Dois fósseis aparentemente insignificantes --uma mandíbula e um
único dente-- acabam de ajudar os cientistas a traçar um quadro mais claro da
origem do grupo de primatas ao qual pertence o homem.
Ambos
os fósseis têm 25 milhões de anos. O primeiro representa o mais antigo hominoide,
ou grande macaco --animais como chimpanzés, gorilas, orangotangos e oHomo
sapiens. Já o segundo é o mais velho entre os macacos com rabo do Velho
Mundo, animais como babuínos e resos, por exemplo.
A pesquisa descrevendo os fósseis está na revista científica
"Nature" e tem como primeira autora Nancy Stevens, da Universidade de
Ohio (EUA). Os dois bichos viviam na Tanzânia, na África Oriental --região que
já é famosa por outros fósseis importantes para entender a evolução humana.
Para quem acha estranho que cacos tão diminutos sejam usados para
batizar duas espécies, é importante lembrar que, no caso dos mamíferos, as
características da mandíbula e dos dentes são muito típicas de cada animal,
ajudando a inferir não apenas sua dieta como também, em geral, suas relações de
parentesco.
Em entrevista à Folha, Stevens contou que o maior dos
bichos, o hominoideRukwapithecus fleaglei, devia ter uns 12 kg. É mais
difícil estimar o tamanho do outro macaco, o Nsungwepithecus gunnelli,
já que ele é só conhecido com base num dente, mas ele devia ter um pouco menos
do que isso.
Os bichos viviam num ambiente um tanto apocalíptico: montanhas
vulcânicas ladeavam uma região semiárida, na qual também havia pântanos e
lagos. Na época, já estava começando a surgir o imenso vale que caracteriza a
África Oriental de hoje, formado pelo afastamento de duas placas tectônicas
--era isso o que gerava o vulcanismo na região.
E essa pode ser uma das peças do quebra-cabeças para explicar por que,
afinal, os macacões ancestrais do homem surgiram nesse momento, separando-se
dos macacos com cauda.
"Antes, havia ali inúmeros primatas relativamente pequenos",
conta Stevens. "Milhões de anos mais tarde, quando a África se encontra
com a Ásia [antes, o continente era uma ilha], surgem primatas de maior
tamanho, e uma das ideias é que eles tivessem evoluído para se adaptar à
competição com a fauna asiática que invadiu a África."
No entanto, o notável a respeito das novas espécies é que elas já são
grandinhas. "Isso pode indicar que a formação do vale e dos vulcões na
região criou ambientes heterogêneos, que favoreceram a diversificação dessas
espécies", diz o australiano Eric Roberts, geólogo da Universidade James
Cook que é coautor do estudo. "Mas ainda não temos certeza disso."
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