segunda-feira, 17 de junho de 2013

VINAGRE NÃO PROTEGE CONTRA GÁS LACRIMOGÊNEO E PODE ATÉ CAUSAR MAIS IRRITAÇÃO

 
 
O vinagre virou um dos personagens principais das últimas manifestações em São Paulo, no Rio e em outras partes do país. Ninguém sabe ao certo de onde saiu à ideia de que o ácido acético, presente no tempero, ajudaria a neutralizar os efeitos do gás lacrimogêneo usado pela polícia para conter os protestos. Mas a recomendação não passa de mito, garante o toxicologista Anthony Wong, diretor do Ceatox (Centro de Assistência Toxicológica do HC de São Paulo).
"Não adianta nada. E a irritação pode até piorar", avisa Wong, que diz nunca ter ouvido falar antes sobre essa suposta propriedade do vinagre. Se usado em grandes quantidades, inclusive, o ácido acético pode provocar ainda mais dano às mucosas afetadas pelos componentes irritantes do gás lacrimogêneo. Ele ainda comenta que, há pouco tempo, foi divulgado que o líquido ajudaria a burlar o bafômetro, o que também é mentira. 
Para conter o gás lacrimogêneo, sem dúvida o melhor artefato é a máscara usada pela própria polícia, que possui carvão ativado, capaz de adsorver (fazer aderir à superfície) as substâncias irritantes. 
Uma solução caseira, segundo Wong, seria comprar uma grande quantidade de carvão ativado (vendido em lojas de produtos químicos), envolver em um pano grande e cobrir a boca e o nariz. Quando inalado por muito tempo, o gás pode até vir a provocar bronquite e pneumonia.
A proteção improvisada, no entanto, não seria suficiente para proteger os olhos e a pele, observa o médico, o que é um risco e tanto:  "Logo após a explosão, os componentes do gás lacrimogêneo ainda estão em estado líquido e podem provocar queimaduras graves", alerta o toxicologista. Portanto, o conselho dele é mesmo se afastar de possíveis locais onde essas bombas possam ser usadas.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos EUA, ensina as pessoas a tirarem as roupas imediatamente após a exposição ao gás lacrimogêneo. As peças devem ser envolvidas em sacos plásticos e entregues às equipes responsáveis pelo atendimento a vítimas de exposição, pelo risco de provocar irritações graves em quem tocar nelas. 
Questionado sobre os cilindros com data de validade vencida, que teriam sido usados pela PM no protesto da última quinta-feira, em São Paulo, Wong esclarece que não há risco de intoxicação maior. O que é mais provável acontecer, de acordo com ele, é o gás perder eficácia. 
Olhos em risco
Os danos da arma usada por policiais à mucosa dos olhos também podem ser críticos. "O gás lacrimogêneo pode levar a uma lesão definitiva da córnea se a concentração for muito forte", avisa o oftalmologista Renato Neves, do Aging Eye Institute. "Causa uma irritação intensa da conjuntiva (mucosa dos olhos) e da córnea. E, dependendo da proximidade e concentração, ocorre também ceratite, que é a irritação da camada superficial da córnea, o que leva a muita dor e dificuldade de abrir os olhos", continua.
Óculos comuns não resolvem. E Neves lembra que lentes de contato "podem fixar o gás e aumentar o tempo de exposição".  O ideal, portanto, seria usar um óculos como o de natação, com vedação completa. Para Wong, melhor ainda seria adotar uma máscara de mergulho. 
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