Vlogueira denuncia manipulação em entrevista ao G1: "Alterações de sentido me fizeram parecer alguém arrogante". Para rebater as distorções, Luisa Clasen postou em seu blogue a íntegra das respostas enviadas ao portal
Revista Fórum
A vlogueira carioca Luisa Clasen, de 24 anos, conhecida pelo canal no Youtube “Lully de Verdade“, foi uma das entrevistadas para a série “Garotas youtubers”, produzidas pelo portal G1. Após a publicação da matéria, na última segunda-feira (22), ela se manifestou em blogue dizendo que suas falas foram distorcidas pela reportagem.
A principal reivindicação da vlogueira é em relação ao título do texto: “Lully, musa youtuber, diz que vídeo faz mais pelo feminismo que ir à marcha”. “Na manchete parece que eu desdenho do movimento feminista, me colocando como superior por fazer vídeos. A minha sorte foi que essa entrevista foi por email, então eu tenho aqui exatamente o que respondi para jornalista Letícia Mendes”, escreveu.
Luisa reproduziu no post todas as respostas enviadas à repórter, com comentários nas quais considerou terem sido deturpadas. Para ela, as alterações de sentido a fizeram parecer “alguém arrogante”, já que as colocações positivas não foram inclusas, de acordo com ela.
Dei entrevista pro G1 e… distorceram tudo!
Hoje foi publicada uma matéria bem interessante no G1 sobre vlogueiras feministas, e contou com a participação das minhas colegas Gabbie Fadel, Bruna Vieira, Jout Jout e Acid Girl. Ah, e eu! Mas sabe o que me deixa mais triste? A edição da reportagem tirar todas as colocações positivas e distorcer qualquer coisa pra ganhar cliques. Na manchete parece que eu desdenho do movimento feminista, me colocando como superior por fazer vídeos. A minha sorte foi que essa entrevista foi por email, então eu tenho aqui EXATAMENTE o que respondi pra jornalista Letícia Mendes. Como teve uns momentos bem bacanas, resolvi dar um Ctrl C+V no email que respondi pra ela pra que vocês possam ler tudo, e acrescentei alguns comentários posteriores, que estão destacados em itálico.
Ah, só pra situar vocês: Ela me enviou email pedindo entrevista por telefone, marcou que ia ligar, mas não ligou. Depois enviou as perguntas por email, dizendo que não teria tempo de fazer por telefone.
Email do dia 15/6/2015
G1 – Primeiro queria saber sua idade, onde você mora e qual sua profissão, se você se formou em alguma faculdade.
Comentário: Começamos bem, a jornalista nem abriu o “about me” do YouTube ou do blog. Tudo isso sempre tá nos meus perfis. Sem falar que na matéria saiu que sou “curitibana”, hehe.
Lully – 24 anos, Rio de Janeiro, vlogueira. Me formei em Cinema e Vídeo pela FAP.
G1 – Como e quando surgiu a ideia do seu canal?
L – Em 2011 eu ganhei um computador bom pra editar trabalhos da faculdade, mas enquanto nada aparecia, resolvi gravar meus próprios vídeos e praticar, postando no blog sem compromisso. Acabou que as pessoas gostaram muito e fui atrás de me profissionalizar. Mas foi só em 2013 que pude me dedicar 100% a isso, sem empregos paralelos.
G1 – Como você faz seus vídeos? Você que faz tudo: monta o cenário, faz um roteiro, edita? Quantas horas leva? Como você define a duração que o vídeo vai ter?
L – Eu anoto qualquer ideia que surja, e quando chega o dia de gravar (normalmente uma vez por mês) eu seleciono os temas e faço os roteiros. O cenário é meu próprio quarto, então só tenho que dar uma organizada, monto luz, câmera e pronto. Em geral gravo mais de um vídeo por vez, na última leva foram 6 vídeos. Pra gravar demora no máximo uma hora cada um, e pra editar talvez meia hora, dependendo se é muito grande. Um vídeo curto como os do quadro “O que é?” demoram poucos minutos.
G1 – Como é sua rotina? Você tem rotina?
L – Semanalmente verifico as cabines de imprensa que vão acontecer, normalmente elas são meu primeiro compromisso do dia. Quando não tem cabine, posso dedicar a manhã a outras coisas. Cada dia é diferente, às vezes tenho que editar vídeo, às vezes escrever uma crítica, mas em geral não tenho horário fixo. Se eu passar o dia sem fazer nada, compenso de madrugada, finais de semana ou feriado. Esse é o lado ruim de não ter chefe: os fins de semana não existem, hehe.
G1 – Qual é o diferencial do seu canal do de outras meninas?
L – Acho que são duas coisas: uma delas é fazer conteúdo unissex, já que sabemos que a maior parte das vlogueiras se sente mais confortável falando apenas com mulheres, em temas como maquiagem, cabelo, moda, etc. A segunda coisa é que meu conteúdo é focado em quem se interesse por cinema, e muitas vezes vai além do superficial. Falo sobre como é estudar e fazercinema, o que interessa muitos adolescentes que pensam em fazer isso na faculdade.
Comentário: isso não foi pra matéria, só o ponto em que poderia causar um atrito com outras youtubers. O foco em cinema com viés acadêmico é algo muito importante pra mim e acredito, pro meu público também.
G1 – Quais temas você gosta de abordar por serem tabus?
L – Tento evitar polêmicas desnecessárias, mas conforme fui aprendendo quem era meu público, me senti mais confortável pra falar sobre a influência negativa da igreja na política e também sobre questões feministas. Nem todos vão concordar, é claro, mas recebo um apoio muito grande. Meus assuntos favoritos ainda são cinema, é importante ressaltar.
Comentário: “é importante ressaltar, por isso não ressaltamos.” hahahahahahaha
G1 – Qual vídeo mais gostou de fazer? E qual você se arrependeu assim que colocou no ar?
L – São tantos que gostei! Quando rola uma publicidade diferente é legal, porque dá a oportunidade de sair do comum, tentar um cenário ou uma proposta diferente. E as viagens também, claro. Não me arrependo de nenhum vídeo, só fico triste que o vídeo com mais views no meu canal seja justamente uma sátira, que nem sempre é compreendida por quem não é inscrito. Mas já era esperado, afinal tendo como convidado o Felipe Neto, atraiu muita atenção (positiva e negativa).
G1 – Você já falou bastante sobre feminismo no seu canal. Acredita que o feminismo tem ganhado mais espaço na internet, especificamente nos canais de garotas no youtube?
L – Sim! Acho engraçado quando falam que somos “feministas de internet”, pq é por aqui que o mundo tá mudando. Se houvesse necessidade de sair na rua e protestar eu o faria, mas acredito que as minhas atitudes online têm maior alcance. Um vídeo meu sobre feminismo com mais de 100K visualizações fez muito mais pelo movimento do que eu ter ido numa caminhada pró-legalização do aborto que rolou em Copacabana no ano passado.
Comentário: Quem acompanha minhas redes sociais lembra que eu fui nessa manifestação e fiquei chateada que começaram a gongar um homem que tava lá. As mulheres começaram a falar pra ele se calar, porque era homem. Fui embora quando começaram com “a luta pelo feminismo é uma luta pelo comunismo”. É por essas e outras que prefiro me expressar em vídeo, porque as manifestações podem perder o foco facilmente. ENTRETANTO, não tiro de forma alguma a importância delas! São elas que aparecem nas notícias, afinal de contas.
G1 – O que foi mudando no seu canal desde a estreia?
L – Quando comecei, eu não tinha plano de negócios e nenhuma noção de onde iria chegar. Também iniciei falando sobre temas mais femininos, e depois descobri que não queria ser essa pessoa. Me encontrei como formadora de opinião e descobri muito a respeito da comunicação online.
G1 – O que mudou na sua vida depois de lançar o canal?
L – Em 2012 as pessoas começaram a me reconhecer na rua e desde então o número só cresce. No final de semana fui fazer uma prova de inglês e até lá encontrei um inscrito do meu canal. Isso é muito legal, nos dá a oportunidade de conhecer quem nos conhece tão bem.
Além disso, pude me estabelecer financeiramente. Quando criei o canal eu tava no 3o. ano de cinema, e as perspectivas não eram muito animadoras, especialmente em Curitiba. Muita gente me pergunta porque eu não trabalho na área, o motivo é bem simples: vlogar me dá mais liberdade (flexibilidade de horários, viagens, etc) e segurança (quem trabalha com cinema sabe bem como é essa inconstância de ter trabalho agora, mas mês que vem talvez não). Eu amo trabalhar no set, mas ter seu próprio público, seu próprio projeto é muito gratificante.
G1 – As pessoas te abordam na rua? Como é a abordagem?
L – Sim, eu adoro quando isso acontece. Muita gente me chama e fala que gosta do meu canal, conta alguma história legal sobre como os vídeos influenciaram em alguma escolha pessoal. Tem gente que já conseguiu convencer os pais a deixar pintar o cabelo, outras pessoas iniciaram uma faculdade de cinema… Muitas histórias e todas incríveis! Adoro poder conversar com o meu público, sinto que existe um respeito mútuo. Eles são amigáveis, não invadem minha privacidade e em troca eu me sinto confortável pra parar e trocar uma ideia, tirar uma foto, etc.
Comentário: Nem mencionaram essa parte, porque é só fofura e amorzinho. Como a manchete já me vendia como alguém arrogante, isso ia estragar o ponto de vista da matéria.
G1 – Quanto você ganha de publicidade pelo canal? Você conseguiria viver só do YouTube?
L – Não entendo muito bem por que é normal perguntar isso pra um youtuber, mas não pra um empresário ou profissional de outra área. Minha renda é o suficiente pra eu morar com duas amigas num apartamento no Rio. Atualmente vivo só de publicidades nos vídeos e ações pagas. Eu e muitos youtubers somos empresas MEI, emitimos nota fiscal para as agências conforme fechamos jobs.
Comentário: Só eu que fico incomodada com essa pergunta? Parece que o pessoal tá querendo fiscalizar nossa grana, sendo que é dinheiro honesto, com nota fiscal e tudo. As pessoas têm que parar de achar normal sair perguntando isso pra blogueiro e vlogueiro. Se você não perguntaria isso pro seu dentista ou pro seu professor, por que tem que perguntar pra profissional de internet? E outra: é pela nossa própria segurança. Tem gente que fica só de olho nessas matérias pra descobrir próximos alvos de assalto, sequestro, etc…
G1 – Quais outros canais de garotas você assiste?
L – Adoro a Laci Green, que é uma sexóloga americana de 23 anos. O canal dela é sobre sexualidade e ela aborda tudo com muita leveza.
Já as brasileiras: Cíntia Disse (dicas de inglês), Jout Jout (vlogs diferentes), Ana de Cesaro (autoimagem e vlog), Julia Jolie (ciência e política), e claro, minhas duas roommates: Marcela Lahaud (Embarque Imediato, sobre viagens) e Natalia Kreuser (Kreuser Tipo Freud, vlogs, séries e games).
Comentário: “NÃO PÓDJI indicar azamiga, porque mulher tem mais é que se odiar, não pode ser amiga.”
G1 – Quais são seus planos futuros? Continuar com o canal no YouTube está entre eles?
L – Com certeza não pararia com o YouTube tão cedo! Mesmo que ele deixe de ser minha fonte de renda por qualquer motivo, ainda assim continuaria por hobby. Quero muito viajar e conhecer outros países, seria muito bom poder fazer um intercâmbio (sempre quis, mas nunca tive a oportunidade quando era adolescente).
G1 – Ahh, Luisa, quero te pedir um favor. Você pode me mandar fotos suas para eu usar na matéria? Também gostaria muito que você gravasse um vídeo bem rápido, de até 1 minuto, me mostrando o ambiente em que você faz os seus vídeos. Você faria, por favor?
L – Sobre o vídeo, infelizmente não tem como. Eu já fiz um vídeo mostrando meu quarto antigo, de Curitiba. Além disso, já mostramos nossa casa nesse vídeo aqui. Espero que você entenda, mas “gravar um vídeo” é o meu trabalho, então é quase como se eu te pedisse pra escrever uma matéria pra citar em um vídeo meu, hehe. A gente sabe quanto custa nosso trabalho e o tempo investido em cada projeto.
Quanto às fotos, estão anexadas aqui no email.
Comentário: Recebi alguns tweets de apoio em relação a isso. Se a gente quer ser respeitada como profissional, não pode ficar fazendo as coisas de graça, como “favorzinho”, né? Então por mais que na matéria isso pareça arrogante, vocês podem ver acima que foi da maneira mais educada do mundo que eu respondi a esse pedido absurdo. Quem mandou bem mesmo foi a Jout Jout, que respondeu a entrevista TODA em vídeo. Assim não deu margem pra citações erradas, como eu. Arrasou!
Se tiver alguma dúvida, é só falar!
Obrigada
Bjs
Lully
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