A sociedade brasileira, apesar dos avanços econômicos, ficou muito a dever ao aprendizado para a cidadania e a defesa dos direitos humanos.
Um ladrão estava encurralado na Rainha Elizabeth com Nossa Senhora de Copacabana, sábado, 18h30. Ensanguentado, levava porrada de saradões, mulheres, velhos. De passagem, o historiador Joel Rufino, 74 anos, exibiu a carteira de diretor de comunicação do TJ e impediu o massacre. Um policial civil armado assistia sem se meter.
Nosso amigo, o historiador Joel Rufino dos Santos não poderia fazer por menos ao se ver diante de uma cena de barbárie perpetrada por uma corja de rufiões saradões e senhoras “de classe” que, sob o olhar complacente e incentivador de um policial civil, linchavam um ladrão em plena Princesinha do Mar, como o bairro de Copabacana é chamada pelos poetas:
Joel Rufino reagiu. Interferiu, se meteu no meio do banho de sangue e salvou a vida do rapaz. Impediu com seu ato de coragem civil mais uma execução sob tortura em praça pública de uma pessoa humana em nosso País.
Todos nós sabemos os riscos pessoais que corre qualquer cidadão ao enfrentar uma turba enfurecida desejosa de fazer justiça com as próprias mãos. A maioria das pessoas prefere passar ao largo para não ter aborrecimentos.
A sociedade brasileira, apesar dos avanços econômicos, ficou muito a dever ao aprendizado para a cidadania e a defesa dos direitos humanos.
Mesmo com seus 74 anos de idade e seu corpo franzino, Joel Rufino agiu sem olhar os riscos que corria. É uma exemplo a ser seguido por todos os jovens que não desejam se omitir diante de cenas de barbárie que testemunhem.
Com um simples gesto, perigoso, mas singelo, meu amigo Joel traz um alento para todos nós brasileiros e brasileiras, que ainda acreditamos que a dignidade e a integridade de cada cidadão, infrator ou não, é para ser respeitada e protegida.
Vale a pena ser gente brasileira quando temos amigos com esta coragem carinhosa para com todos que nos cercam.
Saiba um pouco mais sobre o cidadão Joel Rufino dos Santos:
Filho de pernambucanos, Joel nasceu no ano de 1941 em Cascadura, subúrbio carioca.
Desde criança se encantava com as histórias que a sua avó Maria lhe contava e as passagens da Bíblia que ouvia. Junto com os gibis, que lia escondido de sua mãe, esse foi o tripé da paixão literária do futuro fazedor de histórias. Seu pai também teve um papel nessa formação presentando-o com livros que Joel guardava em um caixote.
Ainda jovem mudou-se com a família para o bairro da Glória e pouco depois entrou para o curso de História da antiga Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, onde começou a sua carreira de professor, dando aula no cursinho pré-vestibular do grêmio da faculdade.
Convidado pelo historiador Nelson Werneck Sodré para ser seu assistente no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), conviveu com grandes pensadores e foi um dos co-autores da História Nova do Brasil, um marco da historiografia brasileira.
Com o golpe de 1964, Joel, por sua militância política, precisou sair do Brasil asilando-se na Bolívia, depois no Chile. Com o exílio, não só interrompeu a sua vida acadêmica como também não participou do nascimento do seu primeiro filho, que se chama Nelson em homenagem ao seu mestre e amigo.
Voltando ao Brasil, viveu semiclandestino e foi preso 3 vezes. Na última, cumpriu pena no Presídio do Hipódromo (1972-1974). As cartas, muitas, que escreveu para Nelson foram, mais tarde, publicadas no livro Quando eu voltei, tive uma surpresa, considerado o melhor do ano (2000) para jovens leitores.
Com a aprovação da Lei da Anistia, foi reintegrado ao Ministério da Educação e convidado a dar aulas na graduação da Faculdade de Letras e posteriormente na pós-graduação da Escola de Comunicação, UFRJ. Obteve da Universidade os títulos de "Notório Saber e Alta Qualificação em História” e “Doutor em Comunicação e Cultura”. Recebeu também do Ministério da Cultura a comenda da Ordem do Rio Branco por seu trabalho pela cultura brasileira.
Como escritor, Joel é plural. Escreveu inúmeros livros para crianças, jovens e adultos. Ficção e não ficção. Ensaios, artigos, participação em coletâneas. Recebeu, como autor de livros para crianças e jovens, vários prêmios, tendo sido finalista do Prêmio Hans Christian Andersen, considerado o Nobel da literatura infanto-juvenil.
Joel é casado com Teresa Garbayo dos Santos, autora do livro Conversando com casais grávidos. Nelson e Juliana são os seus filhos. Eduardo, Raphael, Isabel e Victoria os netos queridos. (fonte: Página Joel Rufino dos Santos)
Fonte: Carta Maior
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