quarta-feira, 9 de abril de 2014

COLONIALISMO EUROPEU E OS 20 ANOS DO GENOCÍDIO EM RUANDA


Por Douglas Belchior

Em 1994 tinha 16 anos e estava muito ocupado comemorando o título da seleção brasileira de futebol no mundial dos EUA. Minhas aulas de história na E.E. Padre Eustáquio, divisa de Poá com Ferraz de Vasconcelos, mal tratava de América Latina, imagine de África.

Anos depois, já como um simpatizante das causas sociais, conheci a história do genocídio em Ruanda. Me lembro de quando assisti pela primeira e única (última) vez o filme Hotel Ruanda. Foi em uma madrugada fria, com alguns amigos, no Centro Acadêmico de Ciências Sociais da PUC-SP. E choramos.

Entendi naquela noite o significado de “Colonialismo” e o quanto ele destruiu e ainda destrói, por dentro e por fora, os povos africanos e seus descendentes, inclusive provocando que nos matemos entre nós.

O professor Dennis Oliveira nos traz uma síntese mais apurada.

Por Dennis Oliveira – Nota do Coletivo Quilombação sobre

Os 20 anos do Genocídio em Ruanda

Há 20 anos atrás, deflagrou-se uma das mais terríveis práticas de genocídio: foi em Ruanda, país do continente africano. Em pouco mais de três meses, cerca de 1 milhão de pessoas foram assassinadas, a maior parte esfaqueadas; e cerca de 3 milhões foram obrigadas a refugiar-se.

Ruanda é um pequeno país, densamente povoado, com uma densidade populacional acima de 400 habitantes por Km2. Ao contrário do que foi divulgado pela mídia na época com grande estardalhaço e, agora, com pouquíssimo destaque, o genocídio não foi produto de um instinto “bárbaro” entre as etnias tutsi e hutu. Foi produto da colonização e do imperialismo da Europa.

Os colonizadores europeus chegaram ao então reinado do Banyawards no século XIX, civilização que vivia sob tradições orais, na qual os tutsis eram pastores e os hutus, agricultores. No período da colonização, apropriando-se das teses eugenistas e de darwinismo social, os colonizadores belgas acreditavam que os tutsis eram uma etnia “superior”, privilegiada, descendentes dos semitas. Assim, estabeleceram um sistema de hierarquização étnica, colocando os hutus como uma etnia de segunda classe.

Os privilégios concedidos aos tutsis, que dirigiam o reinado de então, fizeram com que personalidades desta etnia liderassem a luta pela independência. Foi neste momento que os colonizadores belgas mudam de posição e passam dar apoio logístico aos hutus. A Revolução Ruandesa de 1959 que levou o país à independência colocou um governo vindo da etnia hutu. No ano seguinte, começa uma política de perseguição étnica a minoria tutsi, com muitos deles se refugiando para Tanzânia e Burundi, países vizinhos.

Refugiados e, mais tarde, contando com apoio de guerrilheiros da República Democrática do Congo, os tutsis recebem treinamento militar e formam a Frente Patriótica Ruandesa (FPR) que passa a combater o governo da etnia hutu. A gota d’água deste conflito foi a derrubada do avião presidencial em 6 de abril de 1994, fato que foi creditado, sem provas conclusivas, a FPR dos tutsis. A partir daí, começa então o genocídio mais cruel, com o assassinato a facadas de pessoas da etnia tutsi, estupro em massa de mulheres, refugiados em massa. A ONU e suas tropas de paz pouco fizeram. Não era interesse do imperialismo europeu a resolução do problema, até porque o governo hutu, durante muito tempo, foi aliado de países como a França e a Bélgica.

A pesquisadora Andréia Couto, autora da obra O país das mil colinas, afirma que “seria incorreto analisar a eclosão do genocídio somente a partir das relações de opressão/submissão seculares entre as duas etnias. Enquanto existentes localmente, sem a inferferência externa do elemento europeu, essas ligações eram reguladas por mecanismos internos da própria sociedade. Uma vez chegados os colonizadores, essa engrenagem é propositalmente desestabilizada para os fins políticos coloniais.”

Ruanda vive hoje um clima de relativa estabilidade, embora ainda existam milhares de refugiados. As feridas deste genocídio ainda não se cicatrizaram, principalmente porque o xadrez geopolítico internacional ainda reserva ao continente africano um lugar de superexploração de recursos humanos, naturais e materiais para dar sustentação ao capitalismo global. A cobertura da mídia, inclusive a brasileira, que limita o episódio a uma pretensa “guerra tribal”, desresponsabilizando o centro do capitalismo é uma demonstração de como a manutenção do continente africano neste lugar é parte da estratégia do capital – estratégia que vem desde os tempos idos da escravização de africanos para as colônias latino-americanas, pela manutenção do racismo estrutural em países de maioria negra, como o Brasil; e pela negação dos direitos mínimos de vivência aos afrodescendentes em todo o mundo.

Fonte: Negrobelchior - Carta Capital

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