segunda-feira, 5 de outubro de 2015

LUTA DE CLASSES E CLASSES DE LUTA


As minorias representativas avançam um passo e retrocedem dois, dadas as atuais condições objetivas atuais da democracia brasileira.

Conhecida pelo embate histórico entre burguesia e proletariado, a luta de classes consagrou a visão marxista da etapa capitalista de produção bem como a crítica da evolução expansionista do capital.

Capitalistas de um lado e trabalhadores de outro, dispostos e dispersos nas várias formas de produção de mercadorias na sociedade, eles travaram, desde o início da Revolução Industrial na Inglaterra e ainda o fazem no mundo contemporâneo, constantes lutas de interesses e objetivos.

Os primeiros na busca incessante e ampliada de lucratividade, os segundos na manutenção de sua sobrevivência econômica e conquistas de novos avanços em melhores condições de remuneração, saúde e produção.

Com o risco de ter simplificado demais a abordagem da luta de classes, ela pode assim ser contemplada e entendida resumidamente. Ela marca, de fato, a visão da economia política, não mais a econômica por si. Entra nela os objetivos e as ações dos chamados agentes econômicos.

Entra em jogo o domínio dos meios de produção, coadjuvados pelos meios financeiros, de um lado e os que vendem sua força de trabalho no mercado para levar à frente os objetivos dos capitalistas. A separação clássica no capitalismo entre os donos dos meios de trabalho e os que operam esses meios.

No mundo contemporâneo, essa luta permanece tendo como pano de fundo ainda a velha dicotomia entre os donos e os operadores dos meios de trabalho. Agora dentro das complexas estruturas produtivas, os meios de produção de um lado e os operários de outro.

A diferença é que a produção, outrora artesanal e gremial, passando pelas primitivas fábricas, chega à grande indústria, manifesta de muitas formas e variedades. As pequenas e médias instalações produtoras de mercadorias acabam se infiltrando nas fímbrias de produção, quando conseguem, não cobertas ou delegadas pelos complexos industriais.

Aí a luta de classes permanece diferenciada pelas reivindicações dos inúmeros grupos de trabalhadores dentro do embate com os patrões e equipes de direção. Essas diferenças se manifestam entre interior e cidade, entre regiões menos e mais desenvolvidas, entre formas menos e mais organizadas de trabalho e produção.

De fato, existe no capitalismo contemporâneo uma complexidade crescente de estruturas ocupacionais e bases técnicas de produção, as quais ajudam a distinguir mais e mais os coletivos de trabalhadores e a fragmentar não só suas condições de trabalho e produção, mas também suas formas de reivindicações trabalhistas.

Em assim se dando, os trabalhadores se prendem às suas especificidades de luta laboral, reduzindo sua unidade de visão e luta política, ao tempo em que se prendem à tecnologia predominante de produção dos grupos industriais. 

Ao ponto de não serem mais os donos de suas habilidades e conhecimentos, mas reféns das habilidades e conhecimentos usurpados dos antigos trabalhadores agora cristalizados nas novas máquinas e equipamentos pelo avanço da ciência e da tecnologia.

No fundo, no fundo, portanto, a luta de classes envolve a dimensão de domínio e poder. Retirar dos trabalhadores o máximo de tempo de trabalho, conhecimento e habilidade para incorporá-los nas tecnologias de produção. 

O computador é o símbolo mais evidente de incorporação do conhecimento abstrato do trabalho. Incorporado e adaptado no software que regula a memória da máquina.

Para levar à frente o domínio e o poder sobre o trabalho, o capital se utiliza e aproveita de outras esferas sociais. As classes de luta, por assim dizer, não só pelo jogo de palavras, mas também por mera distinção de divisões de grupos sociais, representam essas instâncias que, de uma forma ou de outra, operam para garantir seus interesses e objetivos interligados aos do capital.

A classe política talvez seja, de longe, a mais importante e predominante nas negociações dos interesses e objetivos dominantes. Exatamente por serem as responsáveis diretas pela elaboração das leis. O contrário não seria dado pois que a ordem de produção social é o capitalismo.

Os demais grupos integrantes da classe política são minoritários e batalham incessantemente diante dos interesses e objetivos da maioria. No Brasil de hoje, os trabalhadores, as mulheres, os indígenas, os homo-afetivos, os negros, entre outros, defendem suas bandeiras de luta política, econômica e social, mas dependem das contradições eventualmente presentes na maioria para que consigam algum êxito.

Já a maioria onde se encontram os representantes diretos ou indiretos dos empresários, ruralistas, evangélicos, “imprensários”, os banqueiros e especuladores, entre outros, deitam e rolam a serviço de seus projetos e ações politicas.

Longe não está essa maioria política das instâncias da Justiça, onde muitas vezes e frequentemente seus interesses e objetivos são defendidos com mais aceitação, simpatia e acolhida. As classes de luta da maioria e de instâncias da Justiça têm agendas parecidas e em comum.

Vale adicionar a classe de luta da mídia que trafega indistintamente entre a maioria do Congresso e os meandros da Justiça apostando em manchetes e notícias de sua feição. Nem que sejam, e muitas vezes são, parciais, montadas e inverídicas. Fabricação contínua de teses da chamada opinião pública.

Acaba que o rolo compressor das classes de luta dominantes mantém o domínio e o poder do capital sobre o trabalho. As minorias representativas, mesmo que numerosas em quantidade, avançam um passo e retrocedem dois, dadas as atuais condições objetivas atuais da democracia brasileira. 

Aliás democracia pressupõe igualdade de expressão e defesa dos direitos, não como hoje onde há a igualdade somente expressa na Constituição, mas que não corresponde ao que se vê no dia a dia do Congresso, dos tribunais e da mídia.

Aliás democracia pressupõe também respeitar, no mínimo, as leis produzidas pela própria maioria. E não querer fazer leis no grito e desespero, como agora quer a oposição ao insistir em desrespeitar a decisão do STF em proibir o financiamento privado de campanha.

Democracia e não balbúrdia. Respeito à cidadania e não hipocrisia e bandidagem. Que a luta de classes não descambe para o salve-se quem puder, para a pindaíba. 

*colaborador da Carta Maior


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