quinta-feira, 23 de outubro de 2014

PESQUISA REVELA CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO PARA PALESTINOS APÓS A FUNDAÇÃO DE ISRAEL


Prisioneiros de guerra de 1948 a 1955 sofriam com miséria, falta de higiene, fome, doenças, trabalho forçado, tortura e tentativas de fuga punidas com execuções

De Paris

Décadas a fio, foi um segredo de polichinelo. Palestinos detidos em campos de concentração ou de trabalho sob o comando de judeus sionistas, entre o fim dos anos 1940 e 1955, contaram aos mais jovens as agruras vividas: miséria, falta de higiene, fome, doenças, trabalho forçado, tortura, tentativas de fuga punidas com execuções. No fim do mês passado, no entanto, fatos vieram à tona, abundantemente documentados. O jornalista Yazan al-Saadi escreveu artigo publicado pela versão inglesa do diário Al-Akhbar sobre a existência de pelo menos 22 campos de concentração e de trabalho, grande parte deles em território que passara a se chamar Israel, entre 1948 e 1955. Milhares de palestinos foram mantidos nos campos nas mais terríveis condições. Al-Saadi apoia-se na pesquisa realizada pelo historiador Salman Abu Sitta, e pelo coautor Terry Rempel.

Abu Sitta, especializado em refugiados palestinos, publicou o resultado de sua pequisa na edição de setembro do Journal of Palestine Studies. Ao longo de mais de duas décadas de investigação, Sitta, 76 anos, debruçou-se sobre quase 500 páginas de relatórios do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (ICRC). Redigidos por delegados da ICRC, como Emile Moeri, logo após a Guerra de 1948-1949, que deu aos sionistas o Estado de Israel, os documentos são indispensáveis a uma avaliação da forma sub-humana a que foram submetidos os detidos.

Campos de concentração cercados de torres, rodeados por arame farpado, sentinelas nos portões, lembram aqueles famosos na Polônia. Ali, homens entre 16 e 55 anos eram tratados com a maior severidade, tidos como prisioneiros de guerra. De acordo com uma nota de novembro de 1948 no diário de David ben Gurion, o mítico líder sionista, havia perto de 9 mil prisioneiros de guerra em campos naquele ano. Isso, claro, sem contar crianças e idosos. Difícil entender por que somente agora esse tema trágico foi “descoberto”.

Abu Sitta, de todo modo, incumbe-se de expor a razão ao diário Al-Akhbar: “Muitos desses palestinos detidos viam Israel como um inimigo cruel, e por conseguinte achavam que trabalhar nos campos de concentração não era nada em comparação com a outra maior tragédia, a Nakba. A Nakba ofuscou tudo”. A Nakba (desastre), durante a Guerra de 1948-1949, refere-se ao êxodo de milhares de árabes, expulsos de seus lares, na Palestina.



Embora Magid Shihade, professor da Universidade de Birzeit e no momento professor visitante da Universidade da Califórnia em Davis, reconheça a enorme contribuição oferecida pela pesquisa de Abu Sitta à história palestina, não espera estudos mais aprofundados sobre os campos de concentração. “Você verá. Mesmo quando esses fatos se tornam conhecidos por todos, e documentados por historiadores, serão devidamente ofuscados.” E mais: “O conhecimento não basta, o poder de Israel e dos EUA de bloquear qualquer ação com base na existência de campos de concentração, ou outras tragédias anteriores ou posteriores, é enorme”. Observa ainda Shihade: “E a mídia ocidental raramente compartilha essas histórias, e por isso a maioria dos estudiosos não terá acesso a elas”.

Shihade tem razão, em parte. O Al-Akhbar publicou o artigo de Al-Saadi. E CartaCapital segue a mesma linha. O artigo noJournal of Palestine Studies terá alguma repercussão. Resumiu Abu Sitta para o Al-Akhbar: “Quanto mais você cavuca surgem mais crimes jamais reportados e desconhecidos”. Segundo ele, a Cruz Vermelha concordou em abrir os arquivos porque foi acusada de ter colaborado com os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Em suas viagens aos arquivos da instituição em Genebra, Sitta descobriu cinco campos de concentração administrados por israelenses, quatro definidos como “oficiais”. O quinto campo, este de trabalho, chamado Umm Khalid, e talvez por esse motivo e mais pelo fato de ter sido fechado no fim de 1948, jamais foi tido como “oficial”.

Sitta procurou os detidos citados pela Cruz Vermelha. Obteve 22 depoimentos, todos a comprovar a existência de campos de concentração e de trabalho. Shihade confirma que tudo era sabido e ao mesmo tempo ignorado. “Os documentos compilados pelos funcionários da Cruz Vermelha acabaram por corroborar o que os palestinos diziam há décadas.”

Declarou um detido em Umm Khalid entrevistado por Abu Sitta e Rempel: “Tínhamos de cortar e transportar pedras todos os dias em uma pedreira. Refeições diárias: uma batata na parte da manhã e metade de um peixe seco à noite. Espancavam quem desobedecesse ordens”. Após entrevistar vários ex-detidos, ficou claro para Abu Sitta e Rempel que havia pelo menos mais 17 campos de concentração “não oficiais”. Gravíssimo o fato de a vasta maioria se encontrar dentro das fronteiras estabelecidas pela ONUpara a existência do Estado judaico.



Um relatório do delegado Emile Moeri, redigido em janeiro de 1949, revela as vicissitudes sofridas pelos palestinos. Crianças de 10 a 12 anos, idosos com tuberculose, morriam. E as autoridades judias não permitiam que essas pessoas fossem tratadas em hospitais árabes. Mais: guardas atiravam em prisioneiros de guerra, muitas vezes com a desculpa de que tentavam fugir. Há quem diga que a Cruz Vermelha resolveu se “adaptar” ao regime israelense para “proteger” os direitos civis mínimos dos palestinos. Na verdade, a Cruz Vermelha mostrou-se conivente com a brutalidade dos israelenses, impunes após violarem os direitos humanos.

Como escreve Al-Saadi: “Esse estudo (...) mostra os fundamentos e o início da política israelense em relação a civis palestinos a envolver sequestros, prisões e detenções”. Mais: “Essa criminalidade perdura até hoje”. Por sua vez, Abu Sitta diz aCartaCapital: “E visto que os EUA e o Reino Unido implantaram Israel em solo palestino, também sabiam dos campos e das perseguições. Emenda: “E até hoje, eles apoiam Israel”.

Fonte: Carta Capital

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