A cada duas horas
uma mulher é morta no Brasil.
Tamanha violência
faz o país ocupar a 7ª posição no número de assassinatos, entre outras 84
nações. Diante desta sombria constatação, fica difícil transformar o 8 de março
em um dia de festas, bombons e flores. Mas tão pouco serve como data para
lamentações. O dia que homenageia as 129 operárias de uma fábrica de tecidos
nos Estados Unidos é, antes de tudo, um dia de combate ao machismo e à
exploração do capitalismo.
Pensando
nisso, centenas de mulheres trabalhadoras cobriram de vermelho e lilás as ruas
do centro de Natal na última sexta-feira. Numa belíssima manifestação pública,
que fechou uma das faixas da Av. Rio Branco, uma das principais vias da cidade,
elas denunciaram a violência machista e a falta de políticas efetivas de
proteção às mulheres. “Feministas contra o machismo! Feministas
contra o capital! Feministas contra o racismo, contra o terrorismo neoliberal!”,
cantavam.
A
manifestação foi organizada por grupos feministas, sindicatos, entidades
estudantis, movimentos populares e pequenos partidos (PSTU e PSOL). O
protesto expressou a unificação na luta de diversas organizações,“Esse ato unificado é muito importante. Mostra que a luta das
mulheres é conjunta com a de todos os trabalhadores e jovens”,
destacou a estudante Géssica Régis, da Assembleia Nacional dos Estudantes Livre
(ANEL)
O ato
político e cultural também reuniu muitos homens, mostrando que a união entre
trabalhadoras e trabalhadores é decisiva para combater a opressão que só
aprofunda a exploração do capitalismo. “Quem bate em mulher não é
covarde, e sim criminoso”, dizia um cartaz pintado pelo militante
João Henrique Galvão.
A
manifestação não poupou críticas à presidenta Dilma, à governadora Rosalba
Ciarlini e ao prefeito Carlos Eduardo por não investirem recursos suficientes
para garantir a segurança das mulheres trabalhadoras. No ano passado, sob a
gestão de Micarla de Sousa, a prefeitura aplicou menos de 0,05% do orçamento em
políticas de combate ao machismo. Este ano o percentual também é menor. “Precisamos de uma política que realmente traga mudanças, de
investimentos, de governos comprometidos com o fim da exploração e da opressão
capitalistas”, disse a assistente social Rosália Fernandes.
As
principais reivindicações do protesto exigiam a aplicação da Lei Maria da Penha
e a ampliação da proteção às mulheres, a suspensão dos projetos de reformas do
Código Penal, da Previdência e da legislação trabalhista, que visam retirar
direitos, e a legalização do aborto. A construção de creches em período
integral, casas-abrigo, delegacias especializadas e a reativação da Secretaria
da Mulher em Natal também foram reivindicadas. A luta das trabalhadoras
terceirizadas para não serem demitidas também foi destaque.
O ato
público ainda denunciou a ameaça da redução de direitos prevista no Acordo
Coletivo Especial (ACE), um projeto elaborado pela CUT e que o governo Dilma
pretende aprovar no Congresso. “O ACE vai atacar
principalmente as mulheres trabalhadoras, que já estão muito fragilizadas em
seus direitos. É uma vergonha que isso esteja sendo preparado pelas mãos do
governo de uma mulher”, denunciou a diretora do Sindsaúde, Simone
Dutra.
O mandato
da vereadora Amanda Gurgel (a professora que ficou conhecida por seu discurso) participou do ato, apoiando a construção do 8 de março
desde o início. Na mesma semana, a vereadora já havia realizado uma audiência
pública para debater o tema da violência contra as mulheres e as políticas de
proteção. Na ocasião, um grupo temático foi formado para elaborar projetos de
lei que possam ser apresentados pela professora.
No
protesto, Amanda Gurgel (PSTU) denunciou a falta de investimentos dos governos
e destacou que não basta ser mulher para realizar as mudanças necessárias.
“Faltam creches, casas-abrigo, delegacias especializadas, centros de
referências e emprego para as trabalhadoras. Sem isso, o discurso de libertação
das mulheres por parte dos governos não passa de demagogia. Não basta ser uma
mulher. É preciso ser uma mulher trabalhadora para saber das necessidades de
cada uma de nós”,
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