O vinagre virou um dos
personagens principais das últimas manifestações em São Paulo, no Rio e em
outras partes do país. Ninguém sabe ao certo de onde saiu à ideia de que o
ácido acético, presente no tempero, ajudaria a neutralizar os efeitos do gás
lacrimogêneo usado pela polícia para conter os protestos. Mas a recomendação
não passa de mito, garante o toxicologista Anthony Wong, diretor do Ceatox
(Centro de Assistência Toxicológica do HC de São Paulo).
"Não adianta nada.
E a irritação pode até piorar", avisa Wong, que diz nunca ter ouvido falar
antes sobre essa suposta propriedade do vinagre. Se usado em grandes
quantidades, inclusive, o ácido acético pode provocar ainda mais dano às
mucosas afetadas pelos componentes irritantes do gás lacrimogêneo. Ele ainda
comenta que, há pouco tempo, foi divulgado que o líquido ajudaria a burlar o
bafômetro, o que também é mentira.
Para conter o gás
lacrimogêneo, sem dúvida o melhor artefato é a máscara usada pela própria
polícia, que possui carvão ativado, capaz de adsorver (fazer aderir à superfície) as
substâncias irritantes.
Uma solução caseira,
segundo Wong, seria comprar uma grande quantidade de carvão ativado (vendido em
lojas de produtos químicos), envolver em um pano grande e cobrir a boca e o
nariz. Quando inalado por muito tempo, o gás pode até vir a provocar bronquite
e pneumonia.
A proteção improvisada,
no entanto, não seria suficiente para proteger os olhos e a pele, observa o
médico, o que é um risco e tanto: "Logo após a explosão, os
componentes do gás lacrimogêneo ainda estão em estado líquido e podem provocar
queimaduras graves", alerta o toxicologista. Portanto, o conselho dele é
mesmo se afastar de possíveis locais onde essas bombas possam ser usadas.
O Centro de Controle e
Prevenção de Doenças (CDC), dos EUA, ensina as pessoas a tirarem as roupas
imediatamente após a exposição ao gás lacrimogêneo. As peças devem ser
envolvidas em sacos plásticos e entregues às equipes responsáveis pelo
atendimento a vítimas de exposição, pelo risco de provocar irritações graves em
quem tocar nelas.
Questionado
sobre os cilindros com data
de validade vencida, que teriam sido usados pela PM no protesto da última
quinta-feira, em São Paulo, Wong esclarece que não há risco de intoxicação
maior. O que é mais provável acontecer, de acordo com ele, é o gás perder
eficácia.
Olhos em risco
Os danos da arma usada
por policiais à mucosa dos olhos também podem ser críticos. "O gás
lacrimogêneo pode levar a uma lesão definitiva da córnea se a concentração for
muito forte", avisa o oftalmologista Renato Neves, do Aging Eye Institute.
"Causa uma irritação intensa da conjuntiva (mucosa dos olhos) e da córnea.
E, dependendo da proximidade e concentração, ocorre também ceratite, que é a
irritação da camada superficial da córnea, o que leva a muita dor e dificuldade
de abrir os olhos", continua.
Óculos comuns não
resolvem. E Neves lembra que lentes de contato "podem fixar o gás e
aumentar o tempo de exposição". O ideal, portanto, seria usar um
óculos como o de natação, com vedação completa. Para Wong, melhor ainda seria
adotar uma máscara de mergulho.
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