quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

NA LUTA CONTRA O EI, JORDÂNIA SOLTA GUIA RELIGIOSO DA AL-QAEDA


Abu Mohammad al-Maqdisi deixa a prisão e no dia seguinte concede entrevista à TV, na qual critica o "Estado Islâmico". Tentativa de desmoralizar a milícia pode ser arriscada

Parece um paradoxo: na sua luta contra o terrorismo islâmico, o governo da Jordânia libertou um dos líderes ideológicos da Al Qaeda, Abu Mohammad al-Maqdisi. Ele deixou a prisão na quinta-feira passada (05/02), depois do assassinato do piloto jordaniano Muath al-Kasaesbeh, queimado vivo pelo grupo terrorista "Estado Islâmico" (EI).

A expectativa do governo da Jordânia é que o líder religioso ajude a tirar legitimidade religiosa e política do "Estado Islâmico" na região. Com isso, os jordanianos apostam na boa vontade de uma pessoa que mantiveram na cadeia por vários anos. Al-Maqdisi nasceu em Nablus, na Cisjordânia, em 1959, e é um dos líderes intelectuais dos círculos radicais sunitas que deram origem à Al Qaeda no Iraque. Esta, por sua vez, está na origem do "Estado Islâmico".

Mas, desde 2004, Al-Maqdisi critica a violência empregada por líderes jihadistas contra muçulmanos. Ele se afastou do antigo líder da Al Qaeda no Iraque, Abu Musab al-Zarwaqi, de quem era considerado líder espiritual e que foi morto em 2006. Em entrevista à emissora Al Jazeera, em 2005, ele acusou Al-Zarqawi de matar muçulmanos e manchar a imagem do islã com o uso indiscriminado da violência. Como Al-Maqdisi estava proibido de falar com a imprensa, a entrevista lhe rendeu uma de suas várias prisões.

Em maio de 2014, Al-Maqdisi chamou o "Estado Islâmico" de perverso. Ele atacou principalmente a exigência de que muçulmanos sunitas jurem fidelidade a Abu Bakr al-Baghdadi, o autoproclamado califa do "Estado Islâmico". Al-Maqdisi afirmou que exigências desse tipo causam mais violência e mortes entre muçulmanos. Em vez disso, ele pediu aos muçulmanos que se unam à Frente Al Nusra, o braço da Al Qaeda na Síria.

Al-Maqdisi também esteve envolvido nas fracassadas negociações para a libertação do refém Peter Kassig, um americano convertido ao islã que trabalhava com projetos humanitários e havia sido sequestrado na Síria em outubro de 2013. Al-Maqdisi entrou em contato com um ex-aluno, que desempenha um papel de liderança no EI. As tentativas, no entanto, falharam, e Kassig foi decapitado em novembro de 2014.

A ascensão de Al-Maqdisi começou nos anos 1980, quando ele estudou direito islâmico na Universidade de Medina, na Arábia Saudita. No final daquela década, foi para o Afeganistão, onde deu embasamento teológico à resistência sunita contra o Exército Vermelho.

Nesse período, Al-Maqdisi desenvolveu a ideia de que a família real saudita não tem legitimidade política nem religiosa. Após a Segunda Guerra do Golfo, foi para a Jordânia, onde também questionou a legitimidade da família real. Em seus livros, Al-Maqdisi afirma que direitos democráticos, como a igualdade perante a lei e as liberdade de imprensa e de expressão, são contrários ao islã.

Em 1994, ele foi preso após defender atentados suicidas em resposta à ação do colono judeu radical Baruch Goldstein, que matou dezenas de muçulmanos numa mesquita em Hebron. Al-Maqdisi saiu da cadeia em 1999, mas foi preso várias vezes nos anos seguintes. A detenção mais recente foi em outubro de 2014, por incitação ao terrorismo.

Segundo o especialista em Oriente Médio André Bank, do instituto alemão Giga, o guia religioso tem elevada reputação entre os membros da Al Qaeda. "É incerto, porém, se [a libertação de] Al-Maqdisi vai atender às expectativas [do governo da Jordânia]", afirma Bank.

Na sexta, um dia depois de sua libertação, Al-Maqdisi deu uma entrevista à televisão jordaniana, criticando a morte do piloto. Ela disse que queimar pessoas vivas não é aceitável em nenhum religião e que o califado proclamado pelo "Estado Islâmico" tem servido para dividir os muçulmanos.

Mas as novas declarações de Al-Maqdisi contra o "Estado Islâmico" não vão solucionar os problemas de terrorismo da Jordânia. Afinal, ele também critica a presença e as ações dos Estados Unidos na região, vistas por ele como um ataque ao islã. Para ele, as guerras e os distúrbios no Oriente Médio não têm motivação política, mas a finalidade principal de destruir o islã. Por isso, todos os muçulmanos devem unir forças e lutar contra as potências que ameaçam sua existência.

Fonte: DW

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