Rússia abriu oficialmente o ano da sua presidência nos BRICS com uma conferência dedicada à “Parceria econômica dos países dos BRICS como base de um mundo multipolar”. É o primeiro evento dedicado aos BRICS que a Rússia realiza enquanto presidente rotativo do grupo.
O evento, hospedado pelo Instituto de Pesquisa Estratégica da Rússia (RISS, na sigla me inglês), contou com a participação de representantes do Brasil, China e Índia e, da parte russa, de vários nomes eminentes da política econômica nacional. A África do Sul não esteve presente por razões de trabalho, mas a embaixada mandou uma mensagem desejando aos BRICS uma boa presidência russa.
Na sua intervenção, o embaixador do Brasil na Rússia, Antônio José Wallim Guerreiro, destacou o futuro papel das novas instituições financeiras que estão sendo criados no seio do grupo, o Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS e o Arranjo Contingente de Reservas. Expressou também a esperança de que a presidência russa seja eficaz e haja muitos projetos conjuntos.
Já Xie Xiaoyong, ministro plenipotenciário da embaixada chinesa na Rússia, lembrou que “é pela primeira vez na história que o crescimento econômico não vem dos países desenvolvidos, senão dos emergentes”.
E o Conselheiro-Embaixador da Índia na Rússia, Rakhul Srivastava, disse que os BRICS não só buscam melhorar o futuro dos seus membros, senão de todo o mundo.
Aliás, foi tocado também o assunto da eventual ampliação dos BRICS. Vários especialistas advertiram que uma ampliação incessante pode ser perigosa (basta ver o exemplo da UE, diziam), por isso é muito cedo para discutir a adesão da Argentina ou qualquer outro país.
Negócio russo conquista o Brasil
Um dos temas importantes discutidos na conferência foi a participação do negócio russo no âmbito dos BRICS. Segundo Dmitry Burykh, vice-chefe do departamento dos EUA e América Latina do Centro de Pesquisa Euro-Atlântica e de Defesa do RISS, “há uma tendência de crescimento do intercâmbio comercial entre a Rússia e o Brasil”.
Burykh sublinhou que as revelações de Edward Snowden fazem o governo brasileiro cada vez mais aberto para aceitar as tecnologias informáticas russas, que afinal poderão substituir as estadunidenses, que são vistas como menos seguras após o escândalo de espionagem.
Exemplo do uso de tais tecnologias é a empresa russa ABBYY, especializada em linguística aplicada e captura de caracteres e dados. O software da ABBYY é utilizado, segundo a sua vice-presidente de Desenvolvimento Comercial, Ekaterina Solntseva, inclusive no Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil.
Mas há também outra vertente de cooperação, que agora parece ainda mais prática e necessária: o negócio russo participa da solução da crise hídrica no Brasil. Dmitry Kotenko, representante da empresa Voronezh-Aqua, vê “grande potencial” no emprego das suas tecnologias nas regiões do Brasil afetadas pela falta de água. Esta parceria acaba de surgir e terá ainda que se fortalecer, mas os especialistas presentes no evento de ontem acreditam que terá sucesso.
Parceiros, não aliados
A conclusão geral da discussão foi a seguinte: os países dos BRICS “não são aliados, senão parceiros”. Não são aliados porque aliados unem-se contra alguém, e os BRICS nem pretendem se colocar o objetivo de confrontar ninguém, afirmam os participantes do evento. Se há uma contraposição aos Estados Unidos, vem dos próprios Estados Unidos, sublinham.
O mundo multipolar, frisam os cientistas políticos e economistas, não significa uma mudança de polarização mundial transferindo o “centro” dos EUA para os BRICS, senão o fomento à diversidade. O Banco dos BRICS também não pretende substituir por completo o Banco Mundial, mas, sim, criar uma alternativa mais inclusiva.
E sendo parceiros, podem ser concorrentes. Por isso, é preciso definir (e talvez nas reuniões deste ano, inclusive na cúpula em Ufa) o modo de cooperação e ações conjuntas.
As propostas são muitas. Os palestrantes destacam a importância de fortalecimento da infraestrutura do grupo BRICS através da criação de instituições conjuntas, de uma arquitetura eficiente e segura das relações internacionais. A essência comum de todas as sugestões é que esta arquitetura comum tanto deve abranger os países ao nível internacional, quanto viabilizar concorrência interna, fomentando o desenvolvimento eficiente e sustentável.
Fonte: Sputnik
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