Por David Smith
É como as escolas do mundo todo: crianças ebulientes sobem e descem correndo as escadas, enquanto os professores tentam manter uma aparência de ordem. Há sacolas e lancheiras, pinturas coloridas, filas de escrivaninhas de madeira rabiscadas com grafites dos alunos. Também há um lema da escola: "Conhecimento para o sucesso".
Esta é a Academia de Meninas Maitama Sule, na quente e úmida Kano, no norte da Nigéria, onde o simples ato de aprender tornou-se uma demonstração de coragem e desafio. O grupo islâmico Boko Haram matou 185 pessoas em Kano em um único dia em 2012 – seu ataque mais mortífero. A escola hoje está em alerta para o caso de tentarem repetir o ousado sequestro de mais de 200 meninas em Chibok.
"Quase todas as meninas temos a mesma idade", disse a aluna Rabia Nura, 16 anos, puxando repetidamente seu lenço de cabeça branco, o hijab, mas sem demonstrar nervosismo. "Foi devastador, porque você sente que foi com você – você foi sequestrada e não pode ver seus pais. É realmente assustador."
Centenas de pais contataram Maitama Sule, uma escola secundária particular, depois dos sequestros em Chibok, perguntando que medidas de segurança foram tomadas e ansiosos para saber que suas filhas estarão protegidas. No entanto, a equipe decidiu que a educação deve continuar e incluiu nas aulas discussões sobre o incidente.
Nura, cuja matéria preferida é química, é tudo o que os fundamentalistas desprezam: confiante, falante e decidida a se tornar uma médica e ministra da Saúde da Nigéria algum dia. "Nós, as meninas, somos quem forma uma nação unida. Como futuras mães, como futuras esposas, como futuras embaixadoras de nosso país, todas nós precisamos estudar para que o país desenvolva tudo certo na sociedade."
Ela é uma das 400 meninas e 40 meninos que estudam na escola, que começou com oito alunas em 2005. Cristãos e muçulmanos estudam lado a lado. O número de guardas de segurança no portão triplicou desde o sequestro em Chibok, e as bolsas dos visitantes são revistadas por rotina. É um indício de como a vida mudou em Kano e muitas outras cidades da Nigéria. Martins Felix, o diretor da escola, diz: "Quando houve o ataque em 2012, foi chocante; nunca tinha acontecido na história de Kano. Para essas crianças, crescer é um grande desafio. Quando minha filha de 7 anos ouve qualquer estouro, ela diz: 'Estão bombardeando de novo, estão bombardeando de novo'".
Felix, um cristão de 46 anos, acredita que a educação e as oportunidades de emprego para os jovens são cruciais para a derrota do Boko Haram em longo prazo. "O ócio é a oficina do diabo. Você os vê de manhã à noite sem nada para fazer, sem renda, e eles começam a pensar em como podem ganhar a vida".
Kano, sob a lei muçulmana, sharia, é a segunda maior cidade da Nigéria, o polo comercial do norte pobre e lar do homem mais rico da África, Aliko Dangote. Tem uma história de choques religiosos e ainda tenta se recuperar da atrocidade de 2012. Mas para alguns há um lampejo de esperança.
A Catedral de Nossa Senhora de Fátima é cercada por arame farpado e os fiéis são verificados com um detector de metais à porta. O padre Gabriel Ikor diz: "De modo geral a situação da segurança está melhorando. Antes era uma ocorrência por dia; você ouvia uma explosão de bomba, pessoas eram alvo de tiros. Agora não é mais assim. Sei que as pessoas sabem que devem ser muito cuidadosas.
"Não acho que o Boko Haram terá a oportunidade de sequestrar meninas em Kano, porque a situação de segurança está muito rígida para que isso aconteça. Mas nunca devemos descartar a possibilidade de eles atacarem de novo. Acredito que estejam em quase todo lugar na Nigéria hoje. Eles não têm rosto."
Alguns dão crédito ao exército e ao serviço de segurança do Estado, mas seu histórico está salpicado de denúncias de brutalidade e indisciplina.
O governador do estado, Rabiu Musa Kwankwaso, diz que tem apenas 8 mil oficiais, comparados com o estado menor de Kaduna, que tem 12 mil, e Lagos, com 32 mil, mas compensou trabalhando com forças como o Hisbah, uma rígida organização islâmica com 9 mil membros decididos a combater a "imoralidade", e uma Vigilância de Bairro com 35.200 membros, que usam uniformes ou trabalham à paisana nas mesquitas.
Kwankwaso, que também afirma ter criado milhares de empregos de vigilantes e policiais, disse: "Esta é uma maneira de arrebanhar esses jovens que não faziam nada e tirá-los das ruas. Eles podem ser úteis combatendo o crime e conseguindo emprego".
Fonte: Guardian
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