Com apoio de helicóptero, tropa de choque e
cavalaria, a prefeita de Cubatão, Márcia Rosa (PT), e o Governador do Estado,
Geraldo Alckmin (PSDB), expulsaram do Bolsão 9 as vítimas da enchente que
atingiu o litoral de São Paulo em 22 de fevereiro. Uma operação de guerra,
disposta a lançar mão de toda a repressão em caso de resistência, que aconteceu
no final da madrugada desse dia 14 com a presença de 500 agentes do Estado –
entre policiais militares e funcionários da Prefeitura.
Sem ter
onde morar e a quem recorrer, cerca de 600 pessoas se viram forçadas, logo após
a enchente que desabrigou mais de 1.500 moradores, a ocupar as unidades do
conjunto habitacional Parque dos Sonhos, o Bolsão 9. Desde então, os governos
municipal (PT) e estadual (PSDB) colocaram as “diferenças” de lado e juntaram
esforços para efetuar a reintegração de posse da área, reservada para receber
moradores das encostas da serra.
O
conjunto é fatiado entre os dois poderes, sendo que dos 489 imóveis ocupados
(de um total de 770), 26 pertencem à prefeitura e 463 à CDHU (Companhia de
Desenvolvimento Habitacional e Urbano), do Governo do Estado. A divisão também
influenciou a “sorte” de alguns e o “azar” de outros. A maioria daqueles que
estavam em apartamentos da Prefeitura foi transferida para o Ginásio Castelão,
onde já se amontoam 109 pessoas, e para a Associação Cubatense de Defesa dos
Direitos das Pessoas Deficientes (ACDDPD).
As
famílias que estavam nos apartamentos do Governo do Estado não tinham para onde
ir, com destino incerto. Sem abrigo, algumas pessoas se dirigiram até o
Castelão, mas encontraram as portas fechadas. “Cheguei aqui e disseram que não
podia entrar mais ninguém. Estou sem ter para onde ir”, afirmou o montador de
andaimes Vladimir Costa Belo, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo. Ele e
a esposa, grávida de seis meses, foram recusados pela prefeitura porque o local
“não teria espaço para receber mais pessoas”.
Uma das
mulheres expulsas do Bolsão 9, a pensionista Maria Aparecida Souza, denunciou a
quebra de uma promessa do Poder Público ao Jornal A Tribuna. “Foi combinado que
a desocupação seria feita às 10h, e todos, sem exceção, teriam benefícios. Nada
disso foi cumprido. Luto pelos meus filhos e netos. Se eu morrer hoje, não tem
nada, não. Não temos para onde ir, nem um teto para dormir. Tenham piedade”.
Tropa de choque expulsa vítimas da chuva.
Como solução, os governantes que nada fizeram para
evitar o caos que se abateu sobre essas famílias, sugerem o deslocamento para a
casa de parentes, sem nem mesmo saber se os desabrigados contam com familiares
na Região ou se esses familiares têm condições de receber essas vítimas.
Em entrevista ao Jornal A Tribuna, publicada
no dia 25 de fevereiro, Márcia Rosa classificou a ocupação do Bolsão 9 como uma
“ousadia sem limites”. E completou: “Não adianta querer invadir, que vai sair.
(…). Quem invadiu vai sair, vai responder processo, porque não aceitamos esse
tipo de atitude.”
Mas essa política criminosa não é uma exclusividade
do governo do PT. Geraldo Alckmin deu declarações de que a população cubatense
não ficaria desamparada, mas até agora nada fez. Para ajudar as famílias de
Cubatão, propõe como solução um auxílio-moradia de R$ 400,00 que não contempla
até o momento nem metade dos desabrigados. Perguntamos ao Governador, que nunca
foi vítima da especulação imobiliária que atinge a Baixada Santista: você
conseguiria alugar uma residência com condições dignas de habitação para a sua
família com R$ 400 mensais? A única ação de Alckmin até agora foi participar da
ação que expulsou os desabrigados do Bolsão 9.
O que a
prefeitura esquece é que os trabalhadores vivem nas áreas “coincidentemente”
mais afetadas pelas chuvas e depois são obrigados a ocupar prédios vazios ou
abandonados por culpa dos governantes, que não oferecem alternativas seguras de
habitação. Os baixos salários, o desemprego e a pobreza, aliados à especulação
imobiliária, obrigam a população pobre a ocupar os terrenos mais baratos, como
as encostas e vales de rio. Esse é um processo que vem se intensificando na
Baixada Santista e a resposta dos governantes têm sido a repressão, a
criminalização da pobreza e a expulsão desses trabalhadores para regiões ainda
mais afastadas e carentes de serviços público.
Por isso, os trabalhadores, as trabalhadoras e o
povo pobre de Cubatão não devem depositar qualquer confiança no PT e no PSDB.
Ambos se igualam em irresponsabilidade social e demagogia.
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