porto Alegre, onde estão 15 das 20 cidades brasileiras mais afetadas pelo HIV, ou se no médio para pequeno município de Araraquara, no interior de São Paulo, o número de mortes de janeiro a julho superou o total de 2012, é porque o rastilho não se apagou.

E, com isso, não se vence uma das faces mais dolorosas: a transmissão vertical, de mãe para filho.

Diz-se que uma geração dura 30 anos. Em 2013 se completa 30 anos da descoberta da doença.

Fonte: Voz da Rússia

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