Inconformado com a perda de terras férteis para a erosão, o agricultor Herbert Bartz viajou à Europa e aos EUA nos anos 1970 em busca de um sistema que permitisse a conservação do solo.
Quando
começou a plantar sem retirar da terra a palha da safra anterior, foi tachado
de louco. Hoje o plantio direto está em 85% da área plantada no país.
Sem
diploma universitário, ele recebeu nesta semana, por ter consolidado o Brasil
como referência mundial em plantio direto, o título de doutor honoris causa da
Universidade Estadual de Londrina.sci em Rio do Sul (SC), em 1937.
Sou filho de alemães. Minha mãe era en
Quando
tinha um ano, fomos morar na Alemanha para minha mãe tratar uma doença no
coração. A ideia era logo voltar ao Brasil. Mas, quando acabou o tratamento, a
Segunda Guerra Mundial havia começado. Fomos impedidos de deixar o país.
Em
1945, meu pai foi convocado pelo exército alemão e enviado à Rússia. Foi
capturado e feito prisioneiro. Com minha mãe e quatro irmãos, fomos morar em
Dresden, com meus avós maternos.
Na noite de 13 de fevereiro houve um grande bombardeio aéreo dos
aliados a Dresden. A cidade inteira foi incendiada. Ficamos no porão de uma
casa. Éramos 15. O calor chegava a 80ºC por causa do fogo na parte externa.
Sobrevivemos porque senhoras jogavam água sobre a gente.
Quando
saí, vi esqueletos queimados sobre o asfalto.
Meu
pai foi libertado da Rússia em 1948, pesando 44 quilos. Minha mãe morreu em
1958 e meu pai decidiu que era o momento de buscar prosperidade no Brasil.
Abandonei a faculdade de engenharia hidráulica no primeiro ano e chegamos em
1960.
Em
Rolândia (PR), comprou um sítio, que chamou de Rhenânia, região da Alemanha
onde vivíamos.
O café era o produto principal do norte paranaense. O sítio tinha
5.000 pés. Colhemos e erradicamos os cafezais. Percebemos que não nos
adaptaríamos ao trabalho braçal que o café exigia.
Passamos
a criar porcos e a plantar milho, arroz e trigo. Em 1964, comprei o primeiro
saco de semente de soja.
Mas
a prosperidade não chegava. Havia geadas e doenças como a febre aftosa.
Meu
pai desanimou. Insisti em viver da terra. Em 1966 ele arrendou o sítio para
mim. Investi em máquinas, arrendei terras dos vizinhos e passei a trabalhar
mais ainda.
Porém
as grandes perdas com a erosão me aborreciam muito. A prática era preparar o
solo, deixando-o nu para fazer o plantio, e a cada chuva a terra era levada para
os rios.
Numa
noite de outubro de 1971, constatei que ou essa situação mudava ou não daria
mais. Uma grande chuva estava se formando. Sempre que isso acontecia eu não
conseguia dormir. Levantei e fui olhar a lavoura.
Foi
uma tromba-d'água. Vi a água levando a terra e sementes recém-plantadas.
No
Brasil, não havia solução para a erosão. Tinha que ver fora do país.
Na
Alemanha não encontrei nada. Na Inglaterra vi agricultores que colhiam trigo e
deixavam a palha no chão, mas a queimavam para plantar a safra seguinte, por
causa dos maquinários que tinham. Não gostei.
Nos
EUA, visitei o produtor Harry Young, que já plantava no sistema de plantio
direto havia dez anos.
Vizinhos
dele plantavam no chão coberto com palha. Fiquei eufórico, convencido de que
ali estava a solução para o meu problema.
Encomendei
uma semeadora própria para plantio direto. A máquina chegou ao Brasil em
outubro de 1972.
LOUCO
Quando
me viram plantando soja sobre a palha do trigo, os vizinhos me chamaram de
louco. Até agrônomos e institutos de pesquisa se posicionaram contra mim.
Chegaram a atear fogo à palha que deixei sobre o solo.
Surpreendentemente
fui bem, com quase 30 sacas por hectare. Parte da safra chegou a ser embargada
pela PF, pois um agrônomo denunciou que a soja era ilegal.
Em
1973, o preço do diesel disparou com a crise do petróleo. Passaram a se
interessar pelo que fazia, porque o plantio direto economiza combustível, pois
não é preciso fazer o preparo do solo.
Foram
aparecendo herbicidas que matavam só as invasoras e máquinas mais eficientes
para cortar a palha e fazer o plantio. Em 1977, já colhia 50 sacas por hectare.
E o solo ficava mais fértil.
Aos
poucos, colegas foram aderindo ao sistema.
Tenho
certeza de que é possível, com o plantio direto, recuperar áreas degradadas.
Não destruímos mais a terra, conseguimos construi-la.
Vão
me homenagear com título de doutor. Eu que nem tenho diploma universitário.
Sinto-me honrado e feliz.
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