O Dossiê Feminicídio, do Instituto Patrícia Galvão,
avalia quais são as estruturas que mantêm as mulheres como alvo de tanta violência no Brasil
O Brasil é o 5º país com maior taxa de homicídios de mulheres, atrás de El Salvador, Colômbia, Guatemala e da Federação Russa. A cada 13 mortes violentas de mulheres registradas por dia, sete foram praticados por pessoas próximas, e poderiam ter sido evitadas. Apesar das taxas de feminicídio serem expressivas, a impunidade ainda é alta – ou justamente por isso.
Estes são alguns dos dados e resultados de pesquisas que o Dossiê Feminicídio, publicado nesta segunda-feira 7, reúne. Elaborado pelo Instituto Patrícia Galvão, o estudo também traz entrevistas de especialistas e destrincha os diversos elementos que, por omissão ou ação, permitem que mulheres continuem a morrer de forma violenta diariamente no Brasil. As análises contemplam desde o âmbito jurídico e o Estado, até a mídia.
Um dos focos principais do dossiê é mostrar que mulheres negras e jovens estão mais propensas a sofrer violência, assim como as mulheres lésbicas, bissexuais e trans, em parte, pela pouca visibilidade que elas têm na sociedade.
O estudo também mostra que, diferentemente dos homens, que são mortos por armas de fogo em 73,2% dos casos, as mulheres morrem por estrangulamento, objeto cortante ou contundente, que indicam não só a proximidade entre o homicida e a vítima, mas também a crueldade peculiar associados à discriminação e ao menosprezo em relação à mulher.
Ainda assim, parte da mídia noticia os feminicídios com alarde e sensacionalismo, expondo a vítima e sua família, e designando a violência como "crise de ciúme" do parceiro, um "crime de amor".
Em entrevista para o dossiê, Carmen Hein de Campos, advogada doutora em Ciências Criminais e consultora da CPMI que investigou a violência contra as mulheres no Brasil, afirma: “O feminicídio é a ponta do iceberg. Não podemos achar que a criminalização do feminicídio vai dar conta da complexidade do tema. Temos que trabalhar para evitar que se chegue ao feminicídio, olhar para baixo do iceberg e entender que ali há uma série de violências. E compreender que quando o feminicídio acontece é porque diversas outras medidas falharam. Precisamos ter um olhar muito mais cuidadoso e muito mais atento para o que falhou.”
Fonte: Carta Capital
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