Para pesquisadora da Unifesp, a violência policial contra manifestantes em SP constitui prática antidemocrática que não pode ser naturalizada
Professora da Unifesp e doutora em Ciências Sociais pela Universidade Complutense de Madri, Esther Solano vem pesquisando as manifestações em São Paulo desde 2013, quando o Movimento Passe Livre (MPL) convocou os primeiros atos contra o aumento das tarifas do transporte público. Compareceu a todas elas, daquelas organizadas contra a Copa do Mundo até as mais recentes, pelo impeachment da presidenta Dilma.
E é deste lugar de observadora privilegiada que ela afirma que jamais viu algo como o que ocorreu nesta terça (12), quando o mesmo MPL convocou a segunda manifestação de 2016 contra o mais novo aumento das tarifas do transporte coletivo, mas sequer conseguiram dar voz às suas reivindicações. O cerco policial à Avenida Paulista impediu, inclusive, que a maioria conseguisse chegar ao local pré-determinado.
“Eu demorei mais de meia hora para acessar a manifestação, devido ao bloqueio policial. Vários conhecidos mandaram mensagens dizendo que não conseguiram passar”, relata Esther. Os que conseguiram também não foram muito longe. “Nós ficamos encurralados em meio ao cerco policial, em um ambiente extremamente tenso”, acrescenta.
Segundo ela, é difícil precisar o número de participantes, mas a sua impressão foi a de que era um número menor do que o do último protesto, ocorrido na sexta (8). “A impressão que dava era que éramos um grupo pequeno, cercado de policiais por todos os lados. E que esta polícia estava determinada a impedir de qualquer forma que a manifestação circulasse”, afirma.
A pesquisadora conta que não houve tempo sequer para que algum black block chegasse a fazer alguma provocação que justificasse a reação policial, como tem sido comum neste tipo de ato. “Havia veículos da Tropa de Choque e até quatro viaturas da ROTA circulando normalmente. E sem nenhuma razão concreta, os policiais começaram a atacar com cassetetes, bombas de efeito moral, gás de pimenta, balas de borracha”, conta.
De acordo com Esther Solano, nem na mais tensa das manifestações da Copa se desenhou um cenário parecido com o desta terça, com pessoas feridas por estilhaços de bombas, sufocadas pelo gás ou machucadas pelas balas de borracha. “Em termos de aparato policial, esta foi a mais brutal”, denuncia.
Foram mais de 30 minutos de ataques constantes com bombas de efeito moral, spray de pimenta e balas de borrachas. Encurralados, os manifestantes não tinham para onde fugir. Pessoas que circulavam pela região também ficaram feridas. Pelo menos dez pessoas foram detidas pela PM, conforme informações da imprensa.
Naturalização da violência policial
Para a pesquisadora, a conclusão da observação direta das manifestações em São Paulo é um alerta. “Parece que não aprendemos nada com os erros do passado. A estratégia política continua sendo a de não diálogo: as tarifas são impostas de cima para baixo, sem discussões democráticas com a sociedade. E para quem discorda resta o aparato policial”, afirma.
O mais perturbador, segundo ela, é que tudo isso ocorre sem consequências para mandantes e executores, como se a repressão das manifestações não fossem práticas antidemocráticas que atentam contra o legítimo direito à liberdade de expressão. “A violência policial está cada vez mais naturalizada. Parece que ninguém mais se incomoda com essas práticas antidemocráticas”, denuncia.
Para ela, a sociedade acaba legitimando tudo isso, quando se associa a crença vendida pela imprensa de que a violência policial é necessária para reprimir atos como os dos black blocks. “Eles são um minoria, mas são tratados discursivamente como se fossem o inimigo número 1 da sociedade brasileira”, aponta.
Esther observa também que, nestes momentos, não há consideração sequer com o trabalho da imprensa, que deveria ter acesso diferenciado aos eventos para retratá-los ao conjunto da sociedade. Tanto quanto os manifestantes, os jornalistas são tratados como inimigos públicos e se tornam vítimas do aparato policial. “Há notícias de vários jornalistas feridos”, relata.
Aumento das tarifas
O aumento da tarifa do transporte coletivo de São Paulo começou a valer no último sábado. As tarifas dos ônibus e metrôs subiram de R$ 3,50 para R$ 3,80, um aumento de 8,57%. Já o bilhete para integração entre ônibus, metrô e trens saltou de R$ 5,45 para R$ 5,92. Os bilhetes temporais permanecem com os mesmos preços.
A Secretaria Municipal de Transportes e a Secretaria Estadual dos Transportes Metropolitanos afirmam que o reajuste ficou abaixo da inflação acumulada desde janeiro de 2015, quando ocorreu o último reajuste, que foi de 10,49%, segundo a FIPE.
O MPL luta por tarifa zero para todo o transporte público e já convocou novas manifestações para a próxima quinta (14) em duas frentes: no Teatro Municipal, no centro da cidade, e no Largo da Batata, em Pinheiros.
Fonte: Carta Maior
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