Segundo o engenheiro de recursos hídricos Marco Palermo, no entanto, há quase duas décadas estudos apontam que o colapso do Cantareira era iminente.
Em alerta devido aos baixos níveis de seus reservatórios, São Paulo tenta buscar medidas emergenciais que garantam o abastecimento de água do estado. O imbróglio é complexo, explica o engenheiro de recursos hídricos Marco Palermo, doutor pela Escola Politécnica da USP, e só pode ser solucionado com grandes obras de infraestrutura e ampliação da capacidade existente - o que levaria de cinco a dez anos de investimentos.
O governador Geraldo Alckmin declarou, no início de março, que o estado passaria por um “remanejamento de água dos sistemas Alto Tietê e Guarapiranga para áreas normalmente abastecidas pelo Sistema Cantareira”. Em nota, o Departamento de Águas e Energia Elétrica chegou a afirmar que foi orientada a implantação do racionamento, informação rebatida por Palermo: “o que temos em São Paulo já é um racionamento.”
Ele explica que regiões como Guarulhos, que não têm um sistema próprio de abastecimento e que compram a água no atacado, já estão sendo atingidas diretamente pela falta de água. “Guarulhos vai ter que, por sua conta, começar a penalizar os consumidores fazendo um rodízio real, fornecendo água dia sim dia não”, explica. Regiões localizadas em zonas altas sofrem ainda mais: por causa da dificuldade maior no bombeamento, podem demorar a receber a água mesmo em dias em que o sistema esteja normalizado.
A Sabesp afirma que a situação é inédita. Nos últimos 84 anos a situação nunca foi tão delicada, declarou a empresa. Segundo o engenheiro de recursos hídricos, no entanto, há quase duas décadas estudos apontam que o colapso do Cantareira era iminente. A situação climática, disse, apenas escancarou a crise.
Palermo era diretor técnico e financeiro da Agência da Bacia do Alto Tietê em 2002. Na época, desenvolveu um plano de gestão para a ampliação do sistema de abastecimento de águas de São Paulo. A solução apontada, já à época, seria expandir o complexo, incluindo mais mananciais na sua fonte de abastecimento. Ele afirma que chegou a receber para análise projetos que anexavam as nascentes do Vale do Ribeira ao complexo do Cantareira. Segundo Palermo, essa nunca foi uma prioridade do governo.
“Hoje São Paulo precisa de uma quantidade de água que demanda, praticamente, um novo sistema da Cantareira. É um conjunto de investimentos que requer uma política de atuação de grande magnitude”, afirma. “Daqui a alguns anos, podemos enfrentar permanência do rodízio. Haverá restrição para todos os consumidores por tempo indeterminado."
“Todas as obras dessa grandeza envolvem não só as estruturas de obras pesadas, mas também conflitos que precisam ser resolvidos com outras bacias e também com os aspectos ambientais. Qualquer alternativa é uma alternativa de desgaste político, onerosa, que requer financiamento da concessionária. E o sistema demora pra entrar em operação, ou seja, o retorno também demora. Por esses motivos a Sabesp optou por manobrar isso até agora.”
Além da Bacia do Ribeira, a Bacia do Paraíba também seria uma saída viável para aumentar o poder de vazão do complexo.
A concessão. Em 1974, quando assumiu a operação do Sistema Cantareira, a Sabesp recebeu um complexo de infraestrutura pronto para ser operado, construídos por outras grandes concessionárias, como a empresa Light, que construiu a represa Billings e a de Guarapiranga.
“Quando a Sabesp foi criada, todo o aparelho estava concluído ou em estágio avançado de construção. Ela capitalizou e se utilizou desses investimentos do estado e não teve ônus nesse processo de construção. Agora é a hora de ela abraçar essa política de investimento maciço.”
Fonte: Carta Capital
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