Em entrevista ao Valor Econômico, presidente minimiza retirada de grau de investimento por agência de risco, reafirma compromisso com ajuste fiscal e defende reforma da Previdência
A decisão da agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) de tirar o grau de investimento do Brasil, espécie de selo de bom pagador, não significa que o país não possa cumprir suas obrigações. É o que diz a presidente Dilma Rousseff, em entrevista ao Valor Econômico. Segundo ela, o país já teve notas inferiores em anos anteriores e conseguiu, ainda assim, retomar o crescimento.
“Você vai notar que de 1994 a 2015, só em sete anos, a partir de 2008, a nota foi acima de BB+. Portanto, essa classificação não significa que o Brasil esteja em uma situação que não possa cumprir suas obrigações. Pelo contrário, está pagando todos os seus contratos, como também temos uma clara estratégia econômica. Vamos retomar nesse caminho e retomar o crescimento deste país”, disse a presidente em entrevista a Cláudia Safatle.
Dilma está reunida, no momento, com o vice-presidente Michel Temer e ministros da coordenação política para tratar da decisão da agência de classificação de risco. Na entrevista ao Valor, a presidente reafirmou o compromisso de seu governo com a meta fiscal de 0,7% para 2016 e que enviará ao Congresso propostas para elevar impostos e diminuir despesas obrigatórias.
“Nós mantemos a meta de 0,7% de superávit. Agora nós temos hoje um déficit de 0,5%. Assim sendo, é preciso tomar medidas de gestão de contenção da despesa. Mas é sobretudo das obrigatórias. Mantidos os compromissos que assumimos no PAC e olhando as demais, você não tem margem para cumprir 0,7%. Então, inequivocadamente, teremos que ter ampliação da receita. É nossa responsabilidade dizer onde, quando e como. Não fecha sem aumento de receitas, a não ser que o pessoal queira ficar com o 0,5% do PIB de déficit”, afirmou.
Dilma voltou a admitir que demorou para perceber a gravidade da crise econômica. “Nós achamos duas coisas. Primeiro, que a crise não iria durar tanto e, segundo, que as economias desenvolvidas iam se recuperar mais rápido e que atingiria com menos força a China. Acho que nós começamos a perceber que ela aprofundaria quando ela estava já… porque foi muito recente isso, quando caiu de fato. Isso significa que nós precisamos nos acostumar com outro momento, especialmente com esse negócio das commodities, que muda radicalmente as condições.”
Reforma da Previdência
Na entrevista, Dilma defendeu a aprovação de uma reforma na Previdência Social. “Uma reforma da Previdência é sempre intergeracional. Nós ganhamos quatro anos e meio de expectativa de vida. Nós estamos tendo menos jovens e mais velhos. Então nós temos necessariamente que adaptar a essa nova realidade”. As mudanças, no entanto, precisam ser pensadas para as próximas gerações, ponderou. “Você não pode achar que você faz alteração amanhã. O que você faz amanhã? Alterações de gestão fortes”, acrescentou.
A presidente classificou como “desserviço ao país” os rumores sobre a eventual saída do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Segundo ela, o ministro tem “espírito público” e sua total confiança. “Acho isso um desserviço ao país. Acho que é ruim. Primeiro, porque ele não vai [sair]; segundo, porque isso encobre uma tendência a tentar enfraquecer o Joaquim, que eu acho que não é boa. O Joaquim tem a minha confiança. As pessoas têm de conhecê-lo para saber. Ele tem uma qualidade inequívoca: é um cara do Estado brasileiro. Quem conviveu com ele sabe disso”, declarou.
Dilma também negou que haja divergências de visão econômica entre ela e o ex-presidente Lula. “O que o Lula sempre achou, em todas as circunstâncias, é que uma parte da recuperação vem do consumo. E nisso ele tem toda razão. Do consumo e do crédito. O problema é que criam uma oposição entre investimento e consumo. Não tem [oposição]. Nós temos que aumentar o investimento e manter o consumo.”
Fonte: Congresso em Foco
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