Gregory Deralus é formado em Ciências da Informática, mas aqui trabalha como técnico de gesso
Por Lúcia Rodrigues
O haitiano Gregory Deralus, de 34 anos, deve fazer exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML), nesta terça-feira, 11. A decisão foi tomada na noite desta segunda, 10, após prestar depoimento no 1° Distrito Policial, onde foi instaurado inquérito para a apuração de autoria dos tiros de chumbinho disparados contra ele e mais cinco compatriotas, no final de semana retrasado.
Gregory foi atingido por uma bala na perna direita quando caminhava pela rua do Glicério, região central da capital paulista, por volta das 21 horas do dia primeiro de agosto. Mas ele só se deu conta de que se tratava de um tiro, na manhã do dia seguinte, quando encontrou com outros haitianos que também haviam sido alvo dos ataques. “Pensava que tinha sido uma pedrada”, relata misturando palavras em português e francês.
Nas informações que prestou à polícia, com a ajuda de uma interprete enviada pela igreja católica que atua na área do Glicério, ele diz não saber de onde partiu o disparo. A preocupação agora é remover o projétil, que continua alojado no corpo. “O doutor falou que pode viver com a bala, mas eu quero tirar.”
Vida melhor
Antes de ficar desempregado em seu país, Gregory trabalhava em um órgão semelhante ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Formado em Ciências da Informática, teve de abandonar o país em busca de uma vida melhor, e hoje atua como técnico de gesso para conseguir enviar dinheiro para o sustento da família que ficou no Haiti.
Indagado sobre o que teria motivado o ataque contra eles, Gregory diz não saber. ‘Não sei, não sei, não sei...”, frisa inconformado. “Todo haitiano gosta da seleção brasileira”, completa. E ressalta que pretende continuar vivendo no país.
Já o amigo e compatriota, Thelusma Estamar, de 33 anos, que também o acompanhou à delegacia de polícia, considera que os seis haitianos foram vítimas de preconceito. “Não gostam da gente, porque o Haiti é pobre.”
Thelusma ressalta que a imagem passada pela velha mídia, sobre seu país, contribui para o reforço do estereótipo. “A maioria (das pessoas) assiste reportagens da Globo, que sempre mostram a pobreza de lá. E tem gente que não gosta de pobre”, enfatiza. Embora ressalte que no Haiti também há gente rica, além de classe média. “Como em qualquer lugar.”
Saudade
Ele está no Brasil há mais de três anos e fala português com fluência, graças a um curso oferecido, segundo ele, pelo governo federal. Apesar da imensa saudade que diz sentir, assim como Gregory, não pretende voltar ao Haiti tão cedo, a não ser para visitar a família.
“Tenho muita saudade de lá. Só o meu corpo está aqui... Quero voltar, mas meu objetivo, agora, é mandar dinheiro para lá (para suprir os parentes)”, explica Thelusma.
No Haiti, ele deixou pai, mãe e quatro irmãos. Sustenta os familiares, com parte do salário de mecânico que recebia antes de ficar desempregado recentemente. “Com 100 dólares, minha família faz uma compra para 15 dias.”
Apesar de ter ficado com medo dos ataques: “Depois disso só passo na rua (do Glicério), andando rápido”. O principal receio dele, hoje, é com a alta do câmbio, que prejudica os haitianos que enviam dinheiro para as famílias. Agora, são necessários mais reais, para comprar a mesma quantidade de dólares.
Mesmo assim, ele não mede elogios ao país que o acolheu. “O Brasil deu oportunidade, ofereceu muita ajuda”, relembra.
Polícia não fala
O delegado que acompanha o caso não quis se pronunciar. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública, informa que a polícia não irá se manifestar sobre as investigações. “A polícia está colhendo depoimentos dessas vítimas e de testemunhas e não irá revelar detalhes para não comprometer a investigação”, diz trecho do texto enviado à imprensa pelo órgão.
Para a Coordenação de Políticas para Migrantes da Secretaria de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo, o ataque aos haitianos é grave. Paulo Illes conta que sua coordenadoria pediu apoio para a Secretaria Nacional de Justiça. “Não seremos coniventes com nenhum tipo de violência xenofóbica, racista...”, enfatiza.
Paulo conta que após o prefeito Fernando Haddad (PT) ter criado a Secretaria de Direitos Humanos e a coordenação que ele dirige, várias políticas públicas começaram a ser destinadas para os imigrantes.
“Estabelecemos acordos com bancos públicos, para a abertura de contas e oferecemos cursos de português.”
Ele destaca, no entanto, que a insegurança jurídica que afeta muitos imigrantes acaba por afastá-los das políticas públicas. “A lei de imigração, de 1980, foca o atendimento na Polícia Federal, e os coiotes também pressionam”, lamenta.
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