Muito se fala sobre sexualidade, comportamento e novos modelos familiares nos últimos tempos. Uma questão curiosa gira em torno de como será ou como é a vida de filhos criados por pais LGBT, que fogem do padrão do qual estávamos acostumados até então. A fotógrafa baseada em Nova York, Gabriela Herman, foi atrás destas respostas e criou uma série surpreendente que une fotografia e antropologia.
A história de Gabriela se assemelha ao tema, já que sua mãe saiu do armário quando a filha ainda era adolescente, o que não foi nada fácil. Os pais se divorciaram, a mãe se juntou com sua parceira e 15 anos depois, a fotógrafa foi atrás de outras pessoas com infância similares a dela. Assim nasceu a série The Kids (As Crianças), que revela traços íntimos de quem passou pelo período de descoberta dos próprios pais.
Inicialmente, os personagens foram buscados na COLAGE, instituição de apoio para pessoas com pais homossexuais. Ao longo dos anos de pesquisa e entrevistas, Gabriela conheceu todo tipo de situação e ouviu muitas histórias de aceitação, confusão e dúvida. Para ela, a conclusão é de que as crianças são sempre discutidas, mas nunca têm a chance de falar por elas mesmas. A fotógrafa indica que os pais que estejam nessa situação sentem-se com seus filhos para perguntar a eles como se sentem e oferecer o devido apoio ao longo do caminho.
Ter um diálogo aberto com os filhos deve ser um dos grandes trunfos desta geração que, diferentemente das passadas, está diante de uma era de busca pela verdade, a identidade própria e a informação o tempo todo. Os mais diversos casos foram relatados para Gabriela, como você confere a seguir:
Elizabeth, criada em Boston por sua mãe e seu pai, que saiu do armário quando ela estava no colegial.
“Ele disse ‘está na hora de eu confrontar minha identidade’ e eu perguntei ‘você é gay?’, e ele disse, ‘bom, eu ainda não tive nenhum experiência para ter certeza’. E eu acho que as próximas palavras que saíram da minha boca foram ‘pai, eu tenho certeza que você é gay'”.
Annie, criada em Athens, Ohio, por sua mãe e seu pai, que passou por transição de gênero quando ela tinha 4 anos: “Eu realmente não me lembro do meu pai como homem. Eu acho que é como crescer com duas mães. Mas para mim nunca foi uma grande coisa por um bom tempo porque eu não conhecida nada mais do que aquilo. Não foi até que eu entrei na faculdade e tive que lidar com o fato de contar para as pessoas. Eu apenas não falava realmente sobre e muito menos via isso como um problema social ou como algo que deveria ser combatido…eu não me identificava com aquele grupo de maneira alguma”.
Danielle, criada em Washington, D.C., por duas mães e quatro pais:
“Quando eu tinha em torno de 4 anos, minha amiga e eu estávamos brincando de casinha e ela sempre era a mãe e desta vez eu não ia deixar barato. Nós tivemos uma grande briga por causa disso. Então minha mãe veio correndo para dentro e perguntou qual era o problema, ‘por que vocês duas não podem ser as mães?’, e eu olhei para ela, incrédula, e disse ‘não pode fazer isso'; e ela me olhou e disse ‘Danielle, você tem duas mães!'”.
Aaron, criado em Berkeley, Califórnia, por duas mães e, depois da separação quando ele tinha 7 anos, por sua mãe e padrasto:
“Minhas mães separaram quando eu tinha em torno de 7 anos, porque minha mãe biológica se apaixonou por um homem. Eu sabia que minha família era diferente, mas não era um ‘diferente estranho’, era apenas um tipo diferente de família.”
Vanessa, criada em Virgínia por sua mãe e seu pai, que se assumiu quando ela tinha 28 anos:
“Para mim e para a minha irmã, nós ficamos mais chateadas pelo sentimento de ter ouvido mentiras por um longo tempo do que pela sexualidade do meu pai.”
Darnell, criado em Menlo Park, Califórnia, por duas mães e seu pai:
“Eu tomei como certo o fato de que eu estava cercado por lésbicas todo o tempo e eu pensei que era muito normal. Eu tenho uma vaga lembrança de ouvir música pop no rádio e apenas supondo que a pessoa cantando estava provavelmente cantando para uma pessoa do mesmo sexo.”
Ilana, criada em Pittsburgh por seu pai e sua mãe, que saiu do armário quando ela estava com 16 anos:
“Minha mãe estava em sua crise da meia idade. Algumas pessoas compram carros novos, minha mãe conseguiu uma nova orientação sexual.”
Lucas, criado em Gainesville, Flórida, por seu pai e mãe divorciados, que se assumiu quando ele estava com 15 anos: “Minha mãe ser gay sempre foi muito fácil para mim aceitar porque eu fui criado de maneira a aceitar todas as pessoas. Era raro, mas não foi nada difícil. Se a situação era pior para a minha mãe, se era mais difícil ser gay do que é para ela, então eu provavelmente seria mais determinado a lutar pelos direitos dela.”
Moshe, criado em Nova York por suas duas mães:
“Eu e minha mãe sempre fomos super próximos, mas claro que houve uma fase pré-adolescente de ódio por ela. Mas agora ela é como minha rocha e sempre está lá para mim. Eu a amo.”
Hope, criada em Nova York por dois pais:
“Eu sabia que havia outras estruturas familiares, porque eu iria ver famílias dos meus amigos e os meus tios e tias e eu sabia que as pessoas tinham algo chamado de ‘mãe’ que eu não necessariamente tinha, mas eu realmente não acho que eu era tanto uma minoria. Eu me perguntava sobre a minha família de nascimento e, em particular, minha mãe biológica, mas em termos de meu próprio desenvolvimento, eu não sinto que tenha sofrido por causa disso. Eu acho que os meus pais fizeram um trabalho fantástico de ajudar a me levantar para ser uma mulher forte, mas em termos desta pergunta sobre de onde vim, às vezes eu ainda me pergunto e outras vezes apenas meio que desaparece em termos de importância.”
A série completa, com áudio dos participantes, pode ser conferida aqui.
Todas as fotos © Gabriela Herman
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