Responsável por uma encenação polêmica na Parada Gay, Viviany Beleboni tem recebido ameaças de morte por telefone e internet. De acordo com a atriz, objetivo da cena foi representar o sofrimento de gays, lésbicas, bissexuais, trangêneros, travestis e transexuais que são violentados no Brasil
Desde que realizou uma encenação em que apareceu crucificada do alto de um trio elétrico da 19° edição da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, a modelo transexual Viviany Beleboni, de 26 anos, tem sido constantemente ameaçada por telefone e internet. Em cima da cruz, uma placa foi colocada com o texto: “Basta de homofobia”.
Até o número que usava para negociar trabalhos em eventos teve que ser desligado. Demonstrações de ódio causadas por um ato que, segundo ela, tinha apenas uma mensagem de amor.
Viviany contou que em nenhum momento quis afrontar alguma religião. A atriz, que se define como espírita, revela que também acredita em Deus.
O intuito da cena, de acordo com Viviany, foi representar o sofrimento de gays, lésbicas, bissexuais, trangêneros, travestis e transexuais que são violentados no Brasil.
“Dizem coisas absurdas: que devo morrer, ser crucificada de verdade, contrair câncer. Acordei cedo com uma ligação anônima, dizendo que eu iria morrer. Teve gente dizendo que ano que vem vão colocar fogo na parada”, afirma a atriz.
Viviany revelou que, nos últimos tempos, duas conhecidas foram agredidas. Uma delas teria sido morta com quatro tiros em Porto Alegre. “Eu vejo a parada como um protesto, não como uma festa”, disse. “Usei as marcas de Jesus, que foi humilhado, agredido e morto. Justamente o que tem acontecido com muita gente no meio GLS, mas com isso ninguém se choca”.
Em texto publicado nas redes sociais, o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) comentou o episódio da crucificação na parada gay. Leia trecho a seguir:
Não vou aqui interpretar a performance da artista transexual porque seus sentidos me parecem óbvios demais: se Jesus foi marginal em sua época e, por isso, condenado à pena de morte por crucificação, nada mais pertinente do que usar esse episódio como metáfora da pena de morte a que estão condenadas as transexuais e travestis no Brasil, marginais da contemporaneidade.
Até mesmo muitos gays de classe média e média-alta foram incapazes de extrair sentido tão óbvio da performance artística da transexual, o que mostra que as viagens ao exterior, a música eletrônica, as drogas sintéticas consumidas nas baladas, as calças da Diesel e as cuecas da Calvin Klein não os tornam imunes à epidemia de estupidez nem à homofobia internalizada, ao contrário! Leitura, informação, estudo, artes vivas e canja de galinha não fazem mal a ninguém e saem mais em conta que os óculos Gucci e a rave da Skol.
E da próxima vez que forem escrever “Je suis Charlie” em seus perfis no Facebook, lembrem-se de que aqui nós também gozamos da liberdade constitucional de criticar através de expressões artísticas os dogmas e contradições das religiões – e isso está longe de se confundir com intolerância religiosa! Intolerância religiosa é pastor mandar seus fiéis invadirem terreiros de Candomblé para depredar seus orixás ou evangélico fanático urinar sobre a imagem de Nossa Senhora.
Uma sociedade verdadeiramente democrática, se quiser continuar assim, ao mesmo tempo que garanta a liberdade de crença a todos os que creem, deverá cuidar para que quaisquer religiões (em especial as cristãs) e seus porta-vozes não extrapolem a esfera que lhes compete – que é a esfera privada – e deverá impedir que se infiltrem ainda mais no Estado e na esfera pública, tentando cercear, por meio de falácias, manipulações, difamações e desonestidade intelectual, as liberdades civis de artistas e pessoas não crentes.
Fonte: Reuters - Folhapress
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