O partido de extrema esquerda Syriza venceu as eleições gregas deste domingo, o que coloca o país em uma possível rota de colisão com outros membros da União Europeia.
Com quase 75% dos votos apurados, o resultado indica que o Syriza conseguiu 36% dos votos, enquanto o Nova Democracia, do atual primeiro-ministro Antonis Samaras, ficou com 28%.
Outros cinco partidos - incluindo o Aurora Dourada, de extrema direita, e o centrista O Rio - também terão representação no parlamento.
Ainda não há certeza, porém, sobre se o Syriza precisará fazer uma coalizão com outros grupos políticos para governar.
Com esses 75% de votos apurados, a estimativa é que o partido tenha 149 cadeiras no parlamento - duas a menos do que o necessário para conseguir maioria absoluta.
"Hoje os gregos fizeram história", disse o líder do Syriza, Alexis Tsipras, em um discurso em que defendeu que os eleitores deram ao partido "um mandato claro e poderoso".
"A troika é coisa do passado para os gregos", completou, referindo-se a União Europeia (UE), Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Central Europeu (BCE) - principais credores internacionais da Grécia, que têm imposto ao país medidas como cortes de gastos públicos e aumentos de impostos.
Samaras admitiu a derrota e telefonou para Tsipras para parabenizá-lo.
"Os gregos se pronunciaram e eu respeito a sua decisão", disse, mais cedo.
Segundo o atual premiê, seu partido teria perdido a votação porque herdou uma "batata quente" do governo anterior, mas se empenhou em arrumar as finanças do país.
Incertezas
Esta é a primeira vez que um partido antiausteridade deve tomar o poder na zona do euro e há muita incerteza sobre como ficará a relação entre a Grécia e o resto da União Europeia daqui para frente.
Syriza promete rever medidas de austeridade adotadas nos últimos anos
Além disso, analistas acreditam que, com a eleição do Syriza, outros partidos de extrema esquerda europeus podem ganhar fôlego - como o Podemos, na Espanha.
"Está claro que temos uma vitória histórica, imbuída de uma mensagem que interessa não só ao povo grego, mas a todos os europeus", disse Panos Skourletis, porta-voz do partido, a emissoras de TV gregas.
Entre as propostas de Tsipras estão uma renegociação da dívida externa da Grécia, que atualmente corresponde a 175% do seu Produto Interno Bruto (PIB), e a reversão das medidas de austeridade adotadas pelo país como parte dos acordos com UE, BCE e FMI.
Nos últimos anos, a economia grega encolheu 25%, o desemprego chegou a 26% (sendo de 50% para os jovens) e milhares de gregos caíram para abaixo da linha da pobreza.
O descontentamento com esse cenário foi o que impulsionou o apoio ao Syriza.
Divergências
Segundo Samaras, o ajuste fiscal e monetário grego já estaria dando resultados - uma vez que a Grécia conseguiu sair da recessão e está fazendo um superávit orçamentário.
Já Tsipras diz que engolir essas medidas foi uma "humilhação" para o povo grego e os custos sociais e humanos da austeridade passaram do limite do aceitável.
O líder do Syriza é um político relativamente jovem (tem 40 anos) e bastante carismático.
Ele também promete aumentar o salário mínimo, restaurar a eletricidade em locais em que ela foi cortada e ampliar a cobertura de saúde para quem não pode pagar.
Seus críticos, porém, duvidam que Tsipras poderá cumprir todas essas promessas, segundo o editor de Europa da BBC, Gavin Hewitt.
Também é possível que o Syriza tenha dificuldade para formar um governo de coalizão se não conseguir maioria absoluta nas urnas - já que seus integrantes têm dito que não pretendem se aproximar daqueles que veem com bons olhos políticas vindas da Europa.
Fonte: BBC Brasil
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