Por Cynara Menezes
Quando Wagner Nabuco, diretor geral de Caros Amigos, me telefonou, convidando-me para escrever mensalmente nesta seção, o meu primeiro pensamento foi: “Epa, lá vou eu de volta para o papel!” Apenas três meses atrás, ao anunciar a independência do meu blog Socialista Morena,havia proclamado também o adeus à mídia impressa. E olha só, cá estou de novo, diante dos olhos de vocês, seres humanos que folheiam páginas escritas, um dos costumes mais belos da história da humanidade.
Eu, na verdade, conservo a fé na sobrevivência do impresso, mas muito mais relacionada a meios como esta revista do que aos veículos da chamada “grande imprensa”. Explico: acho que os jornais de papel, se desaparecerem, desaparecerão pelos erros que seus donos cometem e não pelo fi m do hábito de ler conteúdo em papel. Se fosse assim, as pessoas não leriam mais livros e, ao contrário, a indústria livreira tem crescido. Os jornais é que não estão dando motivação aos leitores para comprá-los, isso sim. Para que comprar algo que você pode ler de graça e melhor na internet?
Boteco
Pretendo, portanto, fazer valer este pequeno pedaço de papel, onde escreverei um pouco de tudo. Daí o nome “boteco”: textos profundos ou leves, mas que despertem reflexão e a vontade de debater com os amigos diante de uma boa cerveja gelada. Os petiscos:literatura, política, religião, sexualidade, feminismo... Polêmicas bizarras também terão seu lugarzinho à mesa, como o ódio ao termo “bolivariano” – que acompanha o nome deste boteco imaginário –, demonizado pelo conservadorismo mais rastaquera, sem nem mesmo parar para refl etir sobre o que significa.
Outro dia, por sinal, recebi um destes memes da internet que dizia: “não queremos pátria grande, queremos uma grande pátria”. Será que o povo que compartilhou isso tem ideia do tamanho da bobagem que está falando? Como é que fazer parte de uma grande nação sul-americana poderia ser pior do que ser um país só? Não é essa mesma gente que inveja a... União Europeia? Talvez a imagem que eles tenham na cabeça seja a dos Estados Unidos, país isolado e rico à custa da desgraça de outras nações do planeta.
Bolivariana
Sou bolivariana, sim, senhor. E acho uma pena que nossos partidos de esquerda não tenham se interessado em assumir o bolivarianismo, por medo, talvez, da má imagem que a mídia de direita que temos conseguiu colar em uma expressão tão bonita – e falta de coragem, cá entre nós, não combina com esquerda. Adoro a ideia de uma América Latina unida e forte, com um modelo próprio de crescimento, onde os de baixo venham junto em vez de serem pisoteados. Não à toa, nosso continente, com vários presidentes progressistas à frente há quase vinte anos, tem apresentado queda na desigualdade social, enquanto o mundo “desenvolvido” experimenta o inverso, um fosso cada vez maior entre ricos e pobres.
Um relatório divulgado pela OCDE (Organização para o Crescimento e o Desenvolvimento Econômico) em maio confirmou: atualmente, entre os países “desenvolvidos”, os 10% mais ricos ganham 9,6 vezes mais do que os 10% mais pobres – na década de 1980, a proporção era de sete vezes mais. Enquanto isso, no “terceiro mundo” latino-americano, houve uma queda generalizada da desigualdade, particularmente no Brasil. E tem gente, vejam só, que acha inteligente trocar o “bolivarianismo” pelo modelo falido dos EUA e da Europa!
Hugo Chávez
Digo mais: sinto muitas, enormes saudades do comandante Hugo Chávez. Quando toco no nome dele nas redes sociais, recebo uma chuva de insultos, como se estivesse elogiando Satanás na Terra e não o homem que foi capaz de reviver a chama do socialismo, com todas as letras, na América Latina. Que falta Hugo Chávez faz ao mundo! Morta a União Soviética, era ele o principal contraponto ao poderio norte-americano no planeta, deliciosamente falastrão, com sua voz de trovão, desafiadora.
E sem nunca perder o senso de humor. Um líder assim não nasce duas vezes em um mesmo século. Se cometeu erros? Claro. E quem não? Nossos “grilos falantes” estão todos subindo para o andar de cima. Já se foi Darcy Ribeiro, já se foi José Saramago, já se foi Eric Hobsbawn, Gabriel García Márquez, Eduardo Galeano... É preciso seguir seus passos e não deixar que a mensagem deles seja esquecida. Eu presto homenagem a eles todo dia. Cada texto que escrevo é inspirado por e dedicado a esta turma. As palavras destes homens, consciência da humanidade, devem ser como uma Bíblia para nós, sem religião. Darcy é meu pastor e nada me faltará.
Esquerda
Como pessoa de esquerda que considera ser de esquerda estar à esquerda do governo (qualquer um), tenho várias críticas ao PT, mas a maior delas é não ter investido em conscientização política da juventude. Sem isso, nossos jovens ficaram à mercê de pastores inescrupulosos e de pseudofilósofos sem estofo, popularizados por uma imprensa fraca e servil ao poder econômico. Não é tarde para fazer este investimento. Nunca é tarde – e não é difícil. Em minha opinião, colocar O Povo Brasileiro de Darcy como leitura obrigatória nas escolas já seria o sufi ciente. Ninguém sai desta leitura ileso.
Tenho feito a minha parte, plantando meu grãozinho de socialismo, outra palavra que tentam transformar em ruim ou anacrônica, ao lado de “ativismo”, “ideologia”, “engajamento”, “politização”. Música para meus ouvidos. Como alguém, em sã consciência, pode ser contra o socialismo, uma ideologia que prega sobretudo a igualdade entre os seres humanos? Dizem que é culpa da União Soviética, mas de novo volto à falta de leitura: o socialismo já existia antes da Revolução Russa. É uma maneira de ver o mundo ou antes, como dizia Saramago, “é um estado de espírito”.
Para mim, o papel social do jornalista é antes de tudo compartilhar conhecimento. Conhecendo, acredito, é impossível a qualquer um que não nasceu em berço de ouro (e mesmo a estes, se tiverem um pingo de consciência) ser de direita neste País.
Fonte: Caros Amigos
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