segunda-feira, 10 de agosto de 2015

BRASIL: CUIDADO COM AS ARMADILHAS


A operação Lava Jato tira o foco do sistema da dívida pública, o verdadeiro centro da acumulação do capital produtor de injustiças.
Não caiamos em armadilhas. Colocar a Operação Lava Jato como único foco da crise vivida no país é uma das artimanhas do capital. A Operação deve ir fundo, óbvio, investigar e revelar toda a arquitetura criminosa que vinha assaltando a Petrobras e outras empresas, condenando por seus crimes os responsáveis que forjaram fortunas e enriqueceram ainda mais empresários, alguns gestores e parlamentares corruptos, como os indícios apontam. Não nos esqueçamos, porém, que há outros mecanismos, legais e públicos, embora não sejam éticos, pelos quais as elites concentram e expandem suas riquezas, ampliando seu capital a juros, desvinculando-o do fomento ao trabalho e à produção. Esse é o campo das decisões sobre política monetária. 

Quanto a Lava Jato revelará, ao final, sobre desvios e fraudes contra a Petrobras? R$ 20 bilhões? R$ 40 bilhões? O que representa isso frente aos números da dívida pública? Em 2002 a dívida bruta no país era de menos de R$ 906 bilhões. A custo altíssimo, desde então, alimentada pelas constantes altas de juros, subiu acintosamente, drenando trilhões do tesouro nacional em juros e amortizações e, por isso, em junho último superava R$ 3,87 trilhões no total. Em fevereiro a dívida líquida era de 36,3% do PIB, enquanto a dívida bruta, sobre a qual incidem os juros, chegava a 65,5% do PIB. Achar, por isso, que nosso enfrentamento é apenas no campo dos crimes investigados pela Lava Jato é uma ingenuidade brutal, investigando-se mais ou menos, condenando-se ou não excessos ou abusos de quem quer que seja, no Judiciário ou no Ministério Público. Isso é o de menos. 

Tem gente que acha que tudo começa ou termina na Lava Jato, esteja de que lado estiver. Para a direita ortodoxa, quanto mais essa Operação estiver no foco, mais ela agirá para desgastar o governo, óbvio, especulando até o impeachment, mas desfocando da visão pública o sistema da dívida pública, o centro da acumulação do capital produtor de injustiças. Um dia a Lava Jato terminará, espero que indo fundo nas investigações e na condenação dos responsáveis pelos crimes cometidos contra a administração pública. Isso, porém, não terá resolvido nossa luta contra a exploração do capital sobre a maioria da sociedade. É para essa luta que devemos nos preparar com profundidade, estudando, construindo argumentos, forjando estratégias e ações para a reversão dessa brutalidade que é o sistema da dívida pública e seus pilares. 

Quais são eles ? A política monetária dominante desde 1999, as teses de inflação de demanda, a definição e defesa de altas taxas de juros contra a inflação, ao lado da apatia de setores de esquerda anestesiados com a ocupação do aparelho de estado, seus ministérios, contratos e vantagens. Além disso não nos esqueçamos da manipulação do estado como forma de assegurar a remuneração e a expansão do capital multiplicado a juros, controlando-se a mídia econômica, mantendo constantes as pressões internas e externas sobre as autoridades econômicas e monetárias do país ( leia-se Fazenda e Banco Central). Sabemos que a moeda, além de meio de pagamento e unidade de conta, é , também, reserva de valor, o que a torna um fetiche, e sua posse, por isso, torna-se uma obsessão, fazendo com que, para obtê-la sempre mais e mais a corrupção e a exploração andem juntas. É preciso combater as duas formas de manifestação e razão desse fetiche e dessa obsessão. Simultaneamente, pois ambas impedem o desenvolvimento do país e o bem estar da maioria da sociedade.

*Professor da UFPE / Presidente da Fundação Joaquim Nabuco - Secretário Nacional de Assuntos Econômicos do PDT


Fonte: Carta Maior

Segue o link do Canal no YouTube e o Blog
Gostaria de adicionar uma sugestão, colabore com o NÃO QUESTIONE

Este Blog tem finalidade informativa. Sendo assim, em plena vigência do Estado Democrático de Direito, exercita-se das prerrogativas constantes dos incisos IV e IX, do artigo 5º, da Constituição Federal. Relembrando os referidos textos constitucionais, verifica-se: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato" (inciso IV) e "é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença" (inciso IX). As imagens contidas nesse blog foram retiradas da Internet. Caso os autores ou detentores dos direitos das mesmas se sintam lesados, favor entrar em contato.

Nenhum comentário:

Postar um comentário