A Venezuela enfrenta um grave problema: mantém uma das maiores reservas de petróleo do planeta fora do controle dos Estados Unidos.
A Venezuela tem um presidente eleito democraticamente em 2013, em processo eleitoral legítimo, acompanhado por observadores internacionais. Mas o país tem um grave problema: mantém uma das maiores reservas de petróleo do planeta fora do controle dos Estados Unidos.
Uma fenomenal reserva de petróleo nacional e soberana parece inconcebível aos norte-americanos. Resultado: desde a eleição de Nicolas Maduro os Estados Unidos passaram a tentar desestabilizar o país.
De fevereiro a junho de 2014, Caracas viveu verdadeiras batalhas de rua promovidas por manifestantes que se opõem ao presidente eleito e são chamados pela imprensa internacional pelo nome genérico de "estudantes". Os confrontos entre a polícia e esses manifestantes violentos foram denominados de "La Guarimba" e fizeram cerca de 50 mortos e 900 feridos em 2014.
De passagem por Paris na semana passada, representantes da ONG "La Guarimba", criada para denunciar o "golpe de Estado contínuo" desencadeado na Venezuela, explicaram que os opositores não aceitaram o resultados das eleições democráticas. O que vive o país hoje é um clima de contestação permanente da própria democracia, segundo Nairoby de Gonzalez, cujo marido, funcionário do Ministério Público, morreu tentando desativar uma barricada erguida no meio da rua. Somente o jornal comunista L’Humanité deu destaque às denúncias feitas pelos representantes de "La Guarimba". Para ter informações objetivas sobre a Venezuela não devemos nos contentar com a imprensa que se limita a reiterar os argumentos de Washington.
Antes de Paris, os porta-vozes da ONG venezuelana foram a Madri e a Bruxelas. Depois, iriam a Genebra onde seriam recebidos oficialmente pelo Alto Comissariado das Nações Unidas pelos Direitos Humanos para explicar o que se passa no país. A viagem à Europa de membros da La Guarimba teve como objetivo fazer uma outra narrativa – com parentes de vítimas dos confrontos de ruas, mortos muitas vezes por snipers – para se opor à narrativa feita na imprensa internacional, muito influenciada por Washington.
Na cobertura internacional da Venezuela, a imprensa internacional ocultou o caráter de guerrilha urbana programada pelo candidato derrotado, Henrique Capriles Radonski, e por seus apoiadores com um único objetivo: depor o presidente eleito.
Durante os acontecimentos violentos de 2014, um homem se notabilizou por dirigir o movimento anti-Maduro: o coordenador do partido Vontade Popular, Leopoldo Lopez, que chefiou a agitação nas ruas conclamando a um golpe de estado na campanha que tinha por lema "A saída". Ele pregava a derrubada de Maduro pela "rua". Preso em 2014, sob a acusação de incitação ao crime, ao ódio civil e a atos de incêndio, Leopoldo Lopez se diz vítima da repressão política do regime.
No dia 9 de março, o presidente Barack Obama anunciou sanções a responsáveis politicos venezuelanos, escancarando a determinação de Washington de desestabilizar o governo democraticamente eleito. Maduro foi acusado de intimidar os opositores politicos. Ao declarar que a Venezuela é "uma extraordinária ameaça para a segurança nacional dos Estados Unidos", o presidente americano anunciou sanções. Ele colocava assim o país sul-americano no rol dos “Estados delinquentes” (rogue states em inglês) no qual já figuraram a Síria e o Irã.
Numa intervenção na TV de duas horas (que pode ser vista em parte no you tube) Nicolas Maduro criticou a arrogância imperialista e considerou as medidas tomadas por Washington como um “grave erro”.
O jornalista americano Glenn Greenwald, que revelou ao mundo pelo The Guardian o escândalo das escutas ilegais da NSA, escreveu que tudo não passa de jogo politico. Obama nunca condenou as graves violações de direitos humanos da Arábia Saudita, onde um dos raros militantes independentes dos direitos humanos, Mohammed al-Bajad, foi condenado a dez anos de prisão sob acusação de “terrorismo”. Esse tipo de repressão é banal no país para todos os que ousam denunciar as decapitações públicas bárbaras, além das flagelações e penas de prisão contra blogueiros que ousam criticar o regime.
E não custa lembrar que o general Abdel Fattah Saïd Hussein Khalil al-Sissi que governa hoje o Egito com mão de ferro não passa de uma marionete de Washinton, que ajudou-o a depor um presidente eleito, Mohamed Morsi.
Greenwald lembrava em seu artigo que a defesa dos direitos humanos é apenas uma desculpa usada pelos Estados Unidos quando quer se desfazer de um governante incômodo. As violações dos direitos humanos praticadas por seus aliados no Cairo ou na Arábia Saudita nunca pareceram incomodar Washington.
Ele diz que é apenas hipocrisia quando os neoconservadores fingem se interessar pela sorte das mulheres afegãs ou pela repressão aos homossexuais iranianos. Trata-se de criar um tema para despertar a indignação belicosa contra os regimes desses países.
O secretário geral da União das Nações Sul-Americanas (Unasur) declarou que a organização “condena qualquer tentativa de interferência, seja interna ou externa, visando a desestabilizar o processo democrático na Venezuela".
Todos os países do hemisfério, com exceção dos Estados Unidos e do Canadá, se opuseram às sanções contra a Venezuela. A Celac (Comunidade dos Estados latino-americanos e caribenhos) publicou uma declaração em fevereiro em resposta à precedente vaga de sanções americanas contra a Venezuela. Ela reiterava "a total rejeição da aplicação de medidas coercitivas unilaterais contrárias ao direito internacional".
Cabe a pergunta: qual dos dois é o Estado delinquente?
Fonte: Carta Maior
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