segunda-feira, 22 de junho de 2015

BRASIL: JEAN WYLLYS, "LGBT SEMPRE ENCARNOU A CIDADE REBELDE" - COM VÍDEO


O Bloco de Esquerda da Parada do Orgulho LGBT e o único parlamentar gay do Congresso Nacional reivindicam uma luta histórica, acirrada pelo capitalismo.

A população LGBT marca o território brasileiro com seu fluxo migratório: do interior de pequenas cidades para os grandes centros urbanos, frequentemente em busca de anonimato. Permanece, no entanto, omitida dos livros de História e Geografia, da formulação de políticas públicas, dos parlamentos.

Jean Wyllys (Psol-RJ), único parlamentar LGBT do Congresso Nacional, reivindica uma luta histórica: "nós LGBTs sempre encarnamos a cidade rebelde, nós já disputávamos a cidade". No entanto, reconhece: "essa cidade que apropriamos e que nos dá essa relativa liberdade manifesta um policiamento sobre os costumes e as identidades. Por vezes há porosidade entre o meio LGBT e o meio heterossexual, outras vezes temos que fechar nossos espaços à medida que a violência recrudesce", defende.


Apesar de raras, as estatísticas que abordam a violência LGBTfóbica parecem indicar que o problema está longe de ser superado. No Relatório Anual de Assassinatos de Homossexuais no Brasil, do Grupo Gay da Bahia (GGB) de 2014, houve um aumento de 4,1% no número de crimes homotransfóbicos comparado a 2013, com 326 mortes. Os assassinatos são, geralmente, o estágio final de uma violência prévia, que inclui discriminação, agressões e desemprego devido à orientação sexual ou identidade de gênero. 

O que a Parada do Orgulho LGBT tem a ver com isso?
Um espaço importante de apropriação da cidade por parte da comunidade gay, lésbica, trans, mas também heterossexual é a tradicional Parada de Orgulho LGBT. Em sua 19ªedição, a Polícia Militar não divulgou estimativa oficial de participantes. De acordo com Fernando Quaresma, presidente da Associação da Parada do Orgulho LGBT (ApoLGBT), foram "seguramente mais de 2 milhões".

Em geral, as críticas feitas à Parada, sobretudo nos últimos anos, recaem sobre o fato de que o evento teria perdido sua conotação política e enfatizado o caráter festivo. No entanto, manifestações de caráter eminentemente político se fizeram presentes: a ApoLGBT posicionou-se contra o avanço de forças conservadoras: “Feliciano, Malafaia e Cunha não nos representam”. O governador Geraldo Alckmin (PSDB) foi cobrado pela Associação sobre o caso de espancamento da travesti Verônica Bolina, no 2º DP (Bom Retiro), em São Paulo; o prefeito Fernando Haddad (PT) pelo corte de verbas destinadas ao patrocínio da Parada. Além disso, jovens religiosos se manifestaram contra a proposta da "cura gay", defendida por alguns dos principais representantes da bancada evangélica do Congresso.

Para Jean Wyllys, a Parada paulistana sempre foi política no sentido identitário, de visibilidade, ocupação e de afeto. O deputado do PSOL, no entanto, acredita que o evento poderia pensar outras abordagens: "a Parada já provou que pode colocar gente na rua, que é um evento de massa, mas agora chegou a hora dela se repensar em termos de estratégia de construção da cidadania", afirmou.

Dentre os participantes da caminhada estava o assistente de marketing Bruno Bispo (21), morador de Santo Amaro. Bruno considera como o maior desafio dos LGBTs o fim do preconceito e, embora afirme nunca ter vivenciado alguma situação desse tipo no mercado de trabalho, acredita que o preconceito a uma orientação sexual distinta da normativa ainda persiste e que a Parada é um importante instrumento de visibilidade aos gays, lésbicas e trans para superá-lo.

Já a drag Carla Rangel (foto), 33, pontuou quanto à falta de respeito como principal obstáculo na conquista de direitos civis para os gays e as pessoas trans, incluindo a própria comunidade: “não adianta brigarmos contra a homofobia se na classe LBGT não tem respeito. Não temos que brigar contra a homofobia, porque a gente já invadiu o mundo, a gente tem que brigar sim pelo respeito”, afirmou. 


Em geral, pouco se sabe que nas primeiras edições da Parada de São Paulo estiveram à frente além de ativistas da causa, os núcleos LGBT do PSTU e do PT, e militantes da CUT. O evento contou ainda com a participação de coletivos políticos e pessoas independentes que se organizaram em um bloco de intervenção com orientação declaradamente de esquerda para ocupar a festa nas ruas do centro de São Paulo.

A saída coletiva e organizada da luta LGBT
Amanda Palha, atuante no Bloco de Esquerda da Parada (composto majoritariamente por LGBTs da Conlutas, PCB, Psol e PSTU), diz que o movimento carece de um recorte classista mais forte, fazendo com que as LGBTs trabalhadoras não encontrem nenhum referencial deste tipo na Parada. "A ideia é construir um bloco de esquerda para oferecer outra perspectiva de militância, com um recorte anticapitalista para as LGBTs", disse. 

Amanda (foto) lamenta a hegemonia de ideias liberais, incapazes segundo ela de ir às raizes da opressão, no movimento LGBT: "a superação da LGBTfobia só é possível com a superação do capitalismo - este é o desafio”.


Além das pautas mais imediatamente ligadas aos direitos LGBT, o Bloco defende a desmilitarização da polícia, o rechaço à terceirização (PL 4330) e à atuação de Eduardo Cunha no Congresso.

Na visão de Dario Neto (foto), professor e integrante do Conselho Estadual LGBT, a Parada é um espaço para ser disputado. “Há setores dentro da construção, gente ligada ao mercado GLS que tem projeto de disputa pensando uma parada como o carnaval da Bahia. A parada nasceu desse embate de projetos", lembrou. Uma das propostas para a primeira edição era que ela terminasse no Mundo Mix, um espaço comercial, e setores da esquerda demandaram que o fim do evento se desse na Praça da República.


Dario Neto entende que é preciso qualificar a própria esquerda no sentido de compreender a importância da luta pelos direitos LGBT, pensando formas diferentes e criativas de fazer a disputa, tocando em pontos como a homotransfobia a partir de uma perspectiva de esquerda. Foi devido a ausência destes laços que Eduardo Pastrelo (25), geógrafo, optou por integrar o Bloco. Ele nos conta que sentia a necessidade de construir coletivamente uma mobilização em que a questão política estivesse colocada de forma mais evidente e concreta nas ruas durante a Parada. 

Danilo Bassi (26) compartilha da visão de que a luta LGBT não está isolada dos efeitos do regime econômico. Um dos episódios recentes que mais deixaram claras as contradições entre consumo e o reconhecimento das diferentes identidades de orientação sexual foi a polêmica publicidade de O Boticário para a campanha dos Dia dos Namorados. Nela, casais homoafetivos compartilhavam a cena entre casais héteros. Danilo tem reticências importantes: "é preciso entender que tudo isso é feito de uma forma racional pelo mercado. O capitalismo só quer pegar mais um nicho de consumidores e demonstra muito bem qual é este nicho, quando vemos propagandas ou novelas: geralmente são pessoas brancas que aparentam ser ricas. A publicidade quer captar esse grupo para determinados setores de luxo", alertou. 

Segundo as organizadoras e os organizadores do Bloco de Esquerda na Parada, o processo tende a continuar. A ideia é a formar uma frente de esquerda que atue no movimento LGBT para além da Parada do Orgulho LGBT.

Fonte: Carta Maior

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