quarta-feira, 24 de julho de 2013

PM INFILTRA POLICIAIS SEM FARDA EM PROTESTO NO RIO


A passeata começou pacífica e ia até a sede do governo do Rio de Janeiro, onde o Papa Francisco recebeu as boas-vindas. Um confronto deixou cinco manifestantes e dois policiais militares feridos – um deles por um coquetel molotov. Todos os feridos já receberam alta e passam bem.
 
A Polícia Militar foi criticada por ter prendido um integrante do Mídia Ninja, um grupo que transmite as manifestações pela internet.
 
Manifestação
Por volta das 17h, os manifestantes começaram a se reunir na praça do Largo do Machado, na Zona Sul do Rio. O bairro é vizinho a Laranjeiras, onde fica o palácio Guanabara, sede do governo do estado.
 
Entre as cerca de 300 pessoas, com faixas e cartazes, havia integrantes de partidos políticos e de movimentos de lésbicas, gays, bissexuais e transsexuais. O grupo ocupou as escadarias de uma igreja onde peregrinos cantavam músicas católicas. E promoveu um beijaço contra a homofobia.
 
Pouco depois das 18h, os manifestantes saíram em caminhada, em direção ao Palácio Guanabara, onde autoridades davam as boas-vindas ao Papa Francisco. No caminho, mais pessoas se juntaram à passeata, que chegou a reunir 1.500 participantes.
 
Em frente ao bloqueio montado pela PM, a cerca de 200 m da sede do governo, manifestantes queimaram um boneco, que representava o governador Sergio Cabral. O grupo permaneceu no local, sem que houvesse confronto, por cerca de meia hora. Houve gritos contra a PM: “Sem hipocrisia, a polícia mata pobre todo dia!”
 
Depois que o papa Francisco deixou o Palácio Guanabara, as grades que bloqueavam a rua foram derrubadas.
 
Começou o tumulto : de um lado, pedras; do outro, balas de borracha. Alguns manifestantes lançaram coquetéis molotov contra os policiais. Um PM foi atingido pelo fogo e se jogou no chão, na tentativa de apagar as chamas. A polícia reagiu com bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo, balas de borracha e jatos d’água.
 
Muitos policiais estavam sem identificação nas fardas. Uma manifestante aborda um deles. Ela pede para que o PM se identifique, mas ele se nega.
 
Segundo a Polícia Militar, um menor foi apreendido e sete pessoas foram detidas por desacato, incitação à violência, formação de quadrilha, exposição ao perigo, resistência e dano qualificado.
 
Depois das prisões, um grupo de 300 pessoas se concentrou em frente ao prédio da delegacia do Catete, pedindo a libertação dos detidos. Foi o início novas confusões. Carros da tropa de choque foram cercados. Policiais tentaram liberar a pista e houve um empurra-empurra. PMs usam spray de pimenta e o grupo se dispersa pelas ruas do bairro.
 
Seis detidos foram liberados porque teriam praticado crimes de menor potencial ofensivo.
 
Entre eles estava Filipe Peçanha, conhecido como Carioca. Ele é integrante da Mídia Ninja, grupo que tem se dedicado a transmitir as manifestações, ao vivo, pela internet. Filipe conversou com um repórter  e disse que não sabia por que tinha sido detido. “Me trouxeram aqui para fazer uma averiguação, eu fiquei aqui esperando, fui bem tratado pela Polícia Civil, mas a Polícia Militar me colocou à força, sem nenhum tipo
de justificativa. Sem nenhum tipo de alegação.”
 
Na internet
Nesta terça, nas redes sociais, pessoas que acompanhavam a manifestação acusaram a PM de ter infiltrado policiais sem farda no protesto para provocar o tumulto. Foram postados vídeos em que, após o tumulto, dois homens correm em direção à barreira da policia. Um deles tira a camisa. Eles parecem se identificar e são autorizados a passar.
 
Por telefone, o coronel Frederico Caldas reconheceu que policiais do serviço reservado, a paisana, acompanham a manifestação, com o objetivo de identificar agressores e coletar provas, mas disse disse que não é possível afirmar que os homens mostrados nos vídeos sejam policiais.
 
Prisões
De todas as pessoas detidas na segunda-feira, apenas Bruno Ferreira Teles ficou preso durante toda a madrugada – por porte de artefato explosivo ou incendiário e por desacato.
 
Na manhã de terça, o advogado dele conseguiu um habeas corpus. “Me prenderam e disseram que eu estava com uma garrafa de molotov. Eu não estava”, disse Teles.
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