sexta-feira, 25 de setembro de 2015

BRASIL: OS NÚMEROS DE INTOXICAÇÃO POR AGROTÓXICO SÃO SUFICIENTEMENTE ALARMANTES, AFIRMA ESPECIALISTA


“Em 2005 o consumo médio de agrotóxicos era da ordem de 5 kg/hectare e, em 2011, passou a ser de 11 kg/hectare. Ou seja, em menos de uma década dobramos a quantidade de agrotóxicos utilizada no país”, informa Larissa Mies.

Por Patricia Fachin
Da IHU On-Line

Em sete anos, 2.181 casos de crianças e adolescentes intoxicados por agrotóxicos foram notificados junto ao Ministério da Saúde, informa Larissa Mies Bombardi, em entrevista concedida à IHU On-Line por e-mail. Segundo a pesquisadora, que analisou esses dados em sua pesquisa de pós-doutorado, “nos estados do Centro-Sul do país, as crianças entre 1 e 4 anos respondem por mais de 30% dos casos. Em Mato Grosso e Minas Gerais, por exemplo, esta faixa etária (de 1 a 4 anos) responde por mais de 40% dos casos de intoxicação neste intervalo de 0 a 14 anos”.

Larissa conta que desde que iniciou suas investigações sobre os impactos do uso de agrotóxicos no país, tem percebido que “de 20 a 25% das intoxicações notificadas, ano após ano, diziam respeito a crianças e jovens, com idade de 0 a 19 anos”. Do total das intoxicações analisadas por ela, grande parte, explica, refere-se a “motivos acidentais (primeiro lugar no tipo de circunstância que envolveu a intoxicação para a faixa etária de 0 a 14 anos).

Entretanto, um dado muito assustador é que o segundo motivo no número de intoxicações notificadas para a faixa etária mencionada é o de suicídio, que se concentra entre adolescentes de 10 a 14 anos. Neste período, mais de 300 adolescentes entre 10 e 14 anos fizeram tentativa de suicídio através da ingestão de agrotóxicos de uso agrícola”. Para ela, esses dados demonstram que “estamos diante de uma forma de violência silenciosa ou de uma epidemia silenciosa provocada pelo modelo agrícola que o país vem adotando”.

Na entrevista a seguir, Larissa comenta os efeitos das intoxicações por agrotóxicos entre adultos e crianças e esclarece, especificamente, as implicações do Ingrediente Ativo Acefato, o quinto em número de vendas no Brasil.

Larissa Mies Bombardi é graduada em Geografia pela Universidade de São Paulo – USP, onde também cursou o mestrado e o doutorado. Atualmente é professora no Departamento de Geografia da USP.

Em que consiste seu estudo, o qual evidenciou que entre 2007 e 2014 foram notificadas 2.150 intoxicações somente na faixa etária entre 0 e 14 anos de idade, em todo o país?

Este estudo refere-se ao desenvolvimento de meu Pós-Doutorado, que tem por temática a questão do uso de agrotóxicos no Brasil e seus impactos.

Durante o desenvolvimento dos mapeamentos que venho fazendo, passou a me chamar a atenção a quantidade de intoxicações entre crianças e jovens. Praticamente de 20 a 25% das intoxicações notificadas, ano após ano, diziam respeito a crianças e jovens, com idade de 0 a 19 anos. Assim, fui focando os mapas em faixas etárias ainda inferiores e pude constatar que neste período (2007 a 2014) houve 2.181 crianças e adolescentes com intoxicações notificadas junto ao Ministério da Saúde, com idade entre 0 e 14 anos. E, destas, nos estados do Centro-Sul do país, as crianças entre 1 e 4 anos respondem por mais de 30% dos casos. Em Mato Grosso e Minas Gerais, por exemplo, esta faixa etária (de 1 a 4 anos) responde por mais de 40% dos casos de intoxicação neste intervalo de 0 a 14 anos.

Esses casos de intoxicação ocorreram e ocorrem com mais frequência por quais razões? Pelo consumo de alimentos contaminados, por ingestão de agrotóxicos acidentalmente, pelo contato das crianças com as plantações? As intoxicações foram mais frequentes em crianças que residem no campo ou na cidade?

Deste total, uma grande parte das intoxicações notificadas referem-se a motivos acidentais (primeiro lugar no tipo de circunstância que envolveu a intoxicação para a faixa etária de 0 a 14 anos). Entretanto, um dado muito assustador é que o segundo motivo no número de intoxicações notificadas para a faixa etária mencionada é o de suicídio, que se concentra entre adolescentes de 10 a 14 anos. Neste período, mais de 300 adolescentes entre 10 e 14 anos fizeram tentativa de suicídio através da ingestão de agrotóxicos de uso agrícola.

Outra informação importante é que a maior parte das crianças e adolescentes intoxicados tem a zona urbana como residência. Este fato, sem dúvida, está relacionado à enorme subnotificação dos casos de intoxicações por agrotóxico de uso agrícola.

Se atentarmos para os tipos de circunstância e focarmos naquela denominada pelo Ministério da Saúde como “acidental”, verificaremos que esta tem prevalência na zona urbana em relação à rural, o que leva à hipótese de que as crianças intoxicadas na zona rural estão envolvidas no universo do trabalho diretamente ou não, ou seja, pode ser que a própria criança trabalhe efetivamente ou que acompanhe os pais em suas jornadas de trabalho.

Outro dado alarmante refere-se à intoxicação através da ingestão de alimentos. No total, neste período, foram 54 crianças intoxicadas por agrotóxico de uso agrícola através do consumo de alimentos, dentre elas três bebês de menos de um ano. Com relação à zona de residência, 32 deste total habitam a zona urbana e 22 a zona rural.

Este número nos dá uma média de quatro crianças intoxicadas com agrotóxico de uso agrícola por ano através do consumo de alimentos. Penso que estes dados traduzem a gravidade da questão do uso de agrotóxicos no país.

Como analisa esse dado de mais de 2.150 intoxicações registradas entre crianças dessa faixa etária? Que efeitos essas intoxicações causam nas crianças?

Os efeitos de intoxicações por agrotóxicos sobre crianças são sempre mais nefastos do que sobre os adultos, por dois motivos básicos:


1. As crianças são organismos em crescimento e em formação;

2. O peso corpóreo das crianças é menor do que o dos adultos, o que significa que a mesma quantidade de ingrediente ativo da intoxicação (ingerido, inalado, ou por contato etc.) pode ter seu efeito ampliado.

Como exemplo, vale indicar a Nota Técnica da Anvisa sobre o Ingrediente Ativo “Acefato”, o quinto em número de vendas no Brasil, em seu processo de avaliação:

“Outro quadro neurológico grave, desencadeado por exposições aos OPs (Organo-fosforados, que é o caso do Acefato), foi identificado mais recentemente, e passou a ser conhecido como ‘síndrome intermediária’. A Síndrome Intermediária - SI caracteriza-se pela acentuada fraqueza dos músculos respiratórios e diminuição da força dos músculos do pescoço e das extremidades proximais dos membros. Esses sintomas aparecem algumas horas após o início dos sintomas de hiperestimulação colinérgica (intoxicação aguda). O comprometimento respiratório na SI, se não houver pronto atendimento em hospitais equipados com aparelhos de respiração assistida, pode levar à morte. (...) Outra questão preocupante é o fato de estudos experimentais sugerirem que crianças (organismos ainda em desenvolvimento) possam ser mais vulneráveis aos efeitos de OPs. Há indícios claros de que a exposição contínua de animais em fase de desenvolvimento a baixas doses de OPs pode afetar adversamente o crescimento e a maturação.”

Entretanto, em que pese o teor da avaliação deste Ingrediente Ativo, Acefato, em Diário Oficial da União de 04/10/2013, verifica-se que a decisão foi por manter a autorização do Acefato nas culturas de amendoim, algodão, batata, brócolis, citros, couve, couve-flor, feijão, melão, repolho, soja e tomate para fins industriais, com a diferença que, a partir de então, este ingrediente ativo passou a ser exclusivamente de aplicação por meio de equipamentos mecanizados.

Outro dado demonstra que ocorrem em média 5.600 intoxicações por ano. Como interpreta esse dado?


Estes números já revelam um quadro gravíssimo. Cheguei a eles a partir do banco de dados da Fiocruz, mapeando as intoxicações durante um período de 11 anos (1999 a 2009). Considerando este número de intoxicações notificadas, 5.600 por ano, significa que tivemos 62.000 intoxicações no período, ou 15 intoxicações por dia, ou uma a cada 90 minutos.

Estes números por si só já são suficientemente alarmantes, entretanto a própria Fiocruz estima que, para cada intoxicação notificada, tenhamos 50 outras não notificadas.

Isto significa que estamos diante de uma forma de violência silenciosa ou de uma epidemia silenciosa provocada pelo modelo agrícola que o país vem adotando.

Por quais razões as notificações de intoxicação por agrotóxicos ainda são pouco notificadas no serviço de saúde?


Por algumas razões, dentre elas, destacam-se: acesso distante e difícil dos camponeses e trabalhadores rurais em relação aos centros de saúde, falta de preparo dos profissionais de saúde para lidar com os quadros de intoxicação por agrotóxico e, também, uma prática da população em não buscar o serviço de saúde em quadros de intoxicação “leve”, mas que, no entanto, levam a problemas crônicos de saúde — tal prática é perpetrada por mensagens subliminares que fazem supor a baixa toxicidade dos agrotóxicos.

Como se dá a intoxicação por agrotóxico no uso agrícola? Quais são os casos mais recorrentes que tem registrado em suas pesquisas?


Segundo a classificação da Anvisa sobre as circunstâncias que levaram às intoxicações notificadas para o período de 2007 a 2014, o maior número de notificações está relacionado à tentativa de suicídio, em segundo lugar a fatos acidentais, em terceiro lugar ao uso habitual e, em quarto lugar, a intoxicações ambientais.

Estes dados são gerais, para o país todo, com especificidades regionais e estaduais. Entretanto, a tentativa de suicídio ocupa mais de 40% do total das intoxicações notificadas. Só no ano de 2013 foram 1.796 tentativas de suicídio com agrotóxicos de uso agrícola notificadas. Isto significa que, a cada dia, praticamente cinco pessoas no país tentaram suicídio com ingestão de agrotóxicos.

O entendimento da envergadura destes números nos leva a pelo menos duas explicações: a primeira é que o número de subnotificações em geral é tão grande, que estes casos de tentativa de suicídio (devido à gravidade e toda a questão formal/jurídica que eles envolvem) tomam uma proporção gigantesca no universo de notificações. A segunda é que há uma conexão clara (em estudos realizados no Brasil e no exterior) entre a exposição crônica a alguns tipos de agrotóxicos e neuropatias decorrentes desta exposição, que podem levar o camponês ou o trabalhador rural à tentativa de suicídio.

De toda forma, observa-se, pelo restante dos dados mencionados anteriormente (excetuando-se o número de tentativas de suicídio), que a questão laboral está no centro das intoxicações por agrotóxicos de uso agrícola.

Quais são os casos mais problemáticos do uso de agrotóxicos na agricultura?


Entendo que o que há de muito problemático é o fato de termos um modelo agrícola que privilegia a exportação e a produção de agrocombustíveis, em detrimento de um projeto de soberania alimentar. Desta forma, vamos acompanhando ano após ano a diminuição da produção de arroz e feijão, por exemplo, que respectivamente ocupavam 3,2 e 4,3 milhões de hectares em 2002 e passaram a ocupar 2,8 e 3,7 milhões de hectares em 2011. Por outro lado, vemos um aumento vertiginoso da produção de grãos (particularmente milho e soja) e cana-de-açúcar. A soja partiu de 16,4 milhões de hectares em 2002 para 22,7 milhões de hectares em 2011, e a cana, neste mesmo período, de 5,2 milhões de hectares para 11 milhões de hectares.

Se observarmos o uso de agrotóxicos por cultivo (valores referentes às vendas de agrotóxicos), podemos verificar que em 2009 a soja ocupava o primeiro lugar com 47%, o milho em segundo lugar com 11,4% e a cana em terceiro lugar com 8,2%.

Deve-se ressaltar ainda que, com a liberação das sementes transgênicas OGMs (Organismos Geneticamente Modificados), que em boa parte dos casos trata-se de sementes tolerantes ao Glifosato (o Ingrediente Ativo mais vendido no Brasil), vivenciamos um aumento muito significativo do uso de agrotóxicos. Em 2005 o consumo médio de agrotóxicos era da ordem de 5 kg/hectare e, em 2011, passou a ser de 11 kg/hectare. Ou seja, em menos de uma década dobramos a quantidade de agrotóxicos utilizada no país.

É possível desenvolver uma agricultura sem o uso de agrotóxicos? Quais as vantagens e desvantagens desse tipo de agricultura?


Sim, é perfeitamente possível desenvolver agricultura sem o uso de agrotóxicos, afinal, a humanidade chegou até os anos 50 do século passado sem este tipo de uso. A justificativa para o uso massivo de agrotóxicos na agricultura, desde o final da II Guerra Mundial, tem sido de que esta é a resposta para o problema da fome no mundo: a produtividade resolverá a fome.

Entretanto, passado mais de meio século, um terço da humanidade permanece na miséria, muito embora a produção de alimentos tenha aumentado exponencialmente. O problema da fome é uma questão de acesso à terra e distribuição de renda, como já apontara Josué de Castro na década de 60 do século passado. O que está em questão, portanto, é aquilo em que o alimento se tornou. O alimento tem se tornado uma mercadoria como outra qualquer para ser comercializada nas Bolsas de Mercadorias e Futuros e, também, tem se transformado em energia.

A agricultura agroecológica, por exemplo, pode ser tão ou mais produtiva que a agricultura convencional. Entretanto, esta demanda bastante trabalho humano, em virtude de um manejo frequente que está relacionado à adaptação dos cultivos aos aspectos da natureza, entre outros fatores, além de envolver o bem-estar dos camponeses que a praticam. O fato de este tipo de agricultura demandar intenso trabalho humano torna-a inviável do ponto de vista de um empreendimento capitalista, ou seja, aquele que se mantém através da exploração do trabalho assalariado.

Assim, estamos diante de dois modelos que “aparentemente” dizem respeito à produção de alimentos: um deles em que realmente se trata de produção de alimentos, e outro em que se trata da produção de commodities e energia.


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BRASIL: PASSAGEIRA DE ÔNIBUS É PRESA APÓS CHAMAR COBRADOR DE 'MACACO’


“O Brasil é esta merda por causa disso. Essa empresa está assim pois agora só contrata macaco para trabalhar”. A passageira foi liberada após pagar fiança de R$ 800. O cobrador, que diz ter se sentido humilhado, revela que não pretende processá-la, mas diz esperar arrependimento da agressora

A Polícia Civil do Distrito Federal investiga a conduta de uma passageira de transporte público que, irritada por causa de uma janela aberta, teria cometido injúria racial contra um cobrador negro: “o Brasil é esta merda por causa disso. Essa empresa está assim pois agora só contrata macaco para trabalhar”.

Passageira e cobrador foram parar na delegacia e a mulher foi liberada após pagar fiança de R$ 800.

De acordo com Aderbaldo dos Santos Ribeiro, 27 anos, cobrador do ônibus, a ofensa aconteceu por volta das 7h40. Ele conta que a mulher fechou a janela do coletivo na altura do Parque da Cidade e que ele decidiu abri-la novamente para manter a circulação de ar.

“Ela começou a brigar comigo, me xingar, não quis deixar abrir. Aí foi me agrediu, falando que a empresa estava contratando macaco”, lembra. “É ruim, né, nunca esperei que fosse acontecer comigo. Fiquei muito chateado. Fiquei bem ruim, um policial até perguntou se estava tudo bem comigo.”

O marido da agressora também xingou Aderbaldo e o chamou para “sair para brigar lá fora” por conta da janela aberta. Ele diz que não tinha escutado a injúria [racial] no momento, mas percebeu o ato de racismo pela reação do motorista e dos passageiros.

Após as ofensas raciais, o motorista do ônibus interrompeu o trajeto e parou o veículo.

“Eu teria até deixado pra lá, nem iria levar isso adiante se ela tivesse pedido desculpas, se tivesse dito “olha, me perdoe, eu sei que errei, não deveria ter dito aquilo”. Só que ela nem mostrou arrependimento. A discussão já tinha terminado, eu já tinha aberto uma janela diferente, e ela continuou me insultando. Chegou na delegacia e confirmou que me chamou de macaco. Isso é ter um coração muito ruim”, afirma o cobrador.

Aderbaldo conta que está com medo de reações futuras do marido da passageira. “Fico preocupado porque ele é agressivo, e ficou tirando foto de mim pelo celular lá na hora, tenho medo de encontrar com ele de novo”. O incidente ocorreu há dez dias.
Injúria Racial

Aderbaldo diz que não pretende processar a mulher além da esfera criminal, mas a advogada do Sindicato dos Rodoviários, Marília Fontenele afirma que está conversando com o homem e estudando a possibilidade de pedir indenização.

“É uma situação, infelizmente, normal. As pessoas não conseguem internalizar valores democráticos. Não sei dizer quantos são de cabeça, mas já são pelo menos quatro ou cinco situações do tipo neste ano”, diz.

Segundo a advogada, a ideia é que, por meio do processo, as pessoas entendam que a injúria racial é crime e evitem este tipo de prática. Marília afirma que incidentes do tipo afetam até mesmo o trabalho dos rodoviários.

“Eles ficam muito constrangidos, é realmente uma situação sem parâmetros, eles ficam muito constrangidos, e muitas vezes abala o rendimento no dia a dia”, explica.

De acordo com o Código Penal, a pena por injúria varia entre 1 e 3 anos de prisão. Se a investigação apontar que houve racismo, a suspeita pode responder pelos crimes previstos na Lei 7.716, de 1989. Há várias penas possíveis, entre elas prisão e multa. O crime de racismo não prescreve e também não dá direito a fiança.


Fonte: Brasília é Aqui, R7 e G1

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BRASIL: ESCÂNDALO DA VOLKSWAGEN: “FERRAMOS TUDO”, ADMITE DIRETOR DA MONTADORA


“Ferramos tudo”, diz diretor da Volkswagen nos EUA sobre fraude. Empresa reconheceu que 11 milhões de carros foram adulterados em todo o mundo. Presidente global da montadora anunciou sua renúncia em meio ao maior escândalo nos 78 anos de história da VW

O principal executivo da Volkswagen nos Estados Unidos, Michael Horn, pediu reiteradas desculpas pelo escândalo de falsificação das emissões de poluentes nos seus carros a diesel nos EUA, que veio à tona na sexta-feira, e se comprometeu a recuperar a confiança dos consumidores norte-americanos.

“Ferramos tudo”, disse ele após admitir o erro. “Fomos desonestos com a EPA [agência federal de proteção ambiental], fomos desonestos com o conselho da ARB [agência californiana de controle da qualidade do ar], fomos desonestos com todos vocês”, afirmou Michael Horn.

“Precisamos arrumar os carros para evitar que isso volte a acontecer, e precisamos fazer isso direito. Esse tipo de comportamento vai totalmente contra os nossos valores”, declarou ele na noite de segunda-feira no Brooklyn (Nova York), durante o evento de apresentação de uma nova versão do modelo Passat, com a participação do roqueiro Lenny Kravitz.

Horn e outro executivo do grupo cancelaram uma entrevista a jornalistas que havia sido previamente combinada e se recusaram a responder perguntas, na primeira aparição pública de um alto executivo da Volkswagen nos Estados Unidos desde que o escândalo estourou. A EPA e a ARB da Califórnia informaram na sexta-feira que a Volkswagen havia instalado em mais de meio milhão de veículos um dispositivo que servia para burlar os controles de emissões de partículas poluentes.

“Estamos comprometidos em fazer o que deve ser feito e a começar a restaurar a confiança”, afirmou Horn. “Pagaremos o que tivermos que pagar”, acrescentou.

O maior fabricante de automóveis da Europa pode sofrer multas de bilhões de dólares, além de processos penais contra seus executivos e um golpe para a sua imagem que arruinaria os planos de alavancar suas vendas nos EUA. O Departamento de Justiça norte-americano está promovendo uma investigação criminal, segundo fontes oficiais familiarizadas com o assunto.
Mais poluição

A empresa vendeu versões a diesel de veículos das marcas Volkswagen e Audi com um software que só ativa completamente os controles de poluentes quando o carro está sendo submetido a testes de emissões. Durante o uso normal no trânsito, os carros poluíam 10 a 40 vezes acima dos limites legais, segundo a EPA.

Os modelos afetados incluem as versões a diesel do Passat, assim como o VW Beetle, o Jetta e o Golf. O Audi A3 também está sendo investigado. No mês passado, os modelos a diesel representaram 23% das vendas da marca VW nos EUA, segundo nota da companhia à imprensa
Renúncia do presidente

No final, a pressão foi forte demais. Martin Winterkorn, presidente da Volkswagen desde 2007 e que há apenas cinco meses havia ganhado uma disputa pelo poder com o patriarca Ferdinand Piëch, caiu vítima do maior escândalo nos 78 anos de história da montadora. “A Volkswagen precisa se renovar, também do ponto de vista pessoal. Estou disposto a abrir o caminho da renovação com minha renúncia”, disse Winterkorn em comunicado.

O até agora chefe máximo da Volkswagen tentou permanecer no cargo. Um dia antes de sua renúncia, insistia em pedir desculpa e em se apresentar como o homem que deveria ganhar de novo a confiança dos clientes. Mas a fraude das emissões de gás foi grande demais para não repercutir na cúpula da maior fabricante de carros do mundo.

A renúncia já parecia muito provável no domingo, quando a empresa admitiu as acusações das autoridades ambientais norte-americanas. Mas pouco depois tornou-se irremediável. Em dois dias, a Volkswagen perdeu na Bolsa 35% de seu valor, reconheceu que o número de veículos afetados sobe para 11 milhões (em vez dos 482.000 iniciais) e mobilizou 6,5 bilhões de euros (cerca de 28,6 bilhões de reais) para possíveis perdas. Além disso, países como EUA, Alemanha, Itália, França e Coreia do Sul anunciaram investigações.

A Promotoria de Brunswick (cidade da Baixa Saxônia, Estado alemão que possui 20% das ações do grupo) havia anunciado horas antes que também estuda abrir uma investigação.


Fonte: EL País

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quinta-feira, 24 de setembro de 2015

BRASIL: 5 COISAS SIMPLES QUE MULHERES EVITAM FAZER POR MEDO DE ASSÉDIO


Muitas vezes, mulheres se privam de liberdades pequenas e simples no cotidiano por receio de sofrer algum tipo de abuso. Confira exemplos

Lara Vascouto, Obvious

Em março de 2014 uma mulher sofreu uma tentativa de estupro dentro de um metrô lotado na cidade de São Paulo. Com a barbaridade da notícia, veio à tona finalmente todo o assédio (velado ou não) que as mulheres enfrentam diariamente no transporte público por parte de homens imundos que tiram fotos de decotes, bundas e calcinhas, encoxam, apalpam e roçam suas partes íntimas em mulheres desavisadas. Além do ato abusivo em si, os assediadores ainda criam sites e páginas em redes sociais para postar as fotos e contar os “feitos do dia”. Algumas dessas páginas contam com milhares de seguidores.

Revoltada, me peguei refletindo sobre essa situação absurda e sobre todas as pequenas coisas de que nós, mulheres, somos privadas de fazer no nosso cotidiano por medo de sofrer algum tipo de abuso – como ficar tranquila dentro de um de trem, por exemplo. O problema é que todas as mulheres já ouviram histórias o suficiente para saber que qualquer assédio, por menor que seja, além de ofender e agredir, pode acabar se tornando um estupro. Por isso nós tentamos evitar ao máximo qualquer comportamento que possa dar margem à liberdades por parte de homens na rua. Isso acaba, por sua vez, nos privando de algumas liberdades pequenas e simples. Entenda, não é que nós não possamos fazer essas coisas. O grande problema é o medo do que pode acontecer. E é por isso que, na maioria dos casos, uma mulher pensa duas, três, quatro vezes antes fazer coisas simples como…

1. Ser simpática com homens desconhecidos na rua

Na maioria das vezes, nada de mais vai acontecer se você cumprimentar aquele homem que sempre encontra durante sua caminhada diária com o cachorro, ou o gari que está sempre varrendo a avenida perto da sua casa. Na maioria das vezes, eles vão só responder bom dia de volta e voltar às suas atividades. No entanto, vez ou outra, em resposta à sua boa educação, você vai receber um olhar lascivo de volta, ou um sorrisinho safado, ou um bom dia cheio de energia sexual contida. E por mais inofensivas e abstratas que sejam essas reações, elas sempre assustam e fazem com que a gente acelere o passo.

Quando isso passa a acontecer muitas vezes, você começa a se perguntar se vale mesmo a pena ser simpática. Eu não consegui deixar de tentar ser simpática com estranhos que sempre encontro na rua, mas sempre rola uma certa apreensão e, muitas vezes, após uma breve avaliação do indivíduo, eu simplesmente o ignoro. Eu já cheguei a passar quatro anos morando em um lugar sem nunca ter cumprimentado um grupinho de taxistas por que passava todos os dias, porque um dia vi um deles dando um olhar lascivo para uma mulher que passava de minissaia e comentando grosseiramente com o colega do lado. Meu namorado da época sempre os cumprimentava com familiaridade. Mas eu perdi a prática e as vantagens da boa vizinhança por medo (e nojo). Parece pouco, mas é uma pequena liberdade que se vai e a gente nem percebe.

2. Sair de casa vestindo o que quiser, independente do destino e do meio de transporte escolhido

Nós lutamos pelo direito de vestir o que quisermos há tanto tempo, mas parece que sempre perdemos a batalha. É sempre o velho discurso: oras, claro que o cara passou a mão em você! Vestida desse jeito! O discurso dói e constrange, mas dói mais ainda ter de aceitar que aparentemente homens são animais descontrolados – e o são com aval da sociedade. Claro que nós temos que lutar pelos nossos direitos e claro que uma saia curta nunca poderia justificar um estupro. Mas estupros acontecem mesmo assim.

Quando eu estava na faculdade, eu usava as roupas que queria para ir ao lugar que bem entendesse. Um dia, no entanto, enquanto esperava o ônibus em um ponto super movimentado da avenida Paulista usando uma minissaia em pleno sábado no auge do verão, eis que sinto que tem alguém me observando. Quando procuro instintivamente o dono do olhar, qual não é o meu choque ao constatar um homem sentado em uma muretinha atrás do ponto, olhando fixamente para mim e batendo uma punheta em minha homenagem. Aquilo me deixou tão ofendida e tão enojada que nunca mais voltei a usar saia ou short no ônibus ou no metrô. Era mais um pedacinho da minha liberdade que eu estava perdendo sem mesmo perceber. Não é que eu ache que eu provoquei aquilo com a minha minissaia. É só que eu não quero passar por isso de novo.

3. Mandar algum mala grosseiro na balada ir pastar

…por mais grosseira que a cantada dele tenha sido. É muito comum em baladas uma mulher ser encurralada por algum cara mala, ou ter que lidar com algum nojento que decide que você deveria agradecer o fato de ele ter escolhido a sua bunda para passar a mão. É mais comum ainda ver o indíviduo ficar repentinamente surpreso, ofendido e agressivo quando você não fica agradecida pela atenção que ele está lhe dando. Basicamente, o cara se transforma de safado-rei-do-xaveco a machão-injustiçado.

Quando adolescente, tive a infelicidade de ser perseguida a noite inteira na balada por um mala peguento que não aceitava minhas negativas educadas. Quando me irritei de verdade e mandei o cara me deixar em paz, fui brindada com uma série de xingamentos agressivos e obscenos, tanto por parte dele como de seus amigos, que se juntaram em defesa do “injustiçado”. Vai então, sua vaca, frígida!, entre outras frases ofensivas e um empurrão. Em outras ocasiões, observei o mesmo tipo de palhaçada acontecendo com as minhas amigas. E conforme fui crescendo, percebi que esse era o tipo de coisa que invariavelmente acontecia com todas as mulheres e até tomava tons realmente violentos em alguns casos – como no caso da garota que teve o braço quebrado por um cara que não aceitou bem a rejeição.

Aos pouco, eu e minhas amigas fomos entendendo a dinâmica das interações na balada e aprendendo a não acabar a noite se sentindo como um monte de merda. Aprendemos a nunca andar sozinhas. Inventamos gestos que deveriam servir como sinais para pedir reforços umas às outras, caso a importunação de algum cara não fosse bem-vinda. Inventamos nomes e números de telefone falsos para dar aos malas, para que eles fossem embora sentindo que ganharam alguma coisa. Basicamente, para que não nos agredissem, física ou verbalmente. Hoje em dia, faço tudo isso sem nem pensar. Ao invés de mandar o cara que me encurralou na saída do banheiro e pegou na minha bunda tomar bem no meio do cu dele, que é o que eu realmente tenho vontade de fazer…

…eu sorrio gentilmente me desvencilhando e anuncio que estão me esperando para logo em seguida ser resgatada por umas duas amigas fiéis que já estavam por perto de plantão. Talvez ele baixasse a bola se eu fosse mais incisiva. Talvez. Mas eu não quero correr o risco de ser xingada ou agredida ou forçada a fazer alguma coisa. Eu não quero passar por isso de novo. Por isso eu uso estratégias e sou obrigada a sorrir lisonjeada e me esquivar quando na verdade estou irritada e amedrontada. Eu e mais um batalhão de outras mulheres. E é mais uma pequena liberdade que se vai.

4. Olhar quando alguém chama na rua

Parece realmente idiota, mas recentemente meu marido comentou comigo que eu devo andar realmente distraída pela rua, porque a tia dele já tinha passado por mim duas vezes naquela semana e buzinado e eu não tinha nem olhado. No começo eu fiquei pensando que eu devia estar realmente distraída e me senti meio mal por ter sido tão antipática. Mas aí comecei a pensar sobre isso e cheguei à conclusão que nunca olho quando alguém assovia para mim, chama sem ser pelo meu nome ou buzina. E vasculhando minha memória desde os meus 12 anos até agora consegui entender porque isso acontecia. Simplesmente porque, quando alguém chama na rua, as chances de ser alguém realmente conhecido são ínfimas comparadas às chances de ser um pervertido qualquer com alguma cantada obscena na ponta da língua.

Então eu nunca olho, correndo o risco de parecer extremamente antipática para algum conhecido. Eu e mais um batalhão de mulheres. E é mais uma pequena liberdade que se vai e a gente nem percebe.

5. Conversar com trabalhadores de construção civil na rua

Ok, esse item é bizarro, mas vou explicar. Sempre me intrigou muito o fato de o meu marido saber tanta coisa em relação a ferramentas, construção, encanamentos, fiação elétrica, mecânica – enfim, tudo que é tipicamente considerado como “coisas de homens”. Ele tem mais ou menos a mesma idade que eu, formação e interesses muito parecidos, mas por algum motivo sabe muito mais do que eu como todas essas coisas funcionam. Um dia desses, depois de ele demonstrar algum conhecimento particularmente absurdo sobre o conserto de alguns canos aqui de casa eu explodi:mas como é possível que você saiba uma coisa dessas? onde raios você aprendeu isso?! Ele parou para pensar um pouco e disse: ah…eu sempre perguntei muito. Sabe, para caras trabalhando em obras na rua. Para o faz-tudo do prédio…Tinha uma obra do lado do escritório durante muito tempo e eu ia lá fuçar de vez em quando…

Claro, eu sei que esse não é o caso de todos os homens, e eu sei muito bem que eu não sei quase nada dessas coisas por falta de interesse mesmo ou até porque essas coisas sempre foram consideradas de interesse masculino e eu sou menina (da mesma forma que eu sei muitas coisas sobre como tratar as unhas, enquanto meu marido não sabe nada – mas essa é outra discussão). Mas a resposta dele me intrigou. Porque se eu tivesse interesse em como se faz a fundação de um prédio eu procuraria saber mais através da internet ou de livros. Nunca que eu iria futricar na obra que está rolando do lado da minha casa. Isso porque nós, mulheres, temos um medo patológico de operários de obras. E isso se explica por anos de assédio verbais dessa classe de trabalhadores que todas nós tivemos que ouvir desde o momento que nossos seios começaram a aparecer por baixo do uniforme da escola (é fato que homens em grupo se sentem mais corajosos para falar merda para mulheres na rua – sejam eles operários de obras, sejam executivos de escritório). Mulheres não decidem simplesmente parar na rua para trocar uma idéia com um mestre de obras sobre o melhor tipo de telha para aquela construção. Não que eu ache que uma conversa assim seria impossível. Mas eu não consigo deixar de pensar: E se ele achar que você tem outras intenções? E se os colegas dele fizerem algum comentário desagradável? E se depois a desculpa dele for “mas ela estava dando bola, poxa!”. Melhor não arriscar. E mais uma pequena liberdade, a de falar com quem quiser sem medo, de buscar informação, de fazer amizades com pessoas diferentes – tudo isso se perde, entre tantas outras pequenas liberdade que se vão todos os dias sem que a gente se dê conta.


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BRASIL: ITAÚ ERRA, DERRUBA SIDERÚRGICAS E DEPOIS SE RETRATA


Relatório do banco Itaú BBA dizia que as dívidas das duas siderúrgicas não tinham proteção financeira contra a alta do dólar, mecanismo conhecido no mercado como "hedge"; as companhias negaram a vulnerabilidade e o banco foi obrigado a se retratar; o estrago, porém, já tinha sido feito: as ações da CSN despencaram 20,51%; as da Usiminas, 15,35%, diante da Bolsa paulista, que caiu em média 2% ontem

247 - Um relatório do banco Itaú BBA derrubou as ações da CSN e da Usiminas, duas das maiores siderúrgicas do país, nesta quarta (23). O texto dizia que suas dívidas não tinham proteção financeira contra a alta do dólar, mecanismo conhecido no mercado como "hedge".

As companhias negaram a vulnerabilidade e o banco foi obrigado a se retratar. Na correção do boletim anterior, afirma que a avaliação sobre a CSN estava "imprecisa". No entanto, não mencionou a Usiminas.

O estrago, porém, já tinha sido feito. As ações da CSN despencaram 20,51%. As da Usiminas, 15,35%, diante da Bolsa paulista, que caiu em média 2% ontem.

Leia aqui reportagem de David Friedlander sobre o assunto.


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BRASIL: LULA DESAUTORIZA REPORTAGEM DO 'ESTADÃO'


‘Nesta quinta-feira (24), o jornal Estado de S. Paulo inventa e atribui ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falsas afirmações na matéria "Para Lula, ‘melhor perder ministérios do que a Presidência’". Lamentamos que um jornal, que tem por objetivo informar, se ache no direito, baseado em supostas fontes anônimas, de atribuir e divulgar frases que simplesmente não existiram’, diz nota da assessoria de imprensa do Instituto Lula

247 – A assessoria de imprensa do Instituto Lula divulgou nota rebatendo uma reportagem do ‘Estado de S. Paulo’ sobre a reunião entre o ex-presidente e a presidente Dilma Rousseff sobre a reforma política. Leia a nota:

ESTADÃO INVENTA DECLARAÇÃO DE LULA

Nesta quinta-feira (24), o jornal Estado de S. Paulo inventa e atribui ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falsas afirmações na matéria "Para Lula, ‘melhor perder ministérios do que a Presidência’". Lamentamos que um jornal, que tem por objetivo informar, se ache no direito, baseado em supostas fontes anônimas, de atribuir e divulgar frases que simplesmente não existiram. O uso desse tipo de subterfúgio pela imprensa brasileira é desrespeitoso, não contribui para o debate político nacional e presta um desserviço aos leitores e cidadãos brasileiros.


Assessoria de Imprensa do Instituto Lula


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BRASIL: PARA IDEC, PRÊMIO DE GESTÃO HÍDRICA CONCEDIDO A ALCKMIN É UMA "AFRONTA"


Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) criticou duramente o prêmio concedido pela Câmara dos Deputados ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, pela boa gestão hídrica no Estado; "É um prêmio à leniência e à omissão total", disparou o gerente técnico do Idec, Carlos Thadeu de Oliveira; "É uma afronta ao povo paulistano", completou; São Paulo enfrenta a maior crise de abastecimento de água da sua história; ao falar sobre a premiação, Alckmin disse que "modéstia à parte, é merecido"

Por Sarah Fernanda, da Rede Brasil Atual – O anúncio ontem (22), pela Câmara dos Deputados, de prêmio ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, por boa gestão hídrica no estado, que enfrenta sua maior crise de abastecimento de água da história, foi considerado uma "afronta ao povo paulistano", pelo Instituto de Brasileiro de Defesa do Consumidor, que monitora os problemas de abastecimento no estado. A premiação ocorrerá em 13 de outubro.

"É um prêmio à leniência e à omissão total", afirmou o gerente técnico da instituição, Carlos Thadeu de Oliveira. "É uma afronta ao povo paulistano. O deputado que concedeu o prêmio (João Paulo Papa, do PSDB-SP) não sabe do que está falando." A indicação de Alckmin ao Prêmio Lúcio Costa de Mobilidade, Saneamento e Habitação 2015 ocorreu pelo fato de ele governar o estado brasileiro que mais se aproxima da universalização do saneamento básico.

O governador disse hoje que o prêmio, "modéstia à parte, é merecido", durante uma reunião dos Conselhos Comunitários de Segurança da Grande São Paulo (Consegs). "São Paulo é hoje um modelo para o Brasil do ponto de vista de recursos hídricos. Por quê? Primeiro, não teve seca só em São Paulo. Teve em 1.500 municípios. O único ente federativo que deu bônus para evitar desperdício foi São Paulo. Nenhum estado, nenhuma prefeitura, nem o governo federal, ninguém fez nada. Nós demos o bônus", disse.

"Sabemos que essa crise não é inesperada e o enfrentamento em São Paulo tem sido, tecnicamente, o pior possível, sem sequer planejamento e transparência", critica Oliveira. "Nenhuma das medidas que ele tomou tem nada de revolucionário nem de boa gestão. Ele demorou para implantá-las e ainda tem a pachorra de dizer que fez interligação de sistemas. Nós sabemos que as obras estão todas atrasadas e que são bem duvidosas do ponto de vista técnico. Além disso, não existe investimento. Na cidade de São Paulo, só 27% do esgoto é tratado. É uma vergonha."

O Sistema Cantareira, principal fornecedor de água para a Grande São Paulo, operava ontem com apenas 16,3% de sua capacidade, segundo dados da Sabesp. O Tribunal de Contas do Estado (TCE) informou que o problema da falta de água é resultado da falta de planejamento do governo paulista. O órgão relatou que a Secretaria Estadual de Recursos Hídricos (SSRH) recebeu vários alertas sobre a necessidade de um plano de contingência.

Já a coordenadora institucional da Proteste – Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, Maria Inês Dolci, acredita que o prêmio pode "incentivar o governador a realmente trazer para o estado uma solução para crise hídrica, que é a maior da nossa história". "Temos a questão também do problema de falta de água, que não é só em São Paulo, mas ele foi premiado por ações inovadoras, que podem fazer a diferença nesse momento."

Alckmin foi escolhido para o prêmio na categoria Personalidades, ao lado de Jaime Lerner (ex-prefeito de Curitiba e ex-governador do Paraná), indicado pelo deputado Toninho Wandscheer (PT-PR) pelo modelo de mobilidade urbana, de preservação de áreas verdes e de reciclagem implantado na capital paranaense; e de Eduardo Paes (PMDB-RJ), prefeito do Rio de Janeiro indicado pelo deputado Hildo Rocha (PMDB-MA), por conta da revitalização da Região Portuária da cidade.

O Prêmio Lúcio Costa de Mobilidade, Saneamento e Habitação foi criado pela CDU no último mês de julho e ocorrerá anualmente. De acordo com as regras, cada deputado integrante da comissão, entre titulares e suplentes, pode indicar até três nomes de entidade ou pessoa jurídica, e até três nomes de personalidades, todos ligados a uma das áreas: mobilidade, saneamento e habitação. A seleção dos premiados é feita por votação entre os parlamentares do colegiado.

A cerimônia de premiação da 1ª edição ocorrerá na abertura do 3º Seminário Internacional de Mobilidade e Transportes, no dia 13 de outubro, às 20h, no auditório Nereu Ramos, na Câmara dos Deputados. Os premiados receberão um diploma de menção honrosa, uma medalha e a estatueta Lucio Costa, criada e produzida pelo artista, escultor e músico Edgar Duvivier.


BRASIL: O PCC ESTÁ CADA VEZ MAIOR


Aniversário do grupo criminoso mostra que a facção está mais organizada do que nunca

Em Harry Potter, série de livros infantojuvenis, os bruxos bons acreditavam que não mencionar o nome do vilão Lorde Voldemort bastaria para mantê-los seguros. Mas Voldemort continuava lá, mesmo sem ser nomeado. O governo de São Paulo parece apostar na mesma estratégia. Um dos grandes esforços de “inteligência” para combater o PCC foi convencer a maioria dos meios de comunicação a não citar a facção criminosa. Seria uma maneira de não dar visibilidade ao bando e limitar sua expansão. Como no caso da saga da escritora J.K. Rowling, o resultado é desalentador. O PCC acaba de completar 22 anos com pompa e circunstância e com cada vez mais tentáculos.

Os integrantes do Primeiro Comando da Capital celebram em 31 de agosto o aniversário da facção. No fim do mês passado, a festa na Penitenciária Feminina de Sant’Ana, na zona norte da capital paulista, foi regada a cocaína, maconha e cachaça. Tudo gravado em celulares usados dentro da unidade. O vídeo mostra um pavilhão de dois andares com cerca de 200 detentas em festa sem nenhum agente prisional. Cada presa tem direito a cheirar uma parte da droga, que está disposta sobre uma bandeja onde se lê “PCC 1533 22 anos”.

Na quarta-feira 2, outro vídeo expôs o Departamento de Narcóticos da Polícia Civil, responsável por combater o tráfico no estado. Nas imagens, um anão gogo boy faz umstrip-tease diante de delegados e agentes durante a comemoração do aniversário de uma escrivã. Vexame total.

Enquanto o aparato de repressão passa vergonha, o PCC está mais organizado que nunca. Documentos de uma investigação da Polícia Federal e do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) de Piracicaba, interior de São Paulo, ligado ao Ministério Público, mostram um alto nível de hierarquização da quadrilha que tem acentuado as dificuldades de monitoramento.

A tabela mostra a contabilidade semanal do PCC na região de Sorocaba. O cadastro controla os integrantes

Há cerca de três anos, apontam as investigações, o sistema de comunicação preferido pelo PCC era o BlackBerry. Sediado no Canadá, o sistema possuía uma criptografia que impedia a interceptação de comunicações e durante muito tempo foi usado para se livrar dos grampos. Apenas a polícia americana possuía os códigos de acesso repassados posteriormente às autoridades brasileiras. Como a criptografia foi quebrada, a nova moda é o WhatsApp. O Sistema Guardião da Polícia Civil paulista não consegue interceptar as ligações e os bandidos sabem.

Apenas em casos excepcionais programas como o Skype e o WhatsApp são grampeados e a nova luta dos investigadores tem sido obter tecnologias adaptadas à nova era. Enquanto a investigação paulista patina com vídeos de festas em delegacias e presídios, o crime organizado se aperfeiçoa. É o que mostram os relatórios das investigações federais e do Ministério Público.

A estrutura organizacional do PCC chama a atenção pelo seu estatuto, a contabilidade e a capilaridade nos demais estados e até no exterior. Para entender como a quadrilha funciona, a investigação fez um mapeamento detalhado da facção. A clareza de propósitos da quadrilha começa pela última atualização de seu código de conduta. O documento com 18 artigos mostra que seus integrantes vivem especificamente da prática de crimes, especialmente o tráfico de drogas (apelidado de progresso), ignoram as leis brasileiras e o Judiciário, tratam as polícias como inimigas e suas ações servem como referência para o mundo do crime.


O organograma do PCC lembra aquele de uma empresa. Em formato piramidal, as principais lideranças ocupam os postos conhecidos como “sintonias”. A cabeça da organização é chefiada pela Sintonia Fina Geral, composta de sentenciados considerados fundadores da organização criminosa, e pelo líder máximo, Marcos Willian Herbas Camacho, o Marcola.

As penas somadas dos líderes passam dos 500 anos de cadeia. Entre as “sintonias” mais importantes destacam-se a do “financeiro”. Nesse setor são colocados apenas integrantes com alto grau de confiança da cúpula. A forma de financiamento da organização é diversificada e detalhada. A arrecadação principal vem especialmente do tráfico nas ruas, mas também do comercializado nas cadeias. É o chamado Progresso 100%. Nas penitenciárias, uma parte deve ser encaminhada à organização.

Quem está fora do sistema prisional, também precisa colaborar com a facção. A Cebola (caixinha mensal) é responsável por arrecadar 650 reais de cada integrante solto, uma contribuição compulsória que, quando não paga, pode levar a alguma punição do integrante.

Há também as rifas. A cada dois meses são sorteados apartamentos, casas, veículos (carros e motos). O membro da quadrilha tem o dever de comprar 20 rifas, ao custo de 30 reais cada, bimestralmente. Com as contribuições, o integrante passa a ter direitos. O Sintonia da Ajuda é o setor responsável por prestar apoio financeiro a quem estiver preso ou em dificuldades. Familiares de integrantes da organização que tenham morrido em missões dadas pela cúpula também recebem auxílio. Ônibus são colocados à disposição na capital paulista para transportar visitas aos presídios no interior.

Há uma denominação especial na contabilidade da facção chamada de Mineral. Uma Mineral significa o montante de 1 milhão de reais a ser escondido por alguém de confiança da cúpula da organização. Esse valor geralmente é enterrado e somente quem o guardou sabe a exata localização.


Para fazer parte, é necessária uma cerimônia de iniciação. Acredita-se que a ritualística tenha paralelo com aquela dos maçons. O novo integrante é “batizado” por outros três e passa a ser conhecido como irmão e a esposa ou companheira é tratada como cunhada. O iniciado ganha um número de identificação, o mesmo usado pela Secretaria de Administração Penitenciária para o registro do detento no sistema carcerário. Caso nunca tenha sido preso, terá em seu registro a expressão: “Nunca foi privado”.

Todas as informações são catalogadas em um programa de computador que fica nas mãos de integrantes próximos à cúpula da organização. Nesse cadastro há um alto nível de detalhamento da vida pregressa do bandido. A ficha contém informações básicas como número de telefone, apelido, onde está localizado, data em que passou a fazer parte do PCC, o nome dos três padrinhos de batismo na quadrilha e a última unidade prisional pela qual passou, até se ele já foi punido pela organização em algum momento.

O PCC, estima-se, movimenta por ano 120 milhões de reais e mexe com muitos interesses. Não foi à toa que a última grande crise com o Estado, em 2006, provocou 564 mortes. Segundo o depoimento de um delegado, um acordo foi feito entre Marcola e o governo estadual para cessar os ataques. Os tucanos, que governam São Paulo há duas décadas, sempre negaram o acordo. 

*Reportagem publicada originalmente na edição 867 de CartaCapital, com o título "Operação Voldemort"


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BRASIL: POR QUE MATARAM MEU PAI


O trabalho do meu pai seria só comentar futebol, se esse fosse apenas futebol. Acontece que não é. Os clubes se transformaram em verdadeiras máfias.

Até 2012 eu era só um advogado tributarista. Não que ignorasse as questões da segurança pública e da violência, mas as pensava de forma abstrata, como qualquer pessoa. Após ter concluído o curso de Direito pela Universidade Federal de Goiás (UFG), passei um ano trabalhando em um grande escritório do Recife. Retornei a Goiânia com o objetivo de montar banca própria, incentivado por meu pai. Naquele ano, voltei a morar com ele.

Estava esperando por ele quando recebi o fatídico telefonema, às 14h22 do dia 5 de julho de 2012. Na véspera ocorrera nossa última conversa. Ele entrara na sala de televisão para me perguntar rapidamente sobre uma empresa que havia me contatado e fora dormir. No dia seguinte saiu cedo, não o vi. Fui almoçar em casa para conversarmos melhor depois do seu programa.

Num dia normal, no máximo às 14h15, seu Ford Ka preto já teria estacionado no portão; a rádio ficava ali perto. Passaram alguns minutos, olhei o relógio do celular, mas não me preocupei. Eis que o aparelho toca. “Valerinho, pelo amor de Deus, vem aqui pra rádio que seu pai tomou um tiro”, disse Lorena, minha madrasta, aos prantos. Antes que eu fizesse qualquer pergunta, a ligação caiu, ou ela desligou. Não sei.Meu pai era radialista e jornalista, comentava futebol das 12h00 às 14h00 na Rádio Jornal 820 AM, atual Rádio Bandeirantes. Era conhecido como “o mais polêmico do rádio” por não medir palavras nas ácidas críticas que dirigia às gestões dos cartolas goianos; citava nomes e fatos concretos, fugindo dos comentários genéricos adotados por outros profissionais.

Telefonei então para o administrador da emissora, Pedro Gomes, que atendeu de pronto. “Pedro, que história é essa de que meu pai tomou um tiro?” “Onde você está?”, perguntou ele. “Em casa”, respondi. “Vou mandar um carro da rádio aí, que seu pai levou uns tiros.”
O plural me apavorou. Alguns minutos depois chegou o Fiat Uno plotado. Sentei no banco do passageiro e Elisvânia, a coordenadora financeira da Jornal, do banco de trás passou a mão em meu ombro, numa condolência. No caminho parentes e amigos me ligavam, mas ninguém dizia nada específico. Só perguntavam se estava tudo bem. Quando o carro chegou na esquina da Teixeira de Freitas, rua da emissora, não conseguiu seguir devido ao acúmulo de gente. Desci e continuei o trajeto a pé até avistar a cena que mudaria minha vida pra sempre: a esquina onde, cercado por faixas de isolamento, o Ford Ka preto estava parado na diagonal, com as duas portas abertas e os vidros crivados de balas.

Um detalhe me perturbou particularmente: o pé do meu pai pendendo pra fora do carro, com seu tênis cinza e aquela meia levantada da qual eu sempre caçoava. Não tive coragem de me aproximar. Fiquei parado, incrédulo. As vozes e as imagens pareciam oriundas de outro mundo. Ainda assim, precisei dar a notícia à minha irmã caçula, que ligava sem parar: “Nosso pai morreu, Laura”.

Minutos depois chegou meu avô Manoel de Oliveira, radialista e jornalista há 50 anos. “Mataram meu filho!”, gritou. O choro e os brados daquela voz poderosa – e conhecidíssima dos goianos – delinearam no rosto de todos a mesma consternação: como as coisas chegaram a este ponto?



Cresce a tensão

Em depoimentos na Delegacia Estadual de Homicídios (DIH), todos os colegas de meu pai, tanto da Rádio Jornal quanto da PUC-TV, onde era comentarista do programa Mais Esportes, concordaram em um ponto: recentemente houvera uma escalada nas severas críticas do jornalista à diretoria do Atlético Clube Goianiense, que numa ascensão meteórica saíra da série C para a série A do Campeonato Brasileiro, mas encontrava-se em má fase na competição de 2012.

Uma figura em particular se destacava: o poderoso empresário Maurício Sampaio, então vice-presidente do time, cargo que ocuparia até o fim de junho, ou seja, apenas dias antes do assassinato. Ele era velho conhecido do meu pai.

Cinco temporadas antes, em 2007, meu pai viajara ao Piauí para narrar, pela TV Brasil Central, afiliada da Cultura em Goiás, o jogo Barras (PI) vs. Atlético (GO), que valia classificação ao quadrangular final do Campeonato Brasileiro na série C daquele ano. Hospedado no mesmo hotel do clube goianiense, ele afirmou ter descoberto uma tentativa de compra da partida. Duas temporadas depois, em 2009, Valério denunciou o uso de drogas por alguns jogadores nas dependências do clube. Foi processado. Quem compareceu à audiência foi o próprio Maurício, mas a ação judicial não seguiu adiante.

Nada se compara, porém, àquele sinistro primeiro semestre de 2012, quando as críticas à diretoria rubro-negra se intensificaram, chegando a uma tensão pública e notória. “Uma vaca na árvore”, dizia o jornalista sobre a presença do Dragão na elite do futebol brasileiro. “Se um dia você estiver andando e vir uma vaca na árvore, pode até não saber como ela subiu lá, mas sabe que vai cair.” O time de Campinas – bairro mais antigo de Goiânia, precedente, aliás, à construção da capital – era figura constante na zona de rebaixamento do campeonato. “O Atlético está na série A, mas não é time de série A, não”, disparava meu pai em seus programas.

O jornalista atribuía a escalada do clube campineiro a uma injeção de dinheiro oriunda de “patrocinadores tenebrosos”, como a Linknet, envolvida no escândalo que derrubou José Roberto Arruda do Governo do Distrito Federal após a Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, e a Delta Construções, protagonista da famosa Operação Monte Carlo, que resultou na cassação do então senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

Não por acaso, Valdivino de Oliveira, enquanto presidente do Atlético Goianiense, foi secretário da Fazenda do governo Arruda e posteriormente eleito deputado federal pelo PSDB. Outro deputado federal, Jovair Arantes, líder do PTB na Câmara e principal articulador da “bancada da bola”, era membro do Conselho Deliberativo do Dragão Campineiro. Já Carlinhos Cachoeira e Demóstenes Torres, então acusados de lobistas da Delta em Goiás, eram – e ainda são – amigos pessoais de Maurício Sampaio.

Em suma, meu pai, torcedor do Atlético, afirmava que a diretoria atleticana usava o brasão do clube para captar dinheiro escuso e criticava Sampaio, em particular, por supostamente utilizar recursos para a aquisição de jogadores que mal seriam testados em campo e serviriam apenas de lucro nas futuras negociações com outros cartolas.

Em 2012, com 49 anos de idade, meu pai tinha 35 de carreira, trabalhara em praticamente todos os veículos de rádio e televisão de Goiás como repórter convencional ou comentarista esportivo. Começara ainda adolescente, puxando fio de microfone no campo do Estádio Serra Dourada, e sempre levou o jornalismo a sério. No fundo, era só isso. Já que estava comentando futebol, comentaria de verdade. Afinal, para que discutir a qualidade técnica de um jogador que mal seria utilizado?

O trabalho do meu pai seria só comentar futebol, se esse fosse apenas futebol. Acontece que não é. Os clubes no Brasil se transformaram em agremiações de velhos políticos, coronéis. Escondem verdadeiras máfias. Não bastasse a triste campanha no Brasileirão de 2012, o Atlético perdeu a final do Campeonato Goiano. A diretoria do Dragão culpou a Federação Goiana de Futebol, acusando-a de escolher árbitros favoráveis ao time adversário. Comentando a polêmica na PUC-TV, em meados de junho, meu pai reabriu uma antiga ferida: “Querem que a Federação roube o título pra vocês? O problema é que lá no Atlético tem muito disso, nego acostumado a fazer mutreta, a tentar comprar resultado, como lá em Piauí, né, senhor Maurício Sampaio?”.

As críticas prosseguiram nos programas seguintes. Meu pai comentava, em debates ao vivo com outros jornalistas, boatos de que Sampaio chegara a pagar a torcida organizada rubro-negra para pichar os muros do próprio clube com xingamentos a jogadores, e até a dirigentes, se ocasionalmente caíssem no desagrado do vice-presidente. Logo as represálias começaram, atingindo, primeiro, outro profissional da imprensa.

Também comentarista esportivo, Charlie Pereira era colega do meu pai na PUC-TV e trabalhava para Maurício na Rádio 730 AM. Sim, o cartola e então cartorário era, e ainda é, “dono” de rádio. Adquiriu o controle da emissora no início de 2012, em sociedade com o advogado Neilton Cruvinel Filho e o apresentador Joel Datena, filho do popular apresentador José Luiz Datena.

A 730 é a rádio mais tradicional do jornalismo esportivo goiano. Meu avô, com sua popular “Equipe do Mané”, manteve uma bem-sucedida programação esportiva na então Rádio Clube durante os anos 1980. Em 1997, a emissora foi reinaugurada por Jorge Kajuru sob a alcunha “Rádio K do Brasil”, em homenagem a Juca Kfouri. Só em 2003 ela foi batizada de “730”, referência à frequência da onda de transmissão. E foi na 730 que Charlie recebeu o ultimato: ou ficava na rádio ou na TV. Sampaio não queria nenhum dos “seus” dividindo bancada com meu pai.

Ainda em meados de junho de 2012 surgiram boatos de que Maurício deixaria a diretoria do Dragão em razão de desavenças financeiras com o clube. Instado a comentar o assunto, meu pai afirmou que o “deselegante” e “aborrecido” Sampaio era “descartável” e, por fim, pronunciou a expressão que seria celebrizada pelas crônicas policiais: “Meu amigo, você pode ver em filme de aventura, quando o barco está enchendo de água, os ratos são os primeiros a pular fora”.O jornalista deixou então a PUC, fazendo com que um dos coordenadores do programa, Daniel Santana, procurasse Maurício na intenção de dissuadi-lo da absurda exigência. O encontro se deu no 1º Tabelionato de Protestos e Registro de Pessoas Jurídicas, Títulos e Documentos de Goiânia, vulgo “Cartório WSampaio”, que o cartola ocupava interinamente (sem concurso) desde 1988, ano do falecimento do antigo tabelião, seu pai, Waldir Sampaio. “Quem não está comigo está contra mim”, foi sua resposta segundo Daniel.

A frase acirrou ainda mais os ânimos. No dia 19 de junho, o Atlético Clube Goianiense enviou cartas à PUC-TV e à Rádio 820 proibindo-as de entrar nas suas dependências, vestiários ou em quaisquer instalações ocupadas pelo time. O documento, assinado pelo presidente Valdivino de Oliveira e o vice Maurício Sampaio, classificava meu pai como “persona non grata”.

A partir daí meu pai começou a demonstrar uma incomum ansiedade. Falava em abandonar o jornalismo e passou a portar, secretamente, uma pistola taser. Um dia eu o flagrei guardando o objeto. “Para proteção”, disse, constrangido. Um jornalista seu amigo, André Isac, conta tê-lo procurado naqueles dias com uma denúncia séria contra o Atlético, um furo de reportagem. “Ele parecia mais carregado e disse: ‘Olha, vou te pedir uma coisa: não fala disso não, porque não vale a pena. Essas pessoas são muito perigosas’”, relatou André.

Dias depois, minha madrasta diria à Polícia Civil ter ouvido do esposo que Maurício “estava fazendo de tudo para que fosse demitido da rádio e da TV, inclusive oferecendo patrocínios mensais”.



Uma carta anônima


Meu pai foi sepultado na manhã do dia 6 de julho, com presença massiva da imprensa goiana, de familiares, amigos e autoridades, inclusive o governador de Goiás e o prefeito da capital. Lembro de, ao me aproximar do caixão, fixar-me na sua mão esquerda, que estava enfaixada. Uma bala a atingira quando ele fez “posição de defesa”, segundo os peritos e legistas. A maior referência da minha vida estava ali, envolta em flores. Meu pai, a quem devo meu nome.
Desde aquela manhã a imprensa só falava sobre o crime. Todos os parentes, amigos e conhecidos eram gentis comigo, fazendo o possível para me distrair. Mas isso ficou ainda mais difícil quando uma carta anônima chegou às redações de todos os jornais de Goiânia.
Com o título “Nada muda na PM goiana”, a denúncia foi amplamente divulgada e caiu como uma bomba tanto na Secretaria de Segurança Pública quanto em meu coração. Dizia: “O assassinato do jornalista Valério Luiz, filho do Mané de Oliveira, tem ligação direta com o Tenente Coronel (e se ‘deus’ abençoar e o Governador assinar, futuro coronel) Urzeda que todos sabem é intimamente ligado à diretoria do Atlético, uma das principais vítimas dos comentários da vítima [meu pai]”.

A seguir, o texto era ainda mais preciso: “Quem executou o jornalista foi o SD Figueiredo do CME2, se houver um reconhecimento do mesmo pelas testemunhas não haverá dúvidas. Estão organizando uma acusação contra um menor de idade, que ou irá assumir, ou irá morrer, e a arma do crime será plantada com esse indivíduo, podem anotar isso aí, se não der tempo dessa informação chegar no comandante Urzeda”.

Depois de lê-la, lembro de perambular horas a fio pelo parquinho do prédio da minha tia, pensando. Sentia-me ridiculamente pequeno e impotente. Era horrível a sensação de que forças muito maiores, inclusive do Estado, se movimentaram para matar meu pai. Não hesitariam, pensei, em atingir a mim e à minha família. Decidi sair à rua o mínimo possível.
O tal tenente-coronel Urzeda era não só “intimamente ligado à diretoria do Atlético” como foi diretor de relações públicas do time até as vésperas do assassinato. Renunciou no dia 19 de junho, por escrito, em solidariedade a Maurício Sampaio, a quem chamou de “homem de personalidade forte, leal, amigo, de conduta ilibada”. Mesmo assim, em constantes entrevistas, inclusive no velório, prometia “ajudar nas investigações”. Em resposta, minha família mostrou a delicada posição do tenente-coronel e pediu seu afastamento do caso. Fomos atendidos.

Semanas e semanas se passaram, no entanto, sem nenhum avanço.Ainda em julho, no dia 21, fizemos um protesto por justiça no Estádio Serra Dourada, antes do jogo Goiás (GO) vs. Avaí (SC), que valia pelo Campeonato Brasileiro da série B de 2012. Os jogadores do Verdão entraram em campo vestindo camisetas estampadas com a foto do meu pai e a inscrição: “Não deixem que o povo esqueça esse crime”. Faixas da Associação dos Cronistas Esportivos do Estado de Goiás (Aceeg) exigiam resposta das autoridades.

Outubro, novembro e dezembro foram marcados pela troca do secretário de Segurança Pública e por audiências com o governador Marconi Perillo, que, em duas ou três oportunidades, convocou ao Palácio das Esmeraldas os delegados encarregados do inquérito e, na presença do meu avô, requereu empenho. A imprensa não só lembrava constantemente o caso como fazia uma espécie de diário das investigações, principalmente o Jornal Opção, através de renitentes notas de seu editor-geral, Euler Fagundes de França Belém.

Em fevereiro de 2013, sete meses depois do crime, quando a ansiedade já ficava insuportável para mim, foi o próprio Euler que me ligou. “Valério, está sabendo das prisões no caso do seu pai?” Corri para a delegacia.

Era meio-dia, e jornalistas se amontoavam em volta da delegada Adriana Ribeiro. Ela falou sobre um açougueiro, Marcus Vinícius Pereira Xavier; um sargento da PM, Djalma Gomes da Silva; e um empregado de Maurício Sampaio, Urbano de Carvalho Malta. Comentava-se que o assassinato fora organizado pelo sargento e por Urbano. Mas faltava uma peça no quebra-cabeça.

Na manhã seguinte, li a notícia na internet, incrédulo. Maurício Sampaio acabara de ser preso.

Ao cabo de quase oito meses de investigação, a Polícia Civil encerrou o inquérito, indiciando o cabo Ademá Figuerêdo Aguiar Filho como o autor dos disparos, o açougueiro como partícipe, o sargento Djalma como primeiro operador, Urbano de Carvalho Malta como o segundo operador. O empresário e cartola Maurício Borges Sampaio foi apontado como mandante. Eis o que diz o inquérito.


Como se mata um jornalista

Marcus Vinícius Pereira Xavier, vulgo Marquinhos, possuía um açougue no bairro Parque Amazonas, em Goiânia, e tinha como cliente o sargento Djalma Gomes da Silva. Paralelamente ao açougue, mantinha uma vida criminosa, com passagens pela polícia por assalto e roubo de carros. Devido à amizade com o PM, era acobertado e em troca repassava informações sobre outros bandidos.

Segundo Marquinhos, Da Silva o procurou no açougue solicitando ajuda a “um amigo”. Dias depois, em 3 de julho, reapareceu na companhia de Urbano de Carvalho Malta. Precisavam “passar um susto” em um indivíduo, disseram, a mando do “patrão de Urbano”. Pediram que Marcus arrumasse uma motocicleta – a sua foi rejeitada por ser amarela, chamativa. Providenciou então a Honda CG preta de seu pai, além de uma camiseta velha e um capacete. Mais tarde, Da Silva voltou ao açougue sozinho e deixou um revólver calibre 357 carregado. Dois dias depois, era chegada a hora.

Naquela manhã, Marquinhos foi avisado que Figuerêdo passaria perto das duas da tarde. O policial chegou em um Fiat Palio azul-escuro, vestiu a camiseta, o capacete, pôs o revólver na cintura e acelerou com a moto rumo à Rádio Jornal 820 AM, ali perto. Não muito depois, os objetos e a Honda foram devolvidos. Marcus queimou a camiseta. A arma estava descarregada.

O inquérito relata que uma das testemunhas viu um motoqueiro parado na contramão da avenida T-5, como se esperasse algo. Ele dobrou na estreita rua da emissora ao mesmo tempo que a testemunha, que desacelerou a moto, com medo, e foi ultrapassada. Em segundos soaram os estampidos. Um comentarista da Jornal, Alípio Nogueira, saiu para checar o barulho. Ouviu uma voz dizer “liga pro Da Silva”.

A voz era de Urbano de Carvalho Malta, que, logo após a fuga do atirador, abriu a porta do carro e se inclinava sobre a vítima ainda agonizante. “Vou ligar pra ambulância”, respondeu Alípio, sem entender. Os primeiros a chegar, contudo, foram equipes especializadas da Polícia Militar. Segundo relatos de uma testemunha, intimidaram trabalhadores braçais de uma construção contígua, que poderiam ter visto demais.

Da Silva fazia segurança para Maurício em dias de jogos. Em troca, recebia dinheiro e isenção de mensalidade para os filhos numa escola de propriedade do cartola. Assim como o colega, Figuerêdo costumava acompanhar o ex-vice do Atlético ao Estádio Serra Dourada. Tanto o cabo quanto o sargento eram seguranças também de Joel Datena. Na véspera do homicídio, Urbano de Carvalho Malta se mudara para um casebre em frente à Rádio Jornal, onde não pagava aluguel e mantinha vigilância sobre a rotina de meu pai. O imóvel pertence a Maurício Sampaio. Nos depoimentos do inquérito, consta que Urbano chegou a levar Marquinhos até lá e dizer “esta é a casa em que eu trabalho”.

O tráfego de ligações foi intenso entre todos os acusados naquele 5 de julho, tendo sido identificada até mesmo uma chamada feita da cena do crime, de Urbano para o cartório WSampaio. Estava clara a circunstância: à medida que se aproximavam as 14h, Urbano se colocou na calçada e, por celulares “bodinhos” – comprados e registrados num CPF laranja apenas para o crime –, comunicou-se com Figuerêdo, deixando-o de sobreaviso. Quando meu pai saía da emissora, uma última e curta ligação, de 10 segundos, registrada às 13h59min17s, deu a ordem fatal.

Meses depois, o pai de Marcus relatou que o filho lhe confessou a participação no assassinato numa ocasião em que assistiam a notícias a respeito. O irmão dele também confirmou, e um primo acrescentou que, segundo Marcus, o mandante foi Maurício Sampaio.


Duelo nos jornais, duelo nos tribunais

Já no dia 28 de fevereiro foi julgado o primeiro habeas corpus (HC) impetrado a favor de Maurício Sampaio. A sala de sessões da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça mal comportava tanta gente. O relator, o desembargador José Paganucci Júnior, votou pela manutenção da prisão temporária, mas outro desembargador, Gerson Santana Cintra, surpreendeu a todos.

Gerson Santana, que sempre atuara no cível e apenas havia dias estava na 1ª Câmara Criminal, expôs uma fundamentação mais longa que a sustentação oral do advogado de defesa e votou pela soltura. O voto foi acompanhado pelo presidente da sessão, Ivo Fávaro, ao passo que a desembargadora Avelirdes Pinheiro optou por manter a prisão. Um quinto magistrado, Itaney Francisco Campos, chegou atrasado e não pôde votar. Como o empate beneficia o réu, por dois votos a dois o Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) concedeu o habeas corpus.

“Liberdade para Maurício Sampaio é o mínimo a se fazer pela democracia”, chamava o título de um dos seus artigos no jornal Diário da Manhã. Respondi com dureza, dias depois, no mesmo jornal: “’Pela democracia?’ Talvez o pior defeito das palavras seja não poderem se defender quando usadas cretinamente […]. Não precisamos que nos ensine o que é democracia. Nós nos lembramos da Constituição e não confundimos seus artigos, incisos e alíneas com os do Código Civil, Parte Especial, Livro I, Título VI, Capítulo I: ‘Da Compra e Venda’”. A tréplica chamou-me de acusador e analfabeto.No dia seguinte, o juiz Lourival Machado da Costa, da 2ª Vara Criminal de Goiânia, substituiu a prisão temporária por prisão preventiva, e em 2 de março o cartola estava encarcerado novamente. A essa altura, segundo jornalistas amigos nos contaram, funcionários da Rádio 730 haviam sido acionados para defender o patrão em rasgados editoriais. Nas páginas dos jornais, nos digladiávamos com o então chefe de jornalismo da emissora, Nilson Gomes, ex-assessor de Demóstenes Torres e detentor da língua mais ferina de Goiás.

No meio desse turbilhão, um segundo habeas corpus foi impetrado. O julgamento aconteceu em tempo recorde. Muito criticado pelo atraso no julgamento anterior, que resultou na soltura do cartola, o desembargador Itaney justificou-se e dessa vez proferiu extenso voto mantendo a prisão preventiva. Uma tremenda vitória, inesperada. Pensei que a situação estava estabilizada pelo menos até o interrogatório dos réus. Por isso, foi com surpresa e curiosidade que ouvi, ainda em abril, sobre o terceiro habeas corpus.

Ao folhear a petição, me assombrou a engenhosidade da manobra. Em entrevista a um jornal goianiense, a viúva do meu pai comentara ter ouvido “que pessoas ligadas a Maurício Sampaio estariam procurando Marcus Vinícius […], oferecendo dinheiro”. Aproveitando a deixa, um dos advogados de defesa, Ruy Cruvinel Neto, requereu ao 4º Distrito Policial de Goiânia a instauração de investigação de calúnia por parte de Lorena.

O responsável pelo distrito, delegado Manoel Borges de Oliveira, esperou alguns dias e mandou seu adjunto, Everaldo Vogado da Silva, instaurar inquérito. Então Manoel Borges foi até a carceragem onde se encontrava Marquinhos e pediu para conversar “informalmente” com ele. Sem a presença de advogado, ao açougueiro foi requisitado assinar termo de depoimento no qual constava a frase: “Que não tem conhecimento da participação de Maurício Sampaio no episódio que resultou na morte de Valério Luiz”. Manoel Borges não assinou a diligência de próprio punho, solicitou que o adjunto assinasse em seu lugar e repassou tudo à defesa de Maurício.

A partir desse momento, a estratégia foi esperar as férias do desembargador Itaney. No dia 30 de abril, início do descanso do magistrado, foi protocolado o famigerado habeas corpus sob a justificativa do novo depoimento de Marquinhos. O desembargador substituto submeteu-o a julgamento e, por três votos a dois, Sampaio foi solto mais uma vez.

Com a grande repercussão negativa, o delegado-geral da Polícia Civil de Goiás afastou Manoel Borges do 4º Distrito Policial de Goiânia e determinou a investigação da sua conduta. Teve então início outro episódio folclórico: afirmando-se injustiçado, o delegado convocou coletiva de imprensa e apresentou um vídeo, a gravação do clandestino depoimento tomado de Marcus Vinícius na Delegacia Estadual de Homicídios. Aos repórteres, alegou ter gravado a ocasião “para se preservar”, pois já antevia “perseguições futuras”.

As imagens, feitas por um celular e sem o consentimento do depoente, ironicamente serviram de prova tanto contra o delegado quanto contra o ex-vice do Atlético, pois não corroboraram o termo de depoimento usado no habeas corpus: não continham a frase que teoricamente inocentava Maurício Sampaio. Os corregedores concluíram que Manoel Borges inseriu informações falsas em documento público (depoimento de inquérito) visando beneficiar Sampaio. Até hoje, no entanto, nenhuma punição administrativa foi aplicada ao delegado, que hoje comanda o 7º Distrito Policial de Goiânia.


Os pecados do padre

Na véspera do julgamento de um embargo contra o último habeas corpus concedido a Maurício, um inusitado encontro no TJ estadual me deixou boquiaberto. Envolveu um padre muito popular em Goiânia, Luiz Augusto, que não só visitara Maurício Sampaio na cadeia como testemunhara em seu favor, relatando as gordas doações oferecidas à paróquia, e dera até entrevistas apregoando a inocência do réu.

Estava eu visitando os gabinetes de todos os desembargadores da 1ª Câmara Criminal e entregando memoriais explicativos sobre como o delegado Manoel Borges, em conluio com a defesa de Sampaio, os induzira a erro. Ao chegar a vez da desembargadora Avelirdes Pinheiro, pediram-me que esperasse na recepção, pois ela estava com alguém na sala. Minutos depois, aparecia a magistrada no corredor, acompanhada do padre Luiz Augusto, para orar com os servidores.

Ao me avistarem, ficaram brancos. Num gesto constrangido, o religioso chamou-me para junto aos outros. Neguei balançando a cabeça. Daquela oração eu não participaria, pois mandar padre conversar com desembargadora católica fervorosa um dia antes de ela votar embargos sobre a soltura de um assassino definitivamente não era obra de Deus. Ao fim do pai-nosso, Luiz Augusto e Avelirdes vieram conversar comigo.

Por ironia, o padre é quem tinha pecados a confessar. Justificou-se alegando não ter condições de saber se Maurício é culpado ou inocente. “Mas em entrevistas o senhor afiançou a inocência”, respondi, acrescentando que a condição de religioso conferia credibilidade a tais declarações perante os fiéis. O pároco prometeu então jamais tocar no assunto novamente. Hoje, responde a processo por receber salário da Assembleia Legislativa goiana como funcionário fantasma, conforme revelou uma reportagem especial do Fantástico.


Uma canetada, a liberdade e o Facebook

Com Maurício solto, em 27 de maio iniciaram-se as audiências de instrução. Eu e dois promotores de justiça fazíamos as perguntas da acusação. Do outro lado amontoavam-se advogados que conversavam na orelha uns dos outros sem parar.

No segundo dia de audiência, 28 de maio, os advogados de Da Silva, Figuerêdo, Urbano e Marquinhos, ancorados no habeas corpus concedido a Sampaio, pediram a soltura de seus clientes. O Ministério Público requereu vista dos autos para se manifestar, mas o juiz negou. Então, em 30 de maio, um dia antes de entrar de férias, o juiz Antônio Fernandes de Oliveira revogou todas as prisões preventivas, numa canetada só. Critiquei publicamente a decisão, pois o interrogatório dos réus não estava concluído e um deles, o açougueiro, disse em seu depoimento ter sido ameaçado de morte por Da Silva.

Com a soltura dos réus, Marcus Vinícius não compareceu em juízo para ser interrogado. Desapareceu.

Meses mais tarde recebi uma ligação de uma senhora do Real Conquista, periferia de Goiânia, dando pista do seu paradeiro. A sogra do açougueiro possui um salão de beleza naquele bairro e comentara com clientes que a família estaria em Portugal.

Como saber com certeza e provar isso para a Justiça? Foi quando soube que a esposa de Marquinhos mantinha uma conta no Facebook. Entrei no perfil sem grandes expectativas, mas, acreditem, estava tudo lá: fotos do casal na tranquila região de Caldas da Rainha. Uma delas continha até agradecimentos a Deus pela “segunda chance”. Imprimi as imagens imediatamente, enviei à imprensa e pedi nova prisão preventiva. Sem demora, o juiz Lourival Machado me atendeu.

O mandado de prisão foi entregue às autoridades lusitanas e o nome Marcus Vinícius Pereira Xavier, incluído entre os procurados pela Organização Internacional de Polícia Criminal, a Interpol. Em 7 de agosto de 2014, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras português capturou o fugitivo. Seguiu-se o processo de extradição, que só foi finalizado em 28 de novembro de 2014, com a chegada do açougueiro ao Brasil. Hoje ele está detido no Complexo Prisional Odenir Guimarães, em Aparecida de Goiânia, e ainda não se sabe com que dinheiro transportou a família inteira para a Europa, onde viveram por mais de um ano.


Ligações também no Judiciário

A cada ano completado desde o covarde homicídio do meu pai, realizamos uma manifestação pelas ruas de Goiânia. No primeiro deles, 5 de julho de 2013, centenas de pessoas ocuparam a Praça Cívica para homenageá-lo e pedir justiça. Em 3 de outubro daquele ano, realizamos na Assembleia Legislativa de Goiás uma audiência pública chamada “Imprensa por Valério”, exigindo a proteção dos profissionais da imprensa. Visitamos duas vezes a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, em reuniões com as ministras, além da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Fizemos, ainda, um pedido pela federalização do caso, em reunião com o procurador-geral da República.

Tantos esforços de divulgação do caso foram engendrados em razão de um temor específico: o peso da influência de Maurício Sampaio no Tribunal de Justiça de Goiás. Afinal, eram quase 25 anos à frente de um cartório milionário, o WSampaio, que em 2013 foi o 4º cartório mais rentável do Brasil, chegando a faturar R$ 5 milhões por mês.Participei do 6º Fórum Liberdade de Imprensa e Democracia, realizado em Brasília, com a presença do Committee to Protect Journalists (CPJ), que, no mesmo dia, entregou à presidente Dilma Rousseff um relatório com 12 episódios de jornalistas assassinados no exercício da profissão desde a sua posse em janeiro de 2011. Entre as mortes listadas, a do meu pai.

Soube mais sobre os meandros das ligações do tabelionato ao buscar uma fiscalização do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) daquele ano. Encontrei graves irregularidades identificadas no cartório WSampaio, o que me levou a redigir uma Ação Popular pedindo o afastamento de Sampaio. Entre elas, pagamento de notas fiscais frias emitidas por empresas de fachada, algumas abertas por funcionários do próprio cartório; cobrança de emolumentos acima das tabelas fixadas pela Corregedoria do Tribunal de Justiça, lesando milhares de consumidores; registros de documentos em sistema paralelo, fora dos livros oficiais; e até a assunção de despesas do Atlético Clube Goianiense, segundo consta no relatório do CNJ.

Mesmo assim, magistrados do TJ de Goiás mantinham no cargo cartorários interinos, como Maurício Sampaio, passando por cima das determinações do CNJ.

Num exemplo marcante, uma série de decisões de um famoso juiz local, Ari Ferreira de Queiroz – que, na TV, chegou a criticar a prisão preventiva de Maurício Sampaio pelo assassinato –, concedeu uma espécie de monopólio de registro de veículos ao Cartório WSampaio.

Eis o que aconteceu: o Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO) estava anotando em seus registros os novos veículos financiados que saíam às ruas. Maurício Sampaio, então, ajuizou ação visando impedir o Detran de realizar tais registros antes que os contratos de financiamento (alienação fiduciária e arrendamento mercantil) fossem registrados primeiro nos Tabelionatos de Protesto e Documentos de Goiânia. O juiz Ari concedeu liminar determinando que todos os contratos de financiamento de veículos do estado de Goiás fossem obrigatoriamente registrados em um dos Tabelionatos de Documentos da Capital. Na prática, existiam apenas dois, mas o segundo, por alguma razão, negou-se a fazer os registros. Como consequência, se alguém financiasse um carro fosse em Goiânia ou Terezinha de Goiás, extremo norte do estado, teria de registrar o contrato com o tabelião Maurício Borges Sampaio.

Com essa série de decisões, o rendimento da serventia multiplicou-se. Dizem que o dinheiro seria repartido em propinas, mas nunca consegui informações aprofundadas. Sei, no entanto, que Sampaio desenvolveu até um software de comunicação direta com o Detran. O sistema informava ao órgão quais contratos já estavam registrados no tabelionato. Na época, o presidente do Detran era Edivaldo Cardoso, flagrado pela Polícia Federal em comprometedores diálogos com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, de quem Sampaio é amigo. A rede parecia não ter fim.

Finalmente, em junho de 2013, o Ministério Público propôs uma Ação Civil Pública por ato de improbidade administrativa, pedindo o afastamento de Maurício e o bloqueio de quase R$ 16 milhões em seus bens. A esta altura, a liminar de Ari Queiroz que concedera o monopólio estava suspensa pela presidência do Tribunal de Justiça e se desenrolavam no CNJ procedimentos tanto contra o suspeito juiz quanto contra Sampaio. Não tardou até o cartorário ser afastado, e o juiz, aposentado compulsoriamente.


A última batalha

Finalmente, em 30 de abril de 2015, Marcus Vinícius, Urbano Malta, Ademá Figuerêdo, Djalma da Silva e Maurício Sampaio foram mandados a júri popular pela unanimidade do Tribunal de Justiça de Goiás. Mas ainda não há data para o julgamento. No momento, encontram-se em tramitação os recursos especiais e extraordinários dos réus para os tribunais superiores (STJ e STF), última fase antes do júri. Com exceção de Marquinhos, os acusados continuam livres e agora utilizam outras estratégias na batalha.

Entristece-me ainda hoje ouvir pessoas repetindo: “Santo, não era”; ou “Se morreu, alguma coisa fez”. Esse preconceito foi inflado por páginas anônimas e perfis fake na internet. Acusaram meu pai de envolvimento com mulheres casadas, drogas, prostituição, infantilmente tentando enquadrá-lo em quaisquer estereótipos sociais que afastassem o apoio popular na nossa luta por justiça. Num momento de particular inspiração para a crueldade, usaram a expressão “Valério Cheira-pó Luiz”. Em 19 de fevereiro de 2015, conseguimos decisão liminar na 2ª Vara Cível de Goiânia para tirar do ar uma das páginas.

Mas, para azar dos detratores, meu pai, apesar de intempestivo, era testemunha de Jeová desde os 25 anos e homem de hábitos espartanos. Além disso, era profissional renomado, com trajetória conhecida por todos, e filho do maior nome do jornalismo esportivo de Goiás, Manoel de Oliveira, meu avô, hoje o deputado estadual mais votado da história. Não seria fácil estereotipar Valério Luiz, e não conseguiram.

Ainda assim, é sintomático que, para conseguirmos o indiciamento, a denúncia e um curso normal de processo, tenhamos precisado confrontar diretamente militares, um tenente-coronel, um delegado, dois juízes de direito, setores da imprensa e até um padre. É surreal como um só homem conseguiu instrumentalizar tantos agentes públicos a seu favor.

A cooptação de policiais é especialmente problemática. Aqui em Goiás é comum as classes ricas arregimentarem parte da tropa para bicos como seguranças, não raro pagando mais que a corporação e assim pervertendo as relações normais de lealdade dos militares no seio social. “Maurício Sampaio, amigo da Rotam”, essa era a inscrição de uma camiseta encontrada na sua casa durante o cumprimento de um mandado de busca e apreensão em 2013 – a Rotam é um destacamento especializado da Polícia Militar goiana inspirado na Rota paulista. E, pra mim, ela simboliza as bases da nossa sociedade subdesenvolvida: dinheiro e arma.

Lembram-se de que Figuerêdo chegou ao açougue de Marquinhos em um Fiat Palio azul-escuro? Pois bem. Inadvertidamente, Da Silva, em sua defesa prévia, juntou aos autos um documento restrito do comando ao qual pertencia (Comando de Missões Especiais – CME) cujo teor discrimina o contingente e as viaturas descaracterizadas do grupo em 2012, entre as quais justamente um Palio azul. Para mim, isso sugere que a própria estrutura oficial do comando foi usada no crime.

Em janeiro deste ano, Maurício Sampaio retornou à diretoria do Atlético Clube Goianiense, dessa vez não na condição de vice-presidente, mas de presidente. A cerimônia de posse contou com as presenças de Valdivino de Oliveira e do tenente-coronel Wellington Urzeda, atualmente comandante de um recém-criado Batalhão de Operações Especiais – Bope. Indignada, parte da imprensa local anunciou um boicote ao clube, fato repercutido nacionalmente.

Há uma ironia nessa história, que meros comentários sobre futebol tenham atingido um grupo de poder inteiro. Isso porque, como já disse, o futebol não é só futebol. Meu pai nem imaginava a profundidade das conexões aqui narradas, mas, quando o cartola e agora ex-cartorário, do alto da soberba, ordenou tão escandaloso assassinato, atraiu os olhares para si e deixou aparentes esquemas, que por isso ruíram. Como consentiam em dar tanta força a um homem só, a ponto de o deixarem se julgar em condições para decidir sobre vida e morte?

Fiz essa pergunta repetidamente a mim mesmo, enquanto lembrava do meu pai envolto em flores no caixão. Em lugares patrimonialistas, corruptos, dominados por máfias e ranços coronelistas, a segurança individual existe até não cruzarmos o caminho de algum “coronel”, que, infiltrado nas instituições, pode neutralizá-las para fazer valer a lei da força.

A Morte Rubra invadira o castelo da nossa família, era preciso sair, influir no lado de fora: criei uma associação de apoio a vítimas de assassinato, o Instituto Valério Luiz, e ingressei numa pós-graduação em Criminologia e Segurança Pública pela Universidade Federal de Goiás. Assim segue a nossa luta, enquanto esperamos a definição de uma data para o júri popular a fim de obtermos, no caso do meu pai, justiça, e não o acréscimo dos absurdos índices de impunidade do Brasil quando se trata de jornalistas assassinados.


Fonte: Carta Maior

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