Há 15 anos, jornais denunciavam escândalo de fraudes em licitações e pagamento de propinas envolvendo Eduardo Cunha na Cehab. O esquema, que virou alvo do Ministério Público, era da ordem de R$ 1 milhão por mês
Cíntia Alves, Jornal GGN
Há exatos 15 anos, Eduardo Cunha, hoje deputado federal pelo PMDB e presidente da Câmara Federal, protagonizava mais um escândalo envolvendo fraudes em licitações e pagamento de propinas, agora na condução de outro órgão público no Rio de Janeiro, a Cehab, Companhia Estadual de Habitação.
Em 6 de abril de 2000, o jornal O Globo repercutia o vazamento de um dossiê anônimo que apresentava detalhes de um esquema de propina que enchia o bolso de 8 pessoas, incluindo Eduardo Cunha e seu amigo Francisco Silva (PPB), então deputado estadual com influência entre evangélicos.
O esquema de pagamento de propina que virou alvo do Ministério Público era da ordem de R$ 1 milhão por mês.
Tratava-se de favorecimento a empresas de construção e informática. “Haveria até uma tabela de repasse de tarifas dos serviços dos cartórios, que seriam beneficiados no registro de escrituras das casas”, escreveu o jornal.
Cunha negou tudo. Disse ao O Globo que as denúncias eram fruto de qualquer imaginação fértil e nada mais.
O hoje peemedebista assumiu a presidência da Cehab por indicação de Francisco Silva. Antes disso, foi recusado pelo governo FHC no comando da Telerj. Cunha já tinha deixado rastros escandalosos na tele fluminense, e teve seu pedido de recondução pisoteado por um nome do PSDB.
Casa na Gávea
Outra informação que constava no dossiê contra Cunha era a propriedade de uma casa na Gávea, que chamava atenção por dois motivos: primeiro porque o valor de mercado era de R$ 1,2 milhão, mas a casa foi arrematada em um leilão por R$ 250 mil. O segundo motivo é que quem fez o negócio foi o amigo de Cunha, o deputado evangélico Francisco Silva. O fato foi entendido, posteriormente, como um caso de possível ocultação de patrimônio.
Silva admitiu o feito e demonstrou satisfação em “ajudar um amigo” comprando o lote por um preço “tão baratinho”. Já Cunha negou o valor inicial do imóvel. “Não vale um milhão, é na boca da Rocinha”, rebateu.
Àquela época, Francisco Silva também empregava Eduardo Cunha em sua rádio, a Melodia FM. Quando Cunha saiu da Cehab, passou a dedicar-se por um tempo, exclusivamente, ao programa que a emissora promovia com Anthony Garotinho.
CPI do La Salvia
Uma segunda CPI envolvendo a Cehab acabou sendo engavetada pelos deputados governistas. A proposta era apurar a relação do argentino Jorge La Salvia – ex-procurador de PC Farias – com a Cehab durante a gestão de Eduardo Cunha.
Depois da campanha de Collor, a reaproximação de La Salvia e Cunha virou destaque nos jornais. La Salvia era representante de uma empresa chamada Caci, Central de Administração de Créditos Imobiliários, vencedora de uma licitação para a auditagem de nove mil contratos de financiamento da Cehab.
Quando as reuniões de La Salvia na Cehab começaram chamar a atenção da mídia, Cunha começou a negar qualquer relação com o argentino, mas acabou sendo desmentido por outros empresários.
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