O ato na Paulista e em outras cidades do Brasil e a retomada das redes pela esquerda podem ser um ponto de inflexão na disputa política.
A chuva tinha acabado de dar uma trégua quando Maria Lúcia Gonçalves chegou à avenida Paulista, e ajudou a abrir uma enorme faixa: “Fora PIG”. Maria Lúcia integrava uma delegação de sindicalistas que vinha de Sorocaba (SP) numa das caravanas organizadas pela CUT, para o dia em defesa da Petrobras e da Democracia.
Com um meio-sorriso nos lábios, a sindicalista veterana parecia orgulhosa de fazer – em público – uma crítica que normalmente só é feita nas redes sociais: “a imprensa hoje é um partido, que tem um lado e precisa ser derrotada. Globo, Folha, Estadão e as agências de notícias que abastecem os jornais regionais, eles são um partido. E são contra o Brasil”.
Àquela altura, por volta de 14 horas, a impressão era de que a mobilização sindical seria pequena. Pouco mais de mil pessoas se aglomeravam à frente da sede da Petrobrás em São Paulo: o enorme prédio envidraçado desde cedo aparecia enfeitado com bandeiras e balões da CUT, da CTB, dos sindicatos, e com as faixas de quem estava ali para dizer não à campanha de destruição da Petrobrás, apoiada pela mídia.
“Não quero corruptos, mas não quero os gringos mandando na Petrobras”, dizia um pequeno cartaz escrito à mão. Outros eram mais bem produzidos. Havia adesivos contra Alckmin e a crise da água, e havia sim muita gente carregando cartazes em defesa de Dilma: “O mandato é de 4 anos, respeite meu voto”.
O PCdoB tinha uma mensagem mais explícita: “Em defesa da Democracia, Dilma fica” – acompanhada do mapa brasileiro e a da foto da Dilma de óculos, guerrilheira – imagem que a esquerda costuma empunhar nos atos de rua desde a campanha de 2010.
Às 15 horas, a concentração cresceu: já havia mais de 5 mil pessoas em frente à Petrobrás. Antes de subir para o caminhão de som, o presidente da CUT Vagner Freitas foi cercado pelos repórteres da velha imprensa – aquela mesmo contra a qual Maria Lucia protestava. O velho coro tomou conta da avenida: “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo.”
Tentei me aproximar do bolo de jornalistas, e notei que o repórter José Roberto Burnier carregava o microfone da Globo – com o símbolo da emissora (nas manifestações de Junho de 2013, os jornalistas da Globo usavam microfones sem o símbolo, para evitar hostilidades; mas dessa vez Burnier preferiu ser explícito).
As vaias e as hostilidades verbais cresceram. O locutor pediu calma aos manifestantes: “pessoal, a Globo merece vaias e críticas, mas a equipe aqui está só fazendo o trabalho deles”.
De fato, faziam apenas o trabalho – mas com acessórios curiosos: cinegrafistas e assistentes de câmera da Globo usavam capacete incomum, como se estivessem em zona de guerra. Atrás deles, dois homens altos faziam a segurança…
Mas a Globo não estava em zona de guerra. As hostilidades verbais sofridas pela equipe não impediriam as entrevistas, e nem de longe lembram a guerra incessante que o Jornalismo da Globo – sob comando de Ali Kamel – move contra sindicatos, movimentos sociais e contra as políticas trabalhistas.
Os manifestantes da Paulista trataram a Globo muito melhor do que a Globo trata os manifestantes em seus noticiários.
E os manifestantes, logo depois, já haviam esquecido Burnier e sua equipe, passando a ouvir os discursos inflamados que vinham do caminhão plantado à frente da empresa. Como em 1954 – pouco antes do suicídio de Vargas, a Petrobrás é o foco de uma disputa que opõe os liberais/udenistas derrotados nas urnas e os trabalhistas vitoriosos nas urnas mas sem espaço na mídia.
“La lucha de los brasileños es la lucha de toda America Latina”, dizia o sindicalista argentino, colocando a disputa das ruas numa perspectiva continental.
A batalha é a mesma na Argentina, na Venezuela… A diferença é que no Brasil as lideranças da esquerda (Dilma e Lula) não estão nas ruas. A marcha da Paulista não teve lideranças partidárias. Foi construída por milhares de marias lúcias e suas faixas.
Força ou fraqueza?
Nas redes sociais, muita força. O coletivo #Jornalistaslivres organizou uma cobertura colaborativa dos fatos - à qual este escrevinhador se agregou: mídias ninjas, fotógrafos, repórteres, e uma espécie de redação improvisada no bairro do Bexiga.
Do MASP, um colega do grupo de #Jornalistaslivres avisou a este blogueiro (pelo whatsapp) que a assembléia dos professores já reunia naquele momento cerca de 5 mil pessoas. E os professores paulistas aprovaram greve a partir de segunda-feira.
Por volta de 16 horas, os manifestantes da Petrobrás começaram a se deslocar em direção ao MASP – cerca de 5 quadras adiante. Nesse momento, a chuva voltou, e alguns buscaram o abrigo das marquises na Paulista. Mas a maioria seguiu marchando pela pista Paraíso-Consolação.
Uma gigantesca massa vermelha se formou. Este escrevinhador calculou em cerca de 20 mil ou 25 mil o total de manifestantes que saíram em marcha naquele momento. Mas quando a chuva diminuiu, por volta de 17h30, mais gente se juntou à manifestação. Por isso, alguns calcularam número ainda maior.
Os carros de som já desciam pela Consolação, enquanto um grupo – menos concentrado – de manifestantes ainda se deslocava pela Paulista, dez ou doze quadras para trás.
Nos bares, era possível ver na TV os poucos “flashes” que a velha imprensa dedicava ao ato: na Globo, surgiu ao vivo um repórter (este sem o cubo de identificação, ao contrário de Burnier). Poucas imagens, nenhuma cena a dar a dimensão da grande massa que se deslocava.
No fim do dia, uma guerra de números: a direção da CUT falava em 100 mil manifestantes. A PM de Alckmin cravava o número ridículo de 12 mil.
O blogueiro do UOL Mario Magalhães achou que a polícia estava abusando, e provocou a assessoria da PM pelo twitter: “@PMESP, conheço metodologia de cálculo de multidões. Escrevi sobre isso quando ombudsman da Folha. Eu vi as imagens. Muito mais que 12 mil.”
A PM de Alckmin seria desmentida pelo DataFolha, que estimou em 41 mil o número de manifestantes em São Paulo. Mais tarde, o mesmo @mariomagalhães traria luz sobre a forma de atuação da PM paulista: “PMESP curtindo tuíte de quem convoca para manifestação do domingo. É postura institucional do governo de São Paulo?”
A postura do jornalista mostra que nem tudo no PIG é PIG (como, aliás, indicam também os corajosos textos de Juca Kfouri, publicados esta semana, criticando os paneleiros e defendendo as regras de civilidade democrática).
Neste sentido, foi ótimo que a manifestação da Paulista tenha hostilizado a Globo, mas não os profissionais da emissora – que, felizmente, não precisaram testar a capacidade protetora de seus capacetes.
Será que um blogueiro de esquerda, ou um mídia ninja, será tratado com a mesma razoabilidade na manifestação de domingo? Quem aposta?
Por último uma notícia importante: pela primeira vez desde janeiro, a direita golpista perdeu o comando da rede e do twitter nesta sexta. Das 10 hashtags mais usadas no twitter (entre 5h e 17h no dia 13/março), as quatro primeiras vieram da esquerda:
1 #Globogolpista (48.028 menções)
2 #Dia13diadeluta (17.819)
3 #Domingoeunãovouporque (14.819)
4 #Dilmalinda (7.753)
Só em quinto lugar apareceu uma hashtag da direita (#canseidesertrouxaagoraeuvou – 4.290).
6 #Jornalistaslivres ficou em sexto lugar, com 2.475 menções.
O ato na Paulista (e em várias outras cidades do Brasil nesse dia 13) e a retomada das redes pela esquerda (que estava zonza desde o início do segundo governo Dilma) podem ser um ponto de inflexão na disputa política.
Claro que o ato de domingo, da direita e dos tucanos, deve ser grande – especialmente em São Paulo. Ninguém deve se enganar.
Mas o PSDB e seus aliados tresloucados da extrema-direita parecem ter errado a mão, reunificando a esquerda – que não precisa endossar as levyandades econômicas para compreender a importância de se barrar, nas ruas, o avanço conservador.
Fonte: Carta Maior
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