Beto Richa, Aécio Neves e José Serra durante ato de campanha em Curitiba, em outubro de 2014: o PSDB está dividido sobre o impeachment
A tentativa do senador Aécio Neves (PSDB-MG) de mobilizar a oposição em favor do pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff criou um racha no PSDB. Desde que o ex-governador de Minas Gerais e presidente do PSDB encampou a proposta e anunciou que vai pedir o afastamento da petista do cargo, líderes tucanos têm se manifestado publicamente contra a ideia.
Durante palestra no sábado 18, na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, o senador José Serra (PSDB-SP) pediu “responsabilidade” à oposição ao criticar a proposta. “Impeachment não é programa de governo de ninguém”, ironizou. “Impeachment é quando se constata uma irregularidade que, do ponto de vista legal, pode dar razão a interromper um mandato. E eu acho que essa questão ainda não está posta”, complementou.
No dia seguinte, domingo 19, foi a vez do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso contrariar Aécio. Em seminário no Fórum de Comandatuba, na Bahia, FHC chamou a proposta de “precipitada”. “Como um partido pode pedir impeachment antes de ter um fato concreto? Não pode”.
Em situação delicada no Paraná, após uma série de protestos de servidores públicos da educação, o governador Beto Richa (PSDB-PR) também já havia se manifestado contra a proposta, em artigo publicado na revista Época. “Impeachment é coisa séria. O fato gerador precisa ser incontestável. Coisa que até agora, convenhamos, não existe", escreveu.
Com planos para se candidatar à Presidência em 2018, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, preferiu falar em “investigação” em vez de apoiar o presidente do partido. “Nada impede que se discuta. Eu já votei favorável ao impeachment”, afirmou ao se referir à destituição do ex-presidente Fernando Collor do cargo. “Mas acho que, neste momento, o que se quer é que a investigação seja feita de maneira ampla e profunda”, concluiu.
Apesar disso, Aécio Neves tem apoio de nomes como Cássio Cunha Lima, líder do PSDB no Senado, e Carlos Sampaio, líder do PSDB na Câmara dos Deputados. O argumento principal para o pedido de impeachment é o relatório aprovado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) que classifica as chamadas “pedaladas fiscais” de crime de responsabilidade.
O parecer, do ministro José Múcio Monteiro, foi aprovado na quarta-feira 15 e recomenda a oitiva de alguns dos principais integrantes da antiga equipe econômica de Dilma, como Guido Mantega (Ministério da Fazenda), Arno Augustin (Secretaria do Tesouro), Jorge Hereda (Caixa Econômica Federal) e Alexandre Tombini (Banco Central). Mas Dilma não está no rol de quem deve responder ao TCU em até 30 dias. Quanto a essa possibilidade, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, defendeu que a manobra não ofende a Lei de Responsabilidade Fiscal. Segundo ele, esta sistemática de pagamentos ocorre desde 2001 e, portanto, passou pelos governos dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula também, e não só pela gestão da presidenta.
Para Aécio, que é presidente do PSDB, as falas dos caciques tucanos criam uma saia justa. Antes contrário ao impeachment, o senador mineiro mudou de posição após a pressão de movimentos da sociedade civil que lideraram os protestos anti-Dilma em 15 de março e 12 de abril. Agora, para voltar atrás e falar a mesma língua de seus correligionários, o ex-candidato a presidente precisaria abandonar a principal causa dos movimentos que contam com o senador para liderá-los.
Fonte: Carta Capital
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