Historiador critica o projeto do senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), que tenta eliminar os profissionais cubanos do programa Mais Médicos. Jonas Duarte lembra que Ronaldo, pai de Cássio, foi o primeiro governador eleito, pós-Ditadura Militar, a visitar Cuba, em 1991, defendendo o intercâmbio entre Cuba e a América Latina
O ódio no coração do senador envergonharia de morte o poeta Ronaldo Cunha Lima
Escrevo essas linhas com tristeza e vergonha. Triste por assistir o desrespeito de um filho a memória do pai.
Vergonha por ter a Paraíba um Senador prestando os desserviços mais torpes contra seu povo que um parlamentar pode oferecer em seu mandato.
O título acima daria um ótimo mote para as noites de “repentes” boêmias sobre o Senador pela Paraíba, Cássio Cunha Lima e seu comportamento doentio no Senado da República.
O Senador Cássio Cunha Lima tem cumprido um mandato em Brasília movido pelo sentimento de ódio, cego, e pela ignorância absoluta do que acontece no Brasil de hoje.
Certamente fosse vivo o poeta Ronaldo, seu pai, estaria ruborizado/envergonhado com os posicionamentos antipopulares do filho.
Ao contrário do filho, Ronaldo teve uma infância simples, uma juventude rebelde e um mandato de Senador a altura de sua história política.
Contava Ronaldo, com orgulho, ter participado da organização, em nível de Paraíba, do “Grupo dos 11” de Leonel Brizola, na resistência ao Golpe.
Deputado Estadual pelo PTB, Ronaldo estava entre o grupo de deputados que em 1964 se entrincheiraram contra a cassação do mandato de Assis Lemos levado a cabo pelos militares quando instalaram a Ditadura.
Ditadura que o cassou em 1968/69 sem que o mesmo tivesse o direito de exercer o mandato de Prefeito de Campina, para o qual houvera sido eleito.
Que vergonha!
Agora, seu filho Cássio, nascido as vésperas do Golpe e criado sob o Regime Autoritário é quem empunha a bandeira do Impeachment golpista, levantado pela direita política e as classes abastadas do país, contra o governo legítimo de Dilma Rousseff.
Cássio assim segue, sem nenhum vinculo com a vontade do povo simples da Paraíba, que também o elegeu Senador em 2010. Cumpre, como Capitão do Mato, as ordens virulentas das oligarquias quatrocentonas paulistas. Um novo Domingo Jorge Velho ao contrário…
O pior. O Senador Cássio agora quer acabar com o Programa Mais Médicos. Propôs um “Decreto Legislativo” nesse parlamento desmoralizado, que legisla em causa própria, para romper o contrato do Brasil com a OPAS – Organização Pan-americana de Saúde, para o Brasil devolver os mais de 11 mil médicos cubanos e assim inviabilizar o Programa.
Isso porque, segundo o Senador, o governo brasileiro estaria, por esse meio, financiando a “Ditadura Castrista”.
Não vou discutir os méritos do Programa, que tem sido a salvação de milhões de pessoas que nunca tinham recebido atendimento médico em sua comunidade.
Quero apenas lembrar, Senador, que seu pai foi o primeiro governador eleito, Pós-Ditadura Militar, a visitar Cuba. Em 1991.
Ronaldo não só se apaixonou por Cuba, como se tornou PRESIDENTE DE HONRA DA ASSOCIAÇÃO CULTURAL JOSÉ MARTÍ DA PARAÍBA. Associação que faz o intercambio cultural entre os povos irmãos da Paraíba e de Cuba.
Mais ainda. Em 1991/92 quando Cuba entrou no Período Especial em função do fim da União Soviética e iniciamos uma campanha em nível nacional para ENVIAR PETRÓLEO para Cuba, o poeta Ronaldo Cunha Lima não só colaborou fortemente com a campanha, como idealizou os dizeres da camiseta que espalhamos Brasil afora: “UMA GOTA DE AMOR PARA CUBA”.
Por várias vezes Ronaldo Governador recebeu delegações cubanas. Especialmente da área da saúde.
Chegamos a firmar protocolo de intenções para a vinda de profissionais de Cuba para a Paraíba. Ronaldo era um entusiasta da ideia. Infelizmente, acontecimentos trágicos ocorridos em 1993 impediram a concretização desse sonho de Ronaldo.
Existem fotos e imagens de Ronaldo Cunha Lima em Cuba, feliz com o que via na pátria de Martí.
Guardo fotos de Ronaldo com representante cubana numa Micarande em Campina Grande.
Em 2011 estive em Cuba por convite do Governador Ricardo Coutinho. Visitamos o Instituto Cubano de Amizade com os Povos – ICAP. Primeira pergunta do pessoal do ICAP: como vai NOSSO AMIGO RONALDO CUNHA LIMA? Vi alguns marejar os olhos quando falei do estado de saúde de Ronaldo, à época já grave.
Agora assistimos Cássio enterrar as virtudes democráticas, progressistas de seu pai. Tornou-se um político menor, lambe-botas das oligarquias desse país. Incorporou o coronel Demóstenes, quando prefeito de Araruna, matando o Ronaldo jornaleiro das ruas de Campina, o Ronaldo garçom dos bares de Aluísio, mas, sobretudo, envergonhando o Ronaldo poeta, sensível às causas dos de baixo.
Reproduzo poema de Ronaldo deixado em um guardanapo por ocasião da Micarande de 1992 no Antigo Beco 31…
“É com imensa alegria
Nesse papel faço a rima
Minha solidariedade a Cuba,
Nesse tempo não termina
Por ser o único território livre
De toda América Latina”.
Não mate seu pai de vergonha Cássio.
Fonte: 247
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