Lula segue a ser o alvo. É a força dele que atormenta tanto a extrema-direita quanto a imprensa golpista, que brincou com o atentado contra o Instituto.
Com mais de quatro décadas de atuação política, Celso Marcondes lança um alerta: Lula segue a ser o alvo. É a força dele que atormenta tanto a extrema-direita, quanto os setores mais “manhosos” da elite empresarial/jurídico/midiática, que nos últimos dias baixaram o volume de artilharia contra Dilma e seu governo.
“Eles [mídia e setores da elite] suportam a Dilma enfraquecida, mas não pisaram no freio dos ataques ao Lula. Ele vai ser alvo preferencial das manifestações de domingo e continua sob a mira dos Marinho”, diz o experiente militante.
Jornalista por formação, Marcondes é o diretor do Instituto Lula, órgão mantido pelo ex-presidente no bairro do Ipiranga, em São Paulo – bem perto do local em que Dom Pedro teria dado o “grito da Independência” em setembro de 1822. Em julho de 2015, os gritos que se escutaram por aqui foram outros. Uivos enraivecidos dos que lançaram uma bomba de fabricação caseira contra o Instituto, no último dia 30. Berros assustados dos que moram e trabalham nas redondezas.
Por parte da polícia e da imprensa velha de guerra, silêncio sepulcral. Duas semanas depois do ataque, a investigação não andou. A polícia de Alckmin, diga-se, é comandada por um secretário que gasta seu tempo comparecendo a manifestação de “juristas” em defesa da renúncia de Dilma.
Em entrevista exclusiva ao Escrevinhador, Marcondes revela que o Instituto segue a receber “telefonemas e emails ameaçadores.” Ou seja: os agressores sentem-se livres para atacar de novo. Ele estranha que o caso não tenha sido federalizado: “É responsabilidade também da PF tratar de um caso que envolve um ex-presidente.”
Ele diz que teme as ações da extrema-direita nos próximos dias: “pregam o golpe militar, são preconceituosos, racistas. São perigosos, sim. Mas não vão nos intimidar.”
Marcondes ficou um pouco mais aliviado com a presença de metalúrgicos e sindicalistas que, desde o dia 10, montaram um “acampamento” no Ipiranga pra defender Lula. Marcondes convoca militantes e democratas para que, no dia 16, participem de uma vigília contra o golpe, em frente ao Instituto: “Quem não quiser ir para a Paulista, que venha para cá defender a democracia.”
Confira abaixo a entrevista na íntegra.
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1) O ataque a bomba contra o Instituto Lula vai completar duas semanas. Como estão as investigações? A Policia Civil mostrou agilidade ou interesse em resolver o caso? Alguém foi ouvido? Há indiciados/suspeitos?
Eu estou muito preocupado com a lentidão na apuração do caso. Acho um absurdo não termos nenhuma novidade depois de 14 dias. Toda a região é cercada por câmaras de segurança de diversos edifícios. As pessoas que jogaram a bomba não passaram “de repente” e jogaram o artefato. Seguramente passaram antes para ver a situação e outras pessoas devem ter trabalho como informantes. Também não sei de nenhuma pesquisa séria feita pela internet para identificar os agressores.
Por “coincidência”, no dia do atentado aconteceu uma mini manifestação em frente ao Instituto com exatas dez pessoas de um grupo de extrema-direita com cartazes ofensivos ao Lula e ao Instituto, um deles com os dizeres “Instituto Lula = Instituto do Crime”. E na manhã de sexta-feira,31, enquanto avaliávamos o prejuízo, outro grupo menor ainda, com cinco pessoas, veio nos provocar e xingar. Está tudo registrado em fotos e vídeos que foram colocados na rede. Ou seja, em menos de 24 horas, foram três ocorrências no Instituto. Além disso, temos recebido telefonemas e e-mails ameaçadores. Eu pergunto: se as autoridades tratam um ex-presidente da República com tal descaso, o que pode vir pela frente?
2) Segundo a imprensa, o Secretario de Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, estava presente em ato público no dia 11 de agosto, quando “juristas” lançaram um manifesto exigindo a renúncia de Dilma. Parece uma manobra golpista. A lentidão da polícia (subordinada a Moraes) para investigar a bomba não poderia ser motivada por essa posição política extremada do atual secretário?
Eu não sabia da presença do secretário neste ato, mas lamento profundamente e me preocupo ainda mais agora com essa informação. O clima de insegurança e medo sempre propaga em momentos de crise. A história registra isso em abundância. Os que querem o golpe se alimentam deste clima.
3) O caso da bomba não poderia ser federalizado? A PF está investigando?
Acho que tem que ser federalizado, estamos esperando diariamente por isso, não entendo porque isso ainda não aconteceu. Ontem mesmo o presidente do Instituto, Paulo Okamotto, enviou ofício ao ministro da Justiça pedindo intervenção federal. É responsabilidade também da Polícia Federal tratar de um caso que envolve um ex-presidente.
4) Como Lula e a equipe do Instituto avaliam a maneira como a gloriosa “grande imprensa” tratou o atentado? “Folha”/UOL, por exemplo, escrevem em seus textos: o ataque “é tratado pelo PT como um atentado politico”. Ou seja: dão a entender que não é um atentado, que só os petistas tratam o caso assim… Você consegue imaginar o que aconteceria se o Instituto FHC fosse alvo de bomba? Ou se o Instituto Clinton fosse atacado pelo Tea Party nos Estados Unidos?
Foi impressionante. A reação da maioria da grande imprensa, em especial de alguns articulistas, foi a ironia ao desprezo. Não faltaram os que insinuaram que o próprio PT havia montado a farsa. Tentaram reduzir o caso por se tratar de uma bomba “caseira”. Mas “caseiras” foram as bombas da maratona de Boston, dos atentados do Riocentro, da OAB, contra as bancas de jornais, essas nos estertores da ditadura brasileira. Não foi coisa de um “baderneiro”, como disse um delegado e repercutiu na imprensa. Um “baderneiro” jogaria uma bombinha de São João. Aquela que foi jogada aqui tinha alta letalidade, basta ver as imagens da explosão na internet. Era uma bomba de fragmentação, que espalhou parafusos de mais de cinco centímetros. Fez pouco estragos porque explodiu antes do portão, quase explode dentro do carro que a jogou. Por sorte não havia ninguém por perto.
O Instituto fica em frente ao Pronto Socorro do Hospital São Camilo e de um ponto de ônibus. Companheiros nossos saíram daqui naquele dia meia hora antes da explosão. O Lula saiu às 21 horas e a bomba explodiu às 22h18. E eu tenho que ouvir Merval e Cantanhede brincando com isso. O que seria preciso para impressioná-los? O portão ter sido destruído? Algum ferido? Algum morto?
5) Desde o dia 10, metalúrgicos montaram um acampamento em frente ao Instituto Lula. Qual a ideia? Existe receio de que, no dia 16, com as manifestações golpistas já agendadas, o Instituto Lula possa ser alvo de extremistas da direita?
É uma iniciativa dos metalúrgicos do ABC, que começaram a Vigília pela Democracia e eu fiquei muito contente com isso. O acampamento está crescendo e seguramente atrairá milhares de pessoas no dia 16.
Quem não quiser ir para a Paulista, que venha para cá defender a democracia. Vai ser uma grande festa, com música, barracas e alegria. Temos medo, sim, de grupos de extrema-direita. Diante da inoperância da polícia, fomos obrigados a contratar segurança particular para nos proteger e contar com o apoio dos companheiros e amigos. Esses grupos, que aparecem impunemente pela internet, não tem apreço pela democracia, pregam o golpe militar, são preconceituosos, racistas. São perigosos, sim. Mas não vão nos intimidar.
6) Qual cenário você enxerga nesse momento aí em frente ao prédio? Há quantas pessoas? Todos dormem aí acampados?
Hoje pela manhã umas 60 pessoas. Estão conversando, jogando baralho, cantando. Eles fazem um rodízio. Montaram uma barraca de cem metros quadrados, não sei dizer quantos dormiram aqui. Mas durante toda a semana comitivas de sindicalistas e amigos virão nos visitar. No sábado vai ter samba e no domingo uma festa da democracia.
7) Um colunista conservador, pago pela família Marinho, andou espalhando que nesta quarta-feira viria uma “bomba” contra Lula. Aparentemente, o tal colunista quis até fazer graça com o atentado do dia 30. Há algum receio, no Instituto, de que Sergio Moro possa criar algum fato novo antes do dia 16, para inflar o movimento golpista?
Eu acho que aqueles que comemoram a “trégua” calculada, momentânea e tática da Rede Globo e de outros veículos, tem que entender essa novidade na sua plenitude. Depois de desgastar tremendamente a presidenta Dilma, chegaram à conclusão que não há alternativa imediata tranquila.
Todos sabem que Eduardo Cunha pode ser indiciado a qualquer momento pela Lava Jato. E as elites, o capital financeiro, temem que a crise política aprofundada prejudique ainda mais os seus negócios. Procuram alternativas rápidas e seguras, mas não encontram. E a oposição está claramente dividida. Enquanto esperam os resultados das novas investidas da Lava Jato e o alcance das manifestações do dia 16, dão uma trégua, pisam um pouco no freio do golpe em marcha. Mas, muita atenção: suportam a Dilma enfraquecida, mas não pisaram no freio dos ataques ao Lula. Ele vai ser alvo preferencial das manifestações de domingo e continua sob a mira dos Marinho, vide a capa do Globo de hoje.
8) Há uma página no facebook pedindo a morte de Lula. O Instituto vai entrar com ação para pedir punição aos responsáveis pelo crime? Qual a alegação do Facebook para manter a página?
Essa é outra faceta do ataque ao Lula. Esse “grupo aberto” do Facebook é um absurdo, um ultraje à democracia. Na sexta-feira eram 4 mil seguidores, hoje já passam de 5.500. Já fizemos dois pedidos formais para a retirada e muito gente denunciou a página, Eles mandam uma resposta burocrática dizendo que não enxergam motivos para tal. É inconcebível tal atitude. Diante dessa, vamos intensificar a mobilização pela rede e entrar com ação na Justiça, nossos advogados já estão preparando.
9) Como está o humor de Lula com essa escalada autoritária no Brasil?
Lula está evidentemente preocupado com a situação política do país e altamente empenhado no debate para enfrentar a crise, conter as ameças golpistas e unificar o Brasil na defesa da democracia. Começou ontem seu ciclo de viagens pelo país, naquela maravilhosa Marcha da Margaridas. Volta à Brasilia dia 14 para a Plenária Nacional da Educação. Depois vai a Belo Horizonte e tem inúmeros convites para viagens. Ele está muito satisfeito com a quantidade de mobilizações populares que começam a acontecer pelo Brasil.
%u20B10) E quem trabalha no Instituto: tem medo?
O Instituto tem mais de 30 colaboradores regulares e dezenas de outros que passam por aqui diariamente para participar de reuniões e atividades. Alguns mais engajados politicamente, outros nem tanto, são profissionais em suas áreas. Todos estão muito preocupados com a não apuração do atentado. Mas satisfeitos com o serviço de segurança particular que contratamos e com a solidariedade dos metalúrgicos. Mas um dos choques que ficou foi com a ausência da solidariedade de importantes setores ditos democráticos de nossa sociedade. Você acredita que não recebemos nenhum telefonema de dirigentes do PSDB, do PP e de muitos ilustres democratas brasileiros? O que fica, é que compraram a versão dos colunistas globalizados.
Fonte: Carta Maior
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