Pelo menos 2.000 pessoas participaram do quarto
protesto contra o aumento do valor das passagens no Rio de Janeiro de R$ 2,75
para R$ 2,95 (desde o dia 1º de junho)na noite desta quinta-feira
(13). Durante a maior parte do tempo, o protesto foi pacífico, mas por volta
das 21h houve confronto de alguns manifestantes com a Polícia Militar na Avenida
Presidente Vargas, no centro da cidade. Prédios foram pichados e 18 pessoas
foram detidas. A Tropa de Choque usou bombas de gás lacrimogêneo para conter os
manifestantes, que atearam fogo a pneus e em sacos de lixos.
O estudante Philippe
Brissant de Andrade Lima, 19, foi levado para o Hospital Municpal Souza Aguiar,
no centro do Rio, após ser atingido por um tiro de bala de borracha no olho.
Ele foi encaminhado ao centro cirúrgico do hospital. Um PM do 5º BPM também foi
encaminhado ao hospital após levar uma pedrada na cabeça, mas foi liberado em
seguida.
Segundo a Polícia Civil,
os detidos foram encaminhados para a 5ª DP (Mem de Sá). Ao menos quatro serão
autuados: dois por desacato, um por lesão corporal e um porque portava uma
mochila com pedras portuguesas --para a polícia, os objetos seriam atirados nos
policiais.
Por volta das 18h, os
manifestantes fecharam a avenida Presidente Vargas, no centro da cidade. Para
acompanhar a manifestação, cem policiais militares do 5º BPM (Praça Tiradentes)
foram deslocados, e outros 120 PMs do Batalhão de Choque ficaram de prontidão
no quartel.
Os manifestantes ficaram concentrados na
Candelária, no cruzamento das avenidas Rio Branco e Presidente Vargas, as duas
principais da região central da cidade, por cerca de uma hora. Às 18h, portando
cartazes e apitos, começaram a caminhar na direção da Cinelândia, onde o protesto
deve terminar. Na Avenida Rio Branco, que foi totalmente fechada, a
manifestação foi saudada com papéis picados jogados dos prédios. O protesto,
pacífico, convidou a população a acompanhar o movimento.
Ao chegar à Cinelândia,
ponto definido como o final do protesto no Rio, os manifestantes gritavam
"Se a passagem não vai baixar, o Rio vai parar". Segundo a PM, o
trajeto percorrido foi de cerca de 1 km.
Em frente ao Theatro
Municipal, policiais militares fizeram um cordão de isolamento, para proteger o
prédio, que é patrimônio histórico tombado. Na Cinelândia foi feita uma
votação, e parte dos manifestantes optaram por continuar o protesto até o
Palácio Tiradentes, sede da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).
No caminho, foram pichados agências bancárias, estacionamentos, pontos de
ônibus e muros. Ao chegar à casa legislativa, os manifestantes soltaram fogos
e, ao ocupar as escadas do prédio, gritavam que "o Rio vai parar".
Seguranças afirmaram que uma bomba foi jogada dentro do prédio.
O outro grupo seguiu de
volta para a avenida Presidente Vargas e, lá, houve confronto com a PM e
presença do Batalhão de Choque. manifestantes jogaram pedras e garrafas d'água
nos policiais, que revidaram com balas de borracha e spray de pimenta. O Batalhão
de Choque foi acionado.
A avenida Presidente
Antonio Carlos permanece interditada, na altura da Almirante Barroso. Na
estação Carioca do Metrô Rio, os acessos da avenida Chile e do Convento de
Santo Antônio estão fechados. Já na Cinelândia, os usuários só podem descer
para o metrô pela entrada localizado ao lado do Cinema Odeon. Os acessos
Theatro Municipal, Santa Luzia e Pedro Lessa foram fechados.
"Queremos a
revogação do aumento da passagem e a discussão de um novo preço. O transporte
no Rio como um todo é um serviço caro e péssimo. O transporte público decente é
um direito da população", afirmou Tadeu Alencar, 22, integrante do
Movimento Estudantil da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). "Se
não revogarem o aumento, nós vamos protestar durante a Copa das Confederações,
vamos tomar as ruas."
Entre os manifestantes,
chamou a atenção o músico Bob Lester, que diz ter 100 anos de idade. Lester
disse que se envergonha do país, onde só se pensa hoje com as Olimpíadas e a
Copa do Mundo. "E o povo morre de fome e nas portas dos hospitais",
ressaltou o músico. Para ele, a manifestação dos estudantes e trabalhadores é
justa, mas não vai baixar o preço da passagem. "Isso só vai acontecer
quando [os manifestantes] fecharem o movimento cedo, ao meio-dia, não agora,
quando o pessoal quer ir para a casa."
O estudante Vitor Alves dos Santos reclama que falta dinheiro para ele frequentar o curso pré-vestibular, pois o transporte compromete seu orçamento. "É quase impossível continuar estudando. Eu pego ônibus todos os dias para ir ao cursinho e já estou faltando há uma semana. Não está dando para continuar", disse ele.
O estudante Vitor Alves dos Santos reclama que falta dinheiro para ele frequentar o curso pré-vestibular, pois o transporte compromete seu orçamento. "É quase impossível continuar estudando. Eu pego ônibus todos os dias para ir ao cursinho e já estou faltando há uma semana. Não está dando para continuar", disse ele.
Para o técnico em meio
ambiente Alexandre Oliveira, o problema é o direcionamento das verbas públicas.
"Estamos lutando pela redução nas passagens porque é um aumento
abusivo." Segundo Oliveira, desde 2004, os aumentos somam quase 400%.
"Para a gente que ganha um salário mínimo, isso aí é uma covardia com o
trabalhador."
Na região da Cinelândia,
algumas empresas liberaram os funcionários mais cedo, por volta das 16h30, para
que os mesmos evitassem transtornos no trânsito. A funcionária da ABNT
(Associação Brasileira de Normas Técnicas), que funciona em um prédio na rua
Treze de Maio, Amanda Borba, 25, conta que saiu uma hora e meia mais cedo que o
normal. "Geralmente saio às 18h, mas hoje fui liberada às 16h30. Nos
avisaram da liberação no início da tarde e disseram que era para evitar a
aglomeração do protesto", disse Amanda. "Facilitou muito a volta pra
casa."
Na
última segunda-feira, dia 10, o protesto acabou em confusão e a Igreja Nossa Senhora do Carmo
teve uma vidraça quebrada e o muro pichado. Houve correria
e vários estabelecimentos comerciais fecharam as portas.
Além
disso, todas as pistas da avenida Presidente Vargas, principal via de acesso da
zona norte ao centro, foram fechadas. No total, 31 pessoas foram
detidas, encaminhados para delegacia e liberadas.
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