terça-feira, 4 de agosto de 2015

BRASIL: OS IDIOTAS PERDERAM A MODÉSTIA


Os idiotas perderam a modéstia, soltam bombas na madrugada e atropelam vendedores de doces em Madureira

Por Patrick Mariano

Adílio Cabral dos Santos, 33 anos, vendedor ambulante de doces e balas nos trens do Rio de Janeiro, morreu na contramão atrapalhando o tráfego.
Ao fugir da fiscalização, junto com seus colegas de trabalho, foi atropelado por um trem, enquanto corria por entre os trilhos da estação Madureira. Ele caiu e lá ficou. Por ordem da empresa, outro trem que vinha em sua direção passou por cima de seu corpo para que não houvesse interrupção do fluxo.
Adílio dos Santos cumpriu sua sina. Sina de uma vida indigna de ser vivida para o capitalismo. A empresa, entre proporcionar atendimento médico para o ambulante ou mandar que o trem passasse por cima de seu corpo, não titubeou e deixou que aquela máquina de milhares de toneladas estraçalhasse seus ossos. “A dignidade morreu no horário de pico”, título belíssimo da jornalista María Martín, resume bem. Só ousaria acrescentar que a nossa própria dignidade foi estraçalhada também naquele mesmo horário.

Tragédias sociais como a que vitimou Adílio tem se tornado frequentes. Recentemente, fez um ano da morte da auxiliar de limpeza Claudia Silva Ferreira, 38 anos. Atingida por um tiroteio entre policiais e traficantes numa favela do Rio de Janeiro, seu corpo foi trancado num porta-malas da viatura da Polícia Militar que se abriu. O corpo de Cláudia foi arrastado e dilacerado por 350 metros, à vista de todos, em plena luz do dia.

Cláudia e Adílio são retratos, molduras vivas do desrespeito à dignidade da pessoa humana e do caminho perigoso pelo qual percorre a sociedade brasileira rumo sabe-se lá para onde.

Podres Poderes

Os idiotas perderam a modéstia e hoje estão por aí. Alguns presidem e exercem podres poderes. Outros hegemonizam a mídia e alguns agridem pessoas nas ruas por usarem vermelho.

Idiotas interrompem, aos berros, momentos familiares de ex-ministros em restaurantes e há aqueles que mandam prender ilegalmente e posam de salvadores da pátria. Outro dia, na fila da padaria da minha quadra, um desses exemplares exibia suas plumas vociferando contra o governo, o PT e contra toda essa “corrupção”, mantras de ódio político. Procurava, ao certo, alguém para brigar ou extravasar a sua estultice. Poderia ser um petista, um nordestino ou um gay. O sono da razão produz monstros, nos dizia Goya.

A ironia da história é que esse sono da racionalidade tenha surgido dentro de um projeto de poder de centro esquerda, depois de décadas de construção de uma proposta libertária desde as comunidades eclesiais de base, sindicatos, movimentos sociais, ex-presos políticos, bancários e trabalhadores.

O PT achou – por inocência ou comodismo – que fosse possível transformar uma sociedade extremamente desigual, com sinais claros de ranços escravocratas e formada em cima do manto sagrado dos latifúndios, com uma política de conciliação de classes, sem enfrentar temas cruciais como a regulação da mídia, sistema de justiça, reforma política e agrária.

Vácuo

Quando Dilma assume e faz um medíocre primeiro mandato, mesmo tendo altos índices de aprovação durante grande parte dele não assumindo nenhuma grande questão nacional, sem ousar em nada, com um ministério calado, inoperante e sem cor, já se desenhava, portanto, os sinais de que esse vácuo poderia trazer um custo.

A eleição foi uma janela histórica para uma guinada que por medo ou incapacidade política não veio. Ao contrário, o que veio foi uma desastrosa política econômica de austeridade e rentista. O vácuo de poder só se fez aumentar. Essa inação dos últimos governos petistas permitiu o ressurgimento e protagonismo de um conservadorismo que sempre existiu, mas que como vulcão adormecido esperava a sua hora.

Sei que essa análise é praticamente chover no molhado, mas não há como não dimensioná-la como um dos fatores para que chegássemos ao sono da razão.

A rádio Jovem Pan abriu espaço para exemplares perfeitos da imbecilidade humana que ocupam os horários mais nobres da programação para estimular o ódio contra sem qualquer limite ético. A TV aberta com seu jornalismo mundo cão transmite ao vivo, às 18 horas, execuções de pessoas e nenhuma autoridade sequer faz algo contra isso.

No Congresso Nacional se reduz a maioridade penal e há até quem defenda a morte, no útero, de bebês que forem propensos ao crime.
Os grandes pactos da humanidade foram firmados após tragédias sociais de imensas proporções. São textos que refletem um ideal de vida para todas as pessoas. A dignidade da pessoa humana tem um relevo fundamental em todos esses textos e na nossa Constituição da República. É a própria essência de um regime democrático.

O capitalismo, depois de 1989, reina absoluto no mundo e desde então há quem defenda o fim da história, um game over para o aprofundamento da democracia e para o avanço dos direitos e garantias fundamentais.

Essa forma de produção banaliza a vida humana, aprofunda a desigualdade e não dá conta de resolver os principais problemas das sociedades atuais. Estimula a formação de idiotas sociais que acreditam na meritocracia, criticam a corrupção do governo, mas sempre que viajam ao exterior cometem pequenos crimes tributários. Ouvem Jovem Pan, disseminam o ódio nas redes sociais e compartilham textos de Danilo Gentili.

Semana passada atacaram a sede do Instituto Lula com uma bomba. A ação, covarde, poderia ter matado uma pessoa que passasse pela rua, um segurança do prédio ou o próprio ex-presidente se estivesse saindo do trabalho após as inúmeras reuniões que realiza.

Os idiotas perderam a vergonha, soltam bombas na madrugada e passam com trens em cima do corpo de trabalhadores.

♦ Patrick Mariano é advogado, doutorando em Direito, Justiça e Cidadania no século XXI na Universidade de Coimbra, Portugal; mestre em direito, estado e Constituição pela Universidade de Brasília, integrante da Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares-Renap


Fonte: Caros Amigos

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