segunda-feira, 8 de julho de 2013

"É HORA DE SUBSTITUIR O FACEBOOK", DIZ COFUNDADOR DO THE PIRATE BAY


Cofundador de um dos sites mais longevos e populares da internet, o The Pirate Bay, de compartilhamento de arquivos, Tobias Andersson, 35, acredita que uma nova rede social, "totalmente independente de governos e empresas", possa substituir o Facebook nos próximos anos.
 
"Eles têm sido muito bons em conectar pessoas, companhias e veículos de comunicação, em um só local", disse o sueco, que esteve nesta semana no Brasil.
 
Segundo ele, porém, políticas frágeis de privacidade e a necessidade de monetização do negócio tornaram a rede social uma ameaça à liberdade da internet.
 
"Adoraria que uma nova empresa, com as mesmas funções do site, porém independente, surgisse nos próximos anos."
 
Andersson, que está afastado da operação do site há quatro anos, mas ainda mantém contato com seus atuais coordenadores, disse ter convicção que as grandes empresas de internet cooperam com os órgãos de segurança nacional americanos.
 
Ele defendeu Edward Snowden, que revelou um esquema de espionagem virtual do governo dos Estados Unidos. "Os Estados Unidos é quem deveria estar sendo processado, e não ele."
 
Fundado há dez anos, o Pirate Bay tornou-se o maior site de compartilhamento de conteúdo gratuito do mundo.
 
Com o sucesso, entrou em confronto com gravadoras, que acusaram o site de facilitar a pirataria. Em 2009, três dos fundadores foram condenados na justiça sueca --um deles permanece preso.
 
Andersson, que não foi processado, hoje estuda sistemas de informação em uma universidade da Suécia e prepara um livro sobre a história do site.
Veja os principais trechos de sua entrevista:
 
*
 
Folha - Como o The Pirate Bay conseguiu sobreviver e se firmar como o maior site de downloads do mundo?
Quando começamos, achávamos que iríamos durar um ou no máximo dois anos, que foi o tempo de vida de outros sites de compartilhamento, como o Kazaa. Mas continuamos e já temos dez anos.
Isso aconteceu porque decidimos logo que não íamos desistir diante de problemas técnicos ou ameaças legais. Algumas pessoas que estavam lá eram muito boas em tecnologia e tomaram como questão de honra de manter o site no ar.
Outra questão é porque estamos estabelecidos na Suécia, que tem uma legislação relativamente tranquila quanto às questões de propriedade intelectual.
 
 
O que mudou para o site após as condenações de 2009?
Tivemos de mudar os servidores para fora da Suécia e os fundadores precisaram se afastar: um está preso na Suécia; outro mudou-se para o Vietnã e um terceiro aguarda revisão da sentença.
Mas a internet é grande, não importa se tivermos que mudar de um país para outro, sempre há para onde ir. A computação em nuvem ajudou muito nisso, pois com ela poucas pessoas no mundo sabem de fato onde os servidores estão hospedados.
 
 
Qual é o futuro do Pirate Bay?
Acredito que o site deveria fechar porque há novas revoluções ocorrendo, como a provocada pelas impressão 3D, e é preciso dar espaço para outras ideias, que lidem com essa realidade, surjam. Por estar há dez anos no ar, as pessoas estão confortáveis, pensando que sempre o site sempre estará lá. Se fechasse alguém sentiria necessidade de construir algo novo.
 
 
Serviços de streaming, como o Spotify, diminuíram a relevância da plataforma?
De alguma forma, sim. O Spotify tornou o download menos útil porque é um serviço fácil, onde se encontra quase tudo.
Mas há problemas na plataforma, como a ausência de artistas independentes e o fato de que ela é controlada por grandes gravadoras, como Sony, EMI e Warner. A maior parte do dinheiro obtida com a venda da música vai para essas empresas e pouco fica com os artistas. Continua não beneficiando o artista, mas a indústria da música.
 
 
Com o crescimento dos serviços de streaming, a batalha com as gravadoras acabou?
A próxima grande batalha virá em consequência da revolução causada pelas impressoras 3D, que está apenas no começo.
A impressora tridimensional hoje custa muito dinheiro e só imprime plástico. Mas quando começar a custar poucos dólares e poder imprimir em outros materiais, como o metal, teremos pessoas comuns produzindo produtos como carros e eletrônicos.
Quando isso ocorrer, a briga vai ser mais pesada, pois vai ameaçar empresas poderosas --como a automobilística, a de armas e a do petróleo e até países, pois muitos dependem dessas indústrias. Comparado com o que está por vi, discussões como as trazidas pela Sopa (projeto de lei antipirataria dos EUA) são irrelevantes.
 
 
Como o senhor avalia o crescimento das redes sociais?
Quando o Facebook surgiu, achávamos que iriam ser populares por dois anos, e depois entrariam em declínio como pensávamos quando criamos o site, em 2003. Mas eles têm sido muito bons em conectar as pessoas com empresas, veículos de comunicação, em embutir funções, como "curtir" e publicar, em um único lugar.
Há questões problemáticas, no entanto. Como o caso Snowden mostrou, tudo o que todos dizem em qualquer lugar nesses sites é observado pela NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA). Talvez não pareça um grande problema hoje, mas se continuar assim, no futuro o governo dos EUA terá o controle de toda a internet.
Eu adoraria que uma nova empresa surgisse, como o Facebook, todas as suas funções, mas que fosse independente. É hora de substituir o Facebook.
 
 
Qual a sua opinião sobre o caso Snowden?
As coisas que ele revelou são espantosas. A forma como os Estados Unidos pressionou a União Europeia também. O governo americano é quem deveria estar sendo processado, e não Snowden.
 
 
O sr. acredita que as redes sociais podem se tornar uma nova forma de organização política, no futuro?
Eles são uma forma ótima de mostrar ao governo e as pessoas no poder o que você pensa. Mas é apenas uma ferramenta, e não a revolução em si. É como levantar um cartaz em um protesto. A real revolução ocorre nas ruas.
 
 
Vocês apoiam os partidos piratas (organizações políticas surgidas na Europa que pregam a transparência e o fim dos direitos autorais)?
Pensamos da mesma forma sobre algumas coisas, apesar de algumas bandeiras dos partidos variarem em diferentes países. Eu realmente apoio os piratas em todo o mundo pois acredito que eles podem ter um grande papel na evolução da internet. Acho, porém, que não deveriam focar apenas em obter posições nos governos, mas em usar a internet para obter suas causas.
 
 
Qual será a mensagem do seu livro?
Falarei de algumas lições que aprendi durante a criação e quando estive no Pirate Bay. Uma delas é que, se você é apaixonado pela internet como nós, só precisa de confiança para fazer alguma coisa na web, pois ela nos oferece as melhores ferramentas para criar e mudar.
Outra lição é que não precisamos de políticos para mudar nada. Os políticos tradicionais são lentos demais para acompanhar a tecnologia e a revolução digital. Quando criam uma lei, diz respeito a algo que fazíamos cinco anos atrás. Portanto, não se preocupe com eles, apenas faça o que quiser, e faça agora. Quem controla a internet somos nós, os usuários dela.
 
Fonte: Folha
 
Segue o link do Canal no YouTube e o Blog
http://www.youtube.com/naoquestione
http://nao-questione.blogspot.com.br/?view=flipcard
Gostaria de adicionar uma sugestão, colabore com o NÃO QUESTIONE

Nenhum comentário:

Postar um comentário