segunda-feira, 11 de março de 2013

A VENEZUELA SEM CHÁVEZ


Em uma publicação da ONU intitulada Habitat, lançada em agosto do ano passado, há números e gráficos comparativos do “estado das cidades na América Latina e no Caribe”. O relatório trata de muitos temas que interessam a pesquisadores, gestores e moradores de grandes cidades. Seus números ajudam a entender também por que o povo da Venezuela está nas ruas chorando por Chávez.

As análises contidas no documento da ONU têm qualidade. São comparações internacionais que possuem grande utilidade.  Caracas e as cidades da Venezuela apresentam números que despertam interesse:

1) Em 1999, a Venezuela tinha 49% da sua população urbana em situação de pobreza e indigência. Em 2010, este percentual foi reduzido para 28%.

2) Entre 26 cidades selecionadas, o menor índice de Gini entre seus habitantes é o de Caracas, que é inferior a 0,40. No Brasil, é 0,5. Este índice mede a desigualdade de renda.

3) Nas cidades da Venezuela, mais de 80% das residências são ocupadas por seus proprietários. Na Colômbia, este número é inferior a 50%. A Venezuela é a melhor neste quesito; a Colômbia, a pior.

4) Na América Latina e no Caribe, a proporção de população urbana que tem saneamento está entre 80 e 85%. Na Venezuela, está próxima de 95%. Na Venezuela, 90% da população urbana recebem água encanada.

5) De 21 países selecionados, a maior cobertura de coleta de lixo urbana ocorre na Venezuela. A pior está no Paraguai.

6) Em 21 cidades selecionadas, mostra-se que o gasto médio mensal de um usuário regular de ônibus; em Caracas, é de 6% do salário mínimo. Em Buenos Aires, se gasta 5% e, em São Paulo e no Rio de Janeiro, 12%.
 
São esses números que os Jardins (em São Paulo) e o Leblon (no Rio) desconhecem. Nem fazem qualquer esforço para conhecê-los. Preferem ser informados pelos veículos que trazem conforto interno e energia para combater as possibilidades de mobilidade social – seja aqui, seja na Venezuela. Sãos os mesmos veículos que fazem piada com a dor do povo venezuelano.

Por:João Sicsú - Carta Capital

Professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi diretor de Políticas e Estudos Macroeconômicos do IPEA entre 2007 e 2011.

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