quarta-feira, 21 de agosto de 2013

EM AGOSTO DE 1968, OS SOVIÉTICOS NÃO SE CALARAM


Nos anos 80, nós nos encontramos com Larissa. Ela era uma mulher frágil e doentia com enormes olhos tristes mas com inflexível força moral interior Então ela disse:

“Na realidade foram muito mais de sete pessoas que protestaram contra a introdução das tropas. Eu sempre repito – em meu meio não conheço ninguém que não tenha sido solidário com as reformas tchecoslovacas, não tenha depositado nelas a esperança de mudanças, não tenha expressado indignação com a liquidação da Primavera de Praga. Depois de 21 de agosto nós conseguimos sintonizar Praga pela rádio, mesmo com o barulho das interferências, e uma trágica voz feminina dizia: “Irmãos russos, saiam. Nós não os chamamos”. Na véspera nós vimos como, pela avenida Lenin, cheia de pessoas mandadas para recebê-lo, levaram o presidente da Tchecoslováquia, Ludvik Svoboda, que “viera” a Moscou (de fato ele foi trazido à força). Atrás do vidro do carro via-se não um rosto, mas uma máscara trágica. Resumindo, eu simplesmente não pude deixar de sair à praça.”

Larisa Bogoraz e seus companheiros lançaram conscientemente seus destinos sob o rolo compressor da máquina repressiva soviética. Depois de sua ação, o poeta Alexander Galich escreveu: “Pode ir para a praça? Ousa sair à praça? Na hora marcada?”

Em Leningrado (atualmente São Petersburgo) surgiu uma inscrição nos famosos cavalos de Klodt, feita por Igor Boguslavsky: “Brezhnev, sai da Tchecoslováquia”. Ele foi preso e recebeu três anos de prisão. Cinco defensores dos direitos humanos, entre os quais o famoso general Piotr Grigorenko, entregaram na embaixada da Tchecoslováquia uma carta de apoio ao líder da Primavera de Praga, Alexander Dubcek. Eis um trecho do relatório do ministro da Defesa da Ordem Pública Schelokov ao secretário-geral Brezhnev, dos arquivos do Comité Central do Partido Comunista da União Soviética, antes secretos.

“Em 23-24 de agosto de 1968 tiveram lugar ocorrências. Belyaev, um morador de Lugansk, gritou na rua “Ocupantes soviéticos fora da Tchecoslováquia! Liberdade para Svoboda”. Belyaev foi detido. Em Chernigov, num muro foi encontrada a inscrição “Tirem as mãos da Tchecoslováquia. Viva a democracia”. O estudante da faculdade de Física da Universidade Estatal de Moscou, Karasyev, começou uma coleta de assinaturas de estudantes exigindo a retirada das tropas da Tchecoslováquia. Karasyev foi internado num hospital psiquiátrico.”

Valeri Lukanin, habitante da região de Moscou, colocou um cartaz de protesto na janela de seu apartamento. Foi condenado a 10 anos de prisão. E mais alguém lançou no Teatro de Opereta de Moscou panfletos contra a repressão da Primavera de Praga.

Protestaram conhecidas personalidades da cultura e ciência soviéticas – Rostropovich, Kapitsa, Soljenitsin, Akhmadulina, Brodsky, Aksyonov. O poeta Evtushenko sofreu muito com o acontecido. Em 21 de agosto ele ouviu pela Rádio Praga um apelo dos viajantes Hanzelka e Zikmund. Eles se dirigiram diretamente a ele: “O que está acontecendo? Responda!” O poeta não se calou, enviou ao Kremlin um telegrama contra a “ajuda fraternal” à Tchecoslováquia e escreveu versos, onde havia tais palavras: “Os tanques andam por Praga no poente de sangue do alvorecer...” Eles foram divulgados em samizdat (cópia de obras de forma caseira e clandestina).

Vladmir Lukin, atualmente provedor dos direitos humanos junto do presidente da Rússia, naqueles dias trabalhava em Praga, na revista Problemas da Paz e do Socialismo. Ele expressou abertamente o seu protesto contra a invasão, foi chamado a Moscou e privado do direito de viajar ao exterior. O correspondente especial do Izvestiya Boris Orlov, recusou-se a preparar uma matéria sobre como o Exército Soviético, pela segunda vez, havia libertado a Tchecoslováquia. Foi expulso de Praga e proibido de exercer a profissão. Em reunião de apoio à introdução de tropas na Tchecoslováquia no Instituto de Língua Russa, funcionários levantaram-se em sinal de protesto. Tais casos foram centenas, se não milhares. Em agosto de 1968 as pessoas na URSS não se calaram.


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