Existe alguma coisa que um novo nome maroto não consiga consertar? Isso inclui a reputação de uma arma conhecida como “a máquina de matar favorita de todo mundo”.
Em um evento para a imprensa essa semana, a fabricante de armas Kalashnikov revelou um rebranding de US$ 380 mil que inclui um novo nome, Kalashnikov Concern, ou apenas Concern, junto de um novo slogan: “Protegendo a Paz”. (O RT diz que a versão russa é traduzida como “Armas da Paz” ou “Armas para o Mundo.”) A revisão trouxe uma reforma às três linhas de armas da Concern e uma nova linha de equipamentos para uso externo e de sobrevivência. Até mesmo a AK-47 ganhou um novo logo, que estará estampado em cada uma das novas armas que a fabricante produzir.
Como muitos críticos apontam, o rebranding acontece em um momento crucial para a empresa: as sanções dos EUA e Canadá interromperam o fornecimento de centenas de milhares de armas e a dizem que a Concern está mudando o foco para mercados asiáticos em resposta a toda essa incerteza. O que, então, uma nova identidade pode fazer por ela?
Tão reconhecida quanto a Apple?
De acordo com a Businessweek, os oficiais da empresa disseram no evento que a Concern quer virar “tão reconhecida e valiosa” quanto a Apple. A Apple da fabricação e distribuição de milhões de armas a regimes do mundo inteiro. O iPod do mercado de rifle de assalto. Atire diferente!
Mas de uma forma meio torta, não é uma comparação tão absurda. Ambas as empresa são incomuns pelo fato de terem construído impérios globais com uma linha enxuta de produtos fundamentais que não mudam com muita frequência. As duas operam em escala mundial, tornando o reconhecimento de seus nomes e logos mais importantes.
O novo logo da AK-47, por exemplo, é um KC com a curvinha de cima do “K” inspirada na própria arma – uma parte que é provavelmente a mais familiar aos consumidores de todas as armas modernas. A Kalashnikov, bem ou mal, quer transformar essa parte curvada em sua maçã mordida. Com a diferença de que, você sabe… os produtos da Apple não são feitos para matar.
As palavras mágicas
Talvez a parte mais chocante dessa reformulação é a campanha de marketing que a acompanha,como aponta o Guardian. A Concern lançou uma série de vídeos que pintam a AK-47 como uma ferramenta de vital importância na libertação de pessoas dos seus colonizadores opressores. “Movimentos pela liberdade na África, Ásia e América Latina puderam pelo menos revidar contra os exércitos profissionais dos colonizadores”, um narrador diz de acordo com o paper. “Esta é uma arma que ajudou pessoas a defenderem suas famílias e futuro, e que demandam o direito a um futuro de paz.”
É uma versão um bocado romantizada da história, claro. A Kalashnikov é o rifle de assalto mais popular do planeta e por haver pouquíssima fiscalização na sua venda, tanto pela Rússia quanto por outras potências mundiais, ela é a moeda de troca em complexas operações ilegais que levam essas armas a zonas de conflito, alimentando a violência e a repressão.
“O mau uso grosseiro desses rifles de assalto por incontáveis combatentes mal treinados é responsável por milhões de mortes diretas e indiretas na Angola, Chade, DRC, Libéria, Moçambique, Serra Leoa, Somália, Sudão, Uganda e em outros países,” diz Oxfam.
Claro que a Kalashnikov não é diretamente responsável por essas mortes, mas pintar a si mesma como uma campeã dos oprimidos é um absurdo – embora um necessário. Por causa dos conflitos na Ucrânia, muitos dos parceiros da Kalashnikov deixaram de comprar suas armas. Por isso ela está de olho em mercados emergentes que precisam de armas baratas, seguras e fáceis de usar. A Concern diz isso sem panos quentes:
80% de toda a produção da Kalashnikov é exportada. Uma das prioridades da Concern é encontrar novos e aumentar a sua participação em mercados existentes. Essa abordagem foi usada para escolher 50 países que têm potencial para adquirir os produtos militares da Kalashnikov. A Concerv já começou a penetrar em novos mercados, principalmente nas regiões da Ásia e África. Os mercados mais promissores para a Kalashnikov são Índia e Egito. Contratos com Tailândia e Indonésia foram assinados recentemente e a Concern está negociando com países sul americanos.
Com um logo moderno e uma mensagem contra os poderes de fato fácil de entender, a Kalashnikov tem para si uma nova abordagem a ser usada na hora em que for vendida.
Enquanto a Kalashnikov contratava uma agência de relações públicas russa para fazer o trabalho,a Creative Review trouxe à tona a questão da responsabilidade ética dos designers para vetar o trabalho que seus clientes fazem. Como? Perguntando-se se “você faria?” É um dilema que designers e arquitetos sempre enfrentam – e que só aumenta com o trabalho em países autocráticos – e um sem resposta muito clara.
Fonte: Creative Review; Businessweek; RT; The Guardian
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