quinta-feira, 26 de junho de 2014

CABELEIREIRA IRAQUIANA QUE VIVE EM SP TEME POR PARENTES QUE FUGIRAM DE RADICAIS


A cabeleireira iraquiana N. A. e parte de sua família vivem no Brasil como refugiados. Membros da minoria cristã (1% da população), saíram do país durante a invasão americana em 2003 e viveram também na Síria, antes de desembarcarem em São Paulo, em 2008. Desde o início da insurgência do grupo radical Estado Islâmico no Iraque e no Levante (EIIL), ela, que não quis se identificar, tenta acompanhar à distância a fuga do pai e de outros parentes. Eles saíram às pressas de Mossul, que foi tomada pelos rebeldes, rumo ao interior.

*

Saí de Mossul em 2003 por causa da invasão americana, mas fui embora antes que eles pegassem Bagdá e Saddam Hussein.

Somos cristãos e ficamos com medo. O povo falava "vai ser um negócio feio". A minha mãe decidiu que íamos largar tudo e fugir. A gente vendeu tudo, foi rápido. Eu tinha 20 anos.

Eu, meus pais, meus irmãos e minha tia fomos para Aleppo, na Síria. Em 2005, tivemos que voltar para o Iraque para renovar documentos. Falaram que era só passar a fronteira e voltar, mas tivemos que ficar dez dias no país e ir até Mossul.
Na época, o Exército americano já estava lá. Passei muito medo. Não dormi os dez dias.

Em 2008, vim para o Brasil com meu irmão. O visto demorou muito. Tudo para os iraquianos é difícil. Ou resolve com muito dinheiro ou resolve com muitos anos.

Consegui o refúgio e comecei a trabalhar como cabeleireira e maquiadora.

Um ano e meio depois, vieram para São Paulo minha mãe, meus outros irmãos e minha tia.

Da Síria, meu pai voltou para o Iraque e se casou novamente [os pais se separaram em 1999]. Eu nunca mais o vi. Com essa situação agora [os ataques do EIIL], eles venderam a casa em Mossul e fugiram para Batnay, no interior do país.

Da parte do meu pai, fugiram ele, dois tios, duas tias e os filhos de todos. Da parte da minha mãe, foram três tias, um tio e ainda primas.

Antes, os iraquianos iam para a Síria. Hoje, a Síria está acabada. O Líbano é muito caro. A Jordânia não recebe muitos iraquianos. Na Turquia, a língua é outra. Então, é muito difícil que eles saiam de lá. Não têm pra onde ir.

Quando eu falo com eles por telefone, tudo é "por enquanto". O EIIL ainda não entrou em Batnay. Estão falando que, por enquanto, eles não estão maltratando os cristãos, mas ninguém sabe amanhã o que vão fazer.

Tem gente em Mossul que está ajudando o EIIL por ter medo. Mais os sunitas mesmo. Não os xiitas. Porque eles não querem nem ver xiita pela frente. Os cristãos têm medo de serem mortos caso não se convertam ao islamismo. Como eles fizeram na Síria.

Toda a família do meu pai mora junta na casa que compraram agora no interior. Fazem muita comida de uma vez e vão economizando. Não há energia. Algumas pessoas têm gerador e alugam duas, três horas por dia. E, claro, eles estão de malas prontas.

Os curdos estão dando comida e água –lá está muito calor. O EIIL não entrou nas cidades curdas. Os curdos têm a vida deles.

A maioria dos iraquianos quer que alguém coloque um basta nisso. Mesmo que seja com a ajuda dos EUA. Todo mundo reza pra que não haja sofrimento. Porque os terroristas são muito violentos. Não dão só um tiro e acabou.

A cada dia os terroristas ficam mais fortes. Deve haver um interesse para que eles permaneçam.

Eu temo que se não houver um basta, o Iraque vire a nova Síria. E já chega. O povo quer paz. O Iraque vive em guerra faz séculos.

GUERRA

Desde que eu saí, o Iraque teve só uns seis meses de calma. O resto foi tudo a mesma coisa. Lá, a gente trabalha e compra coisas pra quê? Se amanhã a gente não sabe o que vai acontecer?

Com certeza, é melhor estar aqui. Eu deixei de fazer muitas coisas que queria por causa da guerra.

Por exemplo, terminar minha faculdade. Faltou um ano. Tive que trabalhar em Aleppo. A Síria nos acolheu, mas ganhávamos mixaria. porque sabiam que precisávamos muito de qualquer dinheiro. Tudo isso por quê? Por causa da guerra.

Vivíamos muito bem no Iraque antes [de 2003]. O governo na época dava tudo, até arroz e feijão. A gente só comprava verdura e carne.

Eu quero que apareça uma pessoa forte o suficiente para tirar todos os terroristas de lá. Tudo bem ficar sem água, sem luz, mas o importante é que, quando durmam, cristãos e muçulmanos durmam sem medo.

Mesmo se esse dia chegar –provavelmente não chegará–, eu não tenho vontade de viver no meu país. Não volto pra lá nunca mais. Não tem mais sentido voltar. Acabou tudo. Eu só sofri no Iraque.

Fonte: Jupiter

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