quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

CARROS ANTIGOS, MERCADO NEGRO E RACIONAMENTO: OS EFEITOS DO EMBARGO


Em breve, a presença de cidadãos dos Estados Unidos em Cuba deve se tornar tão comum quanto a dos antigos carros americanos que povoam a paisagem de sua capital, Havana.

Em meio ao anúncio da retomada das relações diplomáticas entre os dois países, uma das primeiras medidas implantadas será a facilitação de viagens, algo que era restrito desde o início da década de 1960.

Em 1961, os Estados Unidos romperam relações diplomáticas com Cuba, em retaliação à expropriação de empresas americanas pelo recém-instalado governo revolucionário de Fidel Castro. No ano seguinte, as relações comerciais também foram interrompidas.

Isso impedia o comércio bilateral, empréstimos por organizações como Banco Mundial e o FMI à Cuba e o turismo entre os dois países.

Agora, com a volta do diálogo entre cubanos e americanos, as atenções se voltam para o futuro do bloqueio econômico a Cuba. "O principal não foi resolvido", disse nesta quarta o presidente Raúl Castro. "O embargo comercial, econômico e financeiro provoca enormes danos humanos e econômicos ao nosso país e deve acabar."

Críticos do regime cubano afirmam, no entanto, que a economia enfraquecida e a falta de investimentos do governo colaboraram para o cenário estagnado da ilha. Além disso, defendem que o embargo é usado como uma desculpa do regime para justificar o empobrecimento do país.
Lembrança

O automóveis antigos de Havana são, além de um sucesso entre turistas, uma lembrança dos efeitos destes 52 anos de embargo.

O bloqueio econômico ajudou a empobrecer o país e afetou várias áreas da indústria cubana, entre elas a automobilística, o que, juntamente com leis locais, criou uma situação curiosa.

Até quatro anos atrás, a grande maioria dos cubanos só podia comprar carros fabricados antes de 1959, quando Castro assumiu o poder, segundo regras impostas pelo governo.

Sem conseguir adquirir novos automóveis, restou aos cubanos consertar os que já tinham, mas o embargo quase impossibilita o acesso a peças destes modelos vindas dos Estados Unidos.

Por isso, estes carros podem ser clássicos modelos americanos por fora, mas estão repletos de peças soviéticas por dentro.

Alto custo

 

Sem ajuda soviética, produtos foram racionados e subsídios impediram o aumento de preços 

Em plena Guerra Fria, o embargo colocou de vez lado a lado Cuba e União Soviética, que passou a ajudar economicamente o pequeno país da América Central.

Mesmo assim, o custo do embargo americano à economia é estimado em US$ 1,1 trilhão pelos governos de Cuba e dos Estados Unidos.

Uma medida desse prejuízo pode ser sentida em um dos setores mais tradicionais de Cuba, o de produção de rum.

Estima-se que 2,6 milhões de caixas deixaram de ser vendidas até 2010, totalizando US$ 106 milhões a menos.

O embargo também ajudou a ampliar o mercado negro local e fez com que muitos cubanos tentassem escapar do país rumo aos Estados Unidos em busca de uma vida melhor, criando em Miami uma das maiores comunidades de cidadãos cubanos fora de Cuba.

A ausência de relações diplomáticas também teve seus efeitos no dia a dia da população. Durante a administração de George W. Bush, por exemplo, os programas de intercâmbio cultural praticamente desapareceram.
Dificuldades

Após cinco décadas, mais de 70% da população do país nasceu em meio ao embargo e às dificuldades trazidas por ele.

A situação se agravou a partir da década de 1990, quando a União Soviética entrou em colapso e, junto com ela, sumiram subsídios anuais estimados em US$ 4 bilhões e o apoio político dado pelo governo soviético a Cuba.

Isso levou o governo do país a racionar comida, energia e bens de consumo e a injetar dinheiro na economia para manter os preços de moradia e comida baixos.

Ao mesmo tempo, esse período de crise fez com que alguns controles governamentais fossem atenuados. Empresas passaram a poder importar e exportar sem pedir permissão ao governo. Zonas de livre comércio foram criadas.

O Partido Comunista de Cuba ainda abriu timidamente a economia para o capital estrangeiro.
Novos parceiros

No início dos anos 2000, outros países começaram a assumir papel da União Soviética, principalmente a China e a Venezuela, sob o governo de Hugo Chávez.

Os venezuelanos fornecem combustível barato, enquanto os chineses investem na indústria petrolífera do país.

A Rússia buscou se reaproximar de seu antigo aliado, assinando acordos para explorar reservas de petróleo em alto mar.

O Brasil também teve seu papel, investindo US$ 640 milhões em projetos de infraestrutura, cujo principal beneficiário foi o porto de Mariel, no oeste de Cuba, a cerca de 40km de Havana.

Neste período, o turismo tornou-se uma das principais fontes de renda para o país.
Depois do colapso da URSS, novos parceiros surgiram, como o Brasil, que investiu no porto de Mariel 
Novo rumo

O embargo foi ligeiramente afrouxado nos últimos anos. O presidente Bill Clinton abriu exceções na venda de produtos médicos e agrícolas para o país, alegando propósitos humanitários.

Sob o governo de Barack Obama, os cubano-americanos não tinham mais um limite para a quantidade de dinheiro que podiam enviar a seus parentes no país.

Mas, ainda hoje, as viagens entre os dois países são limitadas àqueles que conseguem permissões especiais, um processo demorado e burocrático.

Isso mudará com a retomada as relações diplomáticas, trazendo mais visitantes americanos ao país.

Mas, enquanto o bloqueio econômico estiver vigente, a experiência de circular pelas ruas de Havana ainda será para eles como fazer uma viagem de volta ao passado.

Fonte: BBC Brasil

Segue o link do Canal no YouTube e o Blog
Gostaria de adicionar uma sugestão, colabore com o NÃO QUESTIONE

Este Blog tem finalidade informativa. Sendo assim, em plena vigência do Estado Democrático de Direito, exercita-se das prerrogativas constantes dos incisos IV e IX, do artigo 5º, da Constituição Federal. Relembrando os referidos textos constitucionais, verifica-se: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato" (inciso IV) e "é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença" (inciso IX). As imagens contidas nesse blog foram retiradas da Internet. Caso os autores ou detentores dos direitos das mesmas se sintam lesados, favor entrar em contato.

Nenhum comentário:

Postar um comentário